Império musical: como Goiânia e o Sertanejo se afinaram em uma dupla de sucesso
Produtores musicais relatam a transformação do gênero ao longo do tempo, que tem como berço e morada a capital goiana
‘A cada esquina, uma dupla sertaneja’. A expressão, popular entre os moradores de Goiânia, concentra um dos traços culturais mais marcantes da cidade: a formação de novos artistas do gênero musical mais ouvido do Brasil.
Prestes a completar 89 anos na próxima segunda-feira (24), a cidade tornou-se um polo não só para artistas sertanejos nascidos em Goiás, como virou chamariz para aqueles de outros estados, que enxergam na capital a maior oportunidade para fazer carreira. É o que narra o produtor musical Júnior Valadão, filho da artista e ícone do sertanejo raiz Célia Valadão.
“Goiânia é uma cidade democrática e tem espaço para todo mundo. Se o cara sabe tocar e cantar bem, faz composição, ele encontra o seu lugar. A maioria vai começar de baixo, tocando em barzinho e esse é o charme da cidade – encontrar um artista diferente em todo canto”, afirma.
Júnior, que tem 15 anos de carreira na produção musical, já fez parte das estatísticas e cantou com a irmã na infância. Os dois resolveram priorizar os bastidores da indústria e, nesse tempo, viram o gênero ganhar o país. “O estilo foi agregando outros instrumentos e chegando a todas as classes. Os artistas se tornaram exemplos não só na música, mas no jeito de vestir e de viver”, observa.
Hoje, a capital é moradia de famosos como Gusttavo Lima e Israel Novaes, que deixa o eixo Rio-São Paulo em busca de qualidade de vida aliada a estrutura. “Os produtores e fornecedores estão aqui, e tem o bônus de ser uma cidade mais tranquila e ‘família’. E o mercado de Goiânia supera o sudeste e tem condições de fazer produções com qualidade internacional, para ninguém colocar defeito”, diz.
Autossuficiente
Para o produtor musical Anselmo Troncoso, que ficou conhecido por ‘Rei das Lives’ após produzir as apresentações de Gusttavo Lima, Jorge e Mateus e Marília Mendonça durante a pandemia, Goiânia foi essencial para elevar o sertanejo a outro patamar.
“Aqui se criou um novo modelo de negócios que mudou tudo. Em vez de buscarem contrato com terceiros, os próprios artistas começaram a criar os seus eventos e isso, além de trazer maior rentabilidade, os aproximou dos fãs e cativou um público mais apaixonado, que só se vê na capital”, conta.
Troncoso, porém, lamenta o desinteresse do poder público em criar museus, eventos ou outros tipos de homenagens institucionais ao setor. “Certamente é uma deficiência e não dá para entender o porquê de estarem desperdiçando um potencial que já está mais que provado”, opina.