Com superlotação, pacientes do Heana esperam até uma semana por atendimento especializado

Ao Portal 6, mulher apontou que ainda é impedida de sair livremente de unidade de saúde

Augusto Araújo Augusto Araújo -
Heana se encontra superlotado e pacientes estão acamados nos corredores da unidade. (Montagem: Arquivo Pessoal/Portal 6)

Dezenas de pacientes internados nos corredores com imobilizações nos braços, suportes ortopédicos nas pernas e deitados em macas sujas. Parece até uma cena de guerra, mas esse é cotidiano vivenciado por pessoas que precisam, nos últimos dias, de atendimento no Hospital Estadual de Anápolis Dr. Henrique Santillo (HEANA).

Ao Portal 6, uma denunciante, que pediu para não ser identificada, enviou vídeos onde é possível conferir uma situação caótica dentro do hospital superlotado.

Nas imagens, a secretária, de 33 anos, mostra várias pessoas espalhadas pelo hospital, muitos posicionados em macas emparelhadas lado a lado.

Ao conversar com outros pacientes, alguns deles revelam que estão esperando há cerca de quatro dias e, outros, até mesmo uma semana aguardando atendimento especializado.

À reportagem, a denunciante afirmou que deu entrada na unidade de saúde no sábado (17), como acompanhante da mãe dela, de 56 anos. A mulher estaria sofrendo dores na vesícula, necessitando de atendimento urgente.

“A cirurgia da minha mãe é arriscada, pois teve alteração no eletrocardiograma. Estamos esperando um cardiologista vir cá, olhar, para ver se vai ter vaga na UTI ou enfermaria, para que possa realizar a cirurgia. Mas agora ela não está nem internada, está na área de risco, e ainda não conseguiu internação, porque não tem leitos”, detalhou.

Conversando com uma médica do hospital, ela ouviu a resposta de que a mãe poderia ser atendida nesta semana, ou seja, ainda no campo das possibilidades.

“Se a gente não for atrás, os médicos não conseguem nos atender, pelo caos que está aqui”, lamentou.

Locomoção restrita

Além disso, a denunciante apontou outra situação irregular que estaria acontecendo na unidade de saúde. Isso porque os acompanhantes e pacientes estariam sendo impedidos de entrar e sair livremente do HEANA.

“Eles não deixam [os acompanhantes] saírem para nada, nem para atender telefone, pedir um lanche. Eles não deixam sair sem pegar uma autorização com a assistente social do hospital. Aí você chega lá e a assistente social nunca está. Não deixam entrar nem sair, só se estiver no horário de mudança dos acompanhantes, que é das 20h às 21h, só. Não entra mais ninguém”, relatou.

Ao Portal 6, a advogada Caroline Regina dos Santos, da Comissão de Direito da Saúde da Ordem dos Advogados do Brasil em Goiás (OAB-GO) disse que é direito do paciente poder assinar o termo de consentimento e deixar o hospital a hora que quiser, de fato.

No entanto, a exigência desse tipo de documento para o acompanhante seria ilegal.

Resposta

A reportagem também entrou em contato com a Fundação Universitária Evangélica (FUNEV), responsável pela administração do HEANA, para entender essas irregularidades apontadas.

Em nota, a instituição destacou que a paciente do caso acima está recebendo tratamento com antibióticos e aguarda vaga para internação e programação cirúrgica.

“No momento está em tratamento clínico para colecistite com antibioticoterapia, e aguarda vaga de internação e programação cirúrgica. Vale destacar, que conforme informado, apesar de estar em uma maca no Pronto Socorro, ela recebeu e está recebendo o tratamento necessário, pois está sendo acompanhada pela equipe médica, realizou exames como de análises clínicas e tomografia e está tomando a medicação necessária”, destacou.

Além disso, o hospital apontou que possui 132 leitos de internação (sendo 51 de Unidade de Terapia Intensiva e 81 de leitos de enfermaria, além de 24 pontos de atendimento no Pronto Socorro). Porém, disse que, para além da lotação máxima destes leitos, a unidade possui uma média de 70 pacientes internados ou aguardando internação do Pronto Socorro, nos BOX de estabilização, BOX de observação, e em macas distribuídas pelos corredores.

“Entendemos que há uma insatisfação com o espaço físico, de pacientes internados em macas, porém isso ocorre, pois, a demanda é maior que a capacidade instalada do Hospital, e mesmo assim, mantemos a prestação do serviço aos pacientes que nos procuram e são do nosso perfil de atendimento”, argumentou o Heana na nota.

Sobre a questão do deslocamento dos acompanhantes, a unidade de saúde apontou que possui protocolos para o acesso nas instalações, de modo a manter a segurança dos internos. “Assim, o controle de entrada e saída de acompanhantes é monitorado e seguem horários específicos, o que deve ser respeitado”, afirmou.

Confira a nota na íntegra:

Em relação ao primeiro questionamento [a respeito do quadro clínico da mulher], informamos que a paciente deu entrada na unidade no dia 17/08/2024, com quadro clínico sugestivo de colicistite e pancreatite, após investigação inicial foi descartada a hipótese de pancreatite. No momento está em tratamento clínico para colecistite com antibioticoterapia, e aguarda vaga de internação e programação cirúrgica. Vale destacar, que conforme informado, apesar de estar em uma maca no Pronto Socorro, ela recebeu e está recebendo o tratamento necessário, pois está sendo acompanhada pela equipe médica, realizou exames como de analises clínicas e tomografia e está tomando a medicação necessária.
Em relação ao segundo questionamento [capacidade de atendimento do HEANA] temos a informar que o Hospital Estadual de Anápolis – Heana, e uma unidade, com suporte para atendimento de traumas graves, é referência para Anápolis, e de toda uma macrorregião com mais de 60 municípios, totalizando aproximadamente 1 milhão e 100 mil pessoas.
Em decorrência do alto volume de procura por atendimento, a unidade se encontra com pacientes no PS, nos BOX de estabilização, BOX de observação e em macas distribuídas pelos corredores, aguardando leitos de internação, isso para garantir que todos os pacientes sejam atendidos. Destaca-se que tal situação não ocorre apenas no Heana, tem sido frequente em unidades de urgência e emergência com porta aberta, inclusive em unidades privadas.
A justificativa para a superlotação é multifatorial, deve se levar em consideração a sazonalidade das doenças que acometem a população, o número de leitos  disponíveis na região, as limitações da rede de atendimento, que não envolve somente o HEANA, dentro outros fatores.
O HEANA possui 132 leitos de internação, sendo 51 de Unidade de Terapia Intensiva e 81 de leitos de enfermaria, além de 24 pontos de atendimento no Pronto Socorro, porém além da lotação máxima destes leitos, a unidade, nos últimos meses, possui uma média de 70 pacientes internados ou aguardando internação do Pronto Socorro, nos BOX de estabilização, BOX de observação, e em macas distribuídas pelos corredores. Destaca-se que se o HEANA não os atendesse, acima da sua capacidade instalada, eles poderiam não ter atendimento em outra unidade pública, trazendo um desfecho crítico ao paciente.
Não há de se falar em precariedade no atendimento, visto que o HEANA, diante da atual situação fez o redimensionamento de sua equipe, bem como dos seus processos internos e não há falta de insumos, medicações ou serviços de apoio para a assistência ao paciente. Entendemos que há uma insatisfação com o espaço físico, de pacientes internados em macas, porém isso ocorre, pois, a demanda é maior que a capacidade instalada do Hospital, e mesmo assim, mantemos a prestação do serviço aos pacientes que nos procuram e são do nosso perfil de atendimento. Destacamos que devido a capacidade instalada, os procedimentos são programados por nível de gravidade e complexidade, não extrapolando o tempo razoável para realização, incluindo a realização de cirurgias eletivas.  
Informamos ainda que para a segurança do paciente, o HEANA possui protocolos de acesso e assistência, assim o controle de entrada e saída de acompanhantes é monitorado e seguem horários específicos, o que deve ser respeitado. O mesmo ocorre para a saída de pacientes, que só é libera mediante alta médica e transferência, e em casos de “alta por recusa terapêutica”, onde há o desejo do paciente de sair da unidade mesmo sem a finalização do seu tratamento, é aplicado um protocolo de avaliação dos riscos, bem como documentos de responsabilidades.
Por fim o Heana, conforme já vinha fazendo, segue administrando a situação, e realizando todos os atendimentos compatíveis com seu perfil. Como é uma questão complexa e global, para resolução, o Estado segue otimizando a rede, com expansão de unidades e leitos de internação, incluindo também tratativas junto aos municípios, com vistas em tornar a rede cada vez mais funcional, avançando com o projeto de reestruturação da rede. Reforçamos o nosso compromisso em prestar cuidados de saúde com qualidade para a população, e nos colocamos a disposição.

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