Na contramão da crise, livrarias anapolinas revelam ‘segredo da resistência’
Pandemia foi o período mais desafiador do setor na cidade, que aposta em novos serviços e tradicionalidade para manter as portas abertas
Em meio à crise no mercado editorial e os baixos índices de leitura, livrarias de Anápolis se reinventam para continuar com as portas abertas. O grupo, cada vez mais reduzido, é sustentado por empresários de longa data na área.
No Centro da cidade duas seguem resistindo ao tempo: as tradicionais Marília e Livraria Cultural, no segmento há décadas.
Ao Portal 6, o proprietário da Livraria Marília há 50 anos, Alonso Lopes, relatou que a pandemia trouxe incertezas — já que precisou fechar por alguns dias, mas aos poucos a má fase foi superada.
Apesar da queda no cenário geral, ele alega ter percebido um aumento no fluxo do estabelecimento após o período crítico da quarentena.
No entanto, lamenta o fato de Anápolis ainda sofrer com a escassez de loja do segmento. A maioria das que existiam antes na cidade se tornaram papelarias.
“Hoje Anápolis até tem muitas papelarias, mas livrarias mesmo são escassas. Do meu tempo não tem mais nenhuma”, afirmou.
Há quem trabalha com as duas coisas e essa foi uma forma de recalibrar o negócio, caso da Livraria Cultural.
José Eustáquio, proprietário dela, contou à reportagem que a loja vive duas fases ao longo ano. A de maior demanda, no início dos semestres, é a dos livros didáticos. A outra, porém menor, mas contínua, é a busca por livros literários.
Curiosamente, o empreendedor comenta que eles já funcionam há 31 anos e que a escolha do nome foi apenas uma coincidência, e não uma referência à famosa rede paulista.
Além disso, também pontuou como foi possível manter as portas abertas durante a pandemia, sem sofrer com grandes prejuízos.
“Começamos a vender online, fazer delivery. Atualmente, oferecemos também uma boa variedade em vinis e CD’s para colecionadores”, detalhou.
O panorama da área
Após a sede da Livraria Cultura, na Avenida Paulista, uma das mais tradicionais do Brasil, declarar falência em 2023, consolidou-se uma crise generalizada no mercado editorial.
Para se ter uma ideia, além dela, a francesa FNAC e a luso-brasileira Saraiva também enfrentam o mesmo cenário, encerrando suas atividades na maioria das cidades pelo país.
Segundo Arnaldo Salu, proprietário da livraria e antiquário Mistura Caipira, fundada há seis anos na Avenida Mato Grosso, “as livrarias físicas estão morrendo, aqui em Anápolis tão tem mais nenhuma. A maioria são sebos, poucas trabalham com um grande volume de livros novos”.
Ele também contou que a última livraria em Anápolis foi a Nobel, localizada próxima à Praça Dom Emanuel – que seguia o modelo tradicional, com café, sofás e só livros novos.
Atualmente, ele decidiu se reinventar para se manter no mercado e faz entregas online e mantém um antiquário, oferecendo relíquias e antiguidades.