Um ano após desabamento de rampa, vítimas do Festival Rap Mix convivem com traumas e buscam justiça: “foi como se nunca tivesse acontecido”

Feridos no acidente, ocorrido no Estádio Serra Dourada, tiveram graves sequelas, como fraturas na coluna e até traumatismo craniano

Augusto Araújo Augusto Araújo -
Estrutura de rampa se soltou durante Festival Rap Mix, em Goiânia, deixando 75 feridos. (Montagem: Reprodução)

Quase um ano após o desabamento de uma rampa no Festival Rap Mix, em Goiânia, as vítimas do acidente ainda seguem em busca por Justiça.

Ocorrida no dia 09 de julho de 2023, no Estádio Serra Dourada, a queda deixou 75 pessoas feridas, sendo que algumas ficaram em estado grave e com sequelas.

Dentre elas, está Letycia Oliveira Gonçalves, de 24 anos. Ela fraturou e rompeu os ligamentos da vértebra T12, precisando colocar seis parafusos na coluna. Desde então, a vida dela tem sido uma luta, com dores tão intensas que exigem medicamentos fortes.

“Sinto dores todos os dias. Quando esfria dói bastante. Eu também tenho que usar sapatos ortopédicos, não consigo dirigir distâncias longas como antes, meu lado direito do corpo trava”, disse ao Portal 6.

Além disso, a jovem explicou que ficou com a locomoção limitada e que tem dificuldades para atender no salão de beleza dela. “Eu atendia cerca de cinco clientes de cílios seguidas, hoje só consigo duas e olhe lá”, desabafou.

Letycia Oliveira, de 24 anos, precisou colocar pinos na coluna após acidente no Rap Mix. (Montagem: Arquivo Pessoal/ Letycia Oliveira Gonçalves)

As sequelas psicológicas também se tornaram uma constante na vida de Letycia. Isso porque ela tem crises de choro recorrentes quando relembra do ocorrido.

A esteticista explicou que chegou a ter contato com a organização em um primeiro momento. Mas quando o caso “esfriou”, nunca mais houve retorno.

“Eles não me indenizaram, foi como se o acidente nunca tivesse acontecido. Não tive condição para fazer todas as fisioterapias e eles nunca pagaram. Falaram que pagaria e nada. Tive que me endividar e deve ter um ou dois meses que terminei de pagar as coisas que devia do acidente”.

Impunidade 

Outra vítima que apontou a falta de comunicação com os responsáveis pelo Festival Rap Mix foi Thatielli Pereira, de 34 anos.

Ela revelou que teve de ficar 90 dias sem poder andar, após sofrer fratura no tornozelo – as quais ainda proporcionam dores até os dias atuais. Além disso, a trabalhadora autônoma teve de operar o nariz, quebrado na queda.

“Mas de todos os males, o pior é o psicológico. Tenho pesadelos sempre, caindo, com muita gente, em desespero. Tá me atrapalhando em tudo. Não consigo mais dirigir”, detalhou.

Ela foi mais uma das vítimas que não viu sequer um centavo de indenização, mesmo após ter entrado na Justiça contra as empresas organizadoras do evento.

Thatielli Pereira, horas antes do acidente no Festival Rap Mix. (Foto: Arquivo Pessoal/ Thatielli Pereira)

No acidente, ela quebrou o nariz e o tornozelo. (Foto: Acervo Pessoal/ Thatielli Pereira)

Consequências severas

Já o caso mais grave do acidente no festival de música foi o da estudante Giovanna Moreira Salerno, atualmente com 21 anos. Ela sofreu um traumatismo craniano grave, permanecendo internada no Hospital Estadual de Urgências de Goiás Dr. Valdemiro Cruz (HUGO) por 45 dias.

Ao Portal 6, a mãe dela, Lorena Moreira, explicou que a filha possui uma tetraplegia espástica e consegue andar com ajuda.

“Ainda não consegue formar frases, mas vai conseguir. A recuperação é lenta, mas desde o início minha filha é um milagre de Deus. Como os médicos dizem, são passo de formiguinha. Continuamos vencendo”, complementou.

Lorena também explicou que o processo de recuperação de Giovanna envolve tratamento com fisioterapeuta, fonoaudióloga e psicólogo.

Giovanna Moreira Salerno, de 21 anos, teve sérios ferimentos em decorrência do acidente. (Montagem: Reprodução/ Redes Sociais)

Inquérito 

Em nota, emitida nesta terça-feira (02), a Polícia Civil (PC) informou que o inquérito referente ao Festival Rap Mix foi concluído e encaminhado ao Poder Judiciário no mês de abril.

Na ocasião, foram indiciadas oito pessoas pelos crimes de lesão corporal culposa. Conforme revelado pelo jornal O Popular, dentre eles estão:

  • um engenheiro e um arquiteto, que atestaram a segurança da rampa, mesmo com a estrutura tendo sido montada de forma improvisada;
  • um projetista, responsável pela projeção dos locais de montagem;
  • um intermediador de contrato, responsável por repassar as informações ao engenheiro, mesmo sem capacidade técnica.
  • quatro coordenadores da equipe de segurança que prestava serviço no local.

Vale destacar que nenhuma das empresas responsáveis pela organização do evento foram indiciadas após a conclusão do inquérito.

 

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