Superlotação, falta de leitos e demanda excessiva transformam UPA de Anápolis em “zona de guerra”
Unidade, que é o único pronto-socorro que atende Anápolis e outros 23 municípios da Região do Pirineus, teve ainda mais sobrecarga com a chegada da epidemia de dengue
A superlotação diária do único pronto-socorro que atende Anápolis e mais 23 municípios da Região do Pirineus dá a sensação de que ali se é, na verdade, um hospital de “zona de guerra”.
A comparação não é feita de forma banal. Com todos os leitos disponíveis na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Dr. Alair Mafra Andrade – mais conhecida como UPA da Vila Esperança – ocupados, e sem previsão de liberação, é basicamente impossível caminhar pelo interior do local sem se deparar com uma internação improvisada.
O Portal 6 esteve no local em dias diferentes nas últimas duas semanas e encontrou a mesma situação desesperadora. A reportagem também buscou saber as causas da superlotação.
O local não possui espaço e condições técnicas para internar pacientes por longo períodos. Isso porque a função de uma UPA é prover a elucidação diagnóstica ou estabilização clínica.
Caso a situação não seja resolvida no período de um dia, o paciente deveria ser encaminhado para internação em serviços hospitalares de retaguarda.
É algo que não existe mais na rede desde o fechamento do Hospital Municipal Jamel Cecílio.
Com a crescente da epidemia de dengue que afeta a cidade, assim como tantas outras no país no atual momento, ele faz falta.
Improvisos
Por conta da falta de espaço, a UPA improvisa o que pode para comportar, no limitado espaço que possui, a quantidade de pessoas que necessitam de atendimento especializado.
A falta de estrutura e recursos levou a situação ao extremo da unidade ter de “pedir emprestadas” as macas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), quando deixam os pacientes no local.
Demora no atendimento
Quem chega por meios próprios à UPA tem de suportar também longas horas para serem plenamente atendidos.
Além da estrutura, a unidade não tem equipes médicas suficientes para dar conta da demanda que só aumenta.
Conforme apurado pelo Portal 6, tal morosidade pode ser justificada, primeiramente, pelo contrato firmado com a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa). O documento prevê um repasse de verbas referente ao atendimento de 12 mil pessoas por mês.
Porém, pela média dos últimos meses, a unidade teria atendido cerca de 16 mil pessoas mensalmente, resultando em uma diferença de 4 mil indivíduos – que a UPA não possui a verba necessária para atender.
A segunda razão tem a ver com o público que busca atendimento no centro médico, quando, na verdade, seria teoricamente melhor atendido em uma das dezenas de Unidade’s Básica’s de Saúde (UBS’s).
O local opera com a “Escala de Manchester”, que separa os pacientes com pulseiras coloridas. Casos mais leves, como uma dor de cabeça fraca ou um enjôo leve, recebem pulseiras azuis ou verdes, sendo normal levarem mais tempo para serem atendidos – dado que a prioridade são os casos mais urgentes.
Assim, não é incomum ver pacientes na triagem, sempre lotada, aguardando por horas e horas até serem chamados para um consultório.
A consequência disso é que, com tantas pessoas, não há como avaliar cada particularidade e enviar para o médico de forma rápida e eficiente.
Enquanto um profissional avalia alguém por conta de uma dor no pé – que poderia ser resolvida na UBS, pacientes mais graves aguardam para passar na triagem, por exemplo.
Aumentar a capacidade de atendimento da UPA seria parte da solução, uma vez que dificilmente a população sem a conscientização necessária deixaria procurar a unidade.
É algo que já foi demandado pela organização social que administra o local à Semusa.
Epidemia de dengue
Como se a situação já não fosse caótica o suficiente, o crescente número de casos de dengue no município agravou ainda mais a situação calamitosa da UPA.
O maior impacto foi na demanda por exames de sangue, que subiu quase pela metade no último mês e fez a recepção do centro médico ficar ainda mais cheia.
Tempo de espera
Alguns dias após a primeira visita da reportagem à unidade, a Semusa tornou público por meio das redes sociais da Prefeitura de Anápolis uma série de medidas para “resolver” a situação.
Em um vídeo, o prefeito Roberto Naves (Republicanos) chegou a dizer que a média de espera por atendimento no local seria de 1h15, tempo que segundo ele estaria bom.
A gestão municipal afirmou ter melhor equipado e preparado as UBS’s da cidade a fim de, caso a concentração nas UPA’s excedesse o limite, os pacientes seriam encaminhados, em uma van do município, para outra unidade.
Por isso, o Portal 6 esperou uma semana para confirmar in loco o que haviam anunciado. Infelizmente, na segunda visita, o hospital continuava da mesma forma: lotada e com pacientes esperando longas horas para serem atendidos.
Todos também desconheciam a prometida van que seria dispobibilizada para levar pacientes com suspeita de dengue para outras unidades.
*Colaborou Caio Henrique e Danilo Boaventura