Como comportamento de motoristas de Goiânia impacta no trânsito da cidade

Crescimento dos fluxos, falta de infraestrutura e conscientização estão entre as principais causas, conforme especialista

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
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Motoristas no trânsito de Goiânia. (Foto: Reprodução)

“Dá vontade de morar no mato, porque está uma selva aqui já”. O sentimento sobre o trânsito de Goiânia é de Sebastião Menezes, de 65 anos, que já dirigiu por diversas cidades e capitais não só do Brasil, como do exterior. A fama dos motoristas goianienses não é boa: há quem diga que são imprudentes, não usam a seta, e conduzem de forma agressiva. Mas, será que o problema é realmente o jeito de dirigir dos moradores ou há outros fatores em jogo?

Para o professor de mobilidade na Universidade Estadual de Goiás (UEG), Vinícius Polzin Druciaki, a questão vai além dos estereótipos. “Seria leviano, talvez pejorativo, falar que o goianiense é mais barbeiro que os outros. Estamos tratando de uma metrópole que, nos últimos 10 anos, teve um aumento significativo na frota veicular. Goiânia é um centro de fluxo intenso, atraindo pessoas de várias partes para estudar, trabalhar ou resolver questões de saúde, todos os dias”, explica ao Portal 6.

Diante disso, são diversos os problemas que surgem. A desatenção e o excesso de velocidade, sobretudo, são citados pelo especialista como problemas críticos que contribuem para a alta taxa de acidentes na região metropolitana de Goiânia, onde foram registrados 187 mortes em 2023, conforme o boletim epidemiológico do Programa Vida no Trânsito.

“A velocidade impede a reação e aumenta a gravidade dos acidentes. O uso de celular enquanto dirige, tanto por motoristas quanto por pedestres, tornou-se uma epidemia e supera até a embriaguez como causa de sinistros”, alerta.

Outro ponto crítico, segundo o professor, é o estado de saúde mental dos motoristas, frequentemente negligenciado. “O trânsito é um reflexo da vida em sociedade, e as condições em que dirigimos afetam diretamente nosso comportamento ao volante. Ansiedade, estresse e desatenção podem transformar uma simples condução em um risco para todos. É essencial que cada motorista avalie seu estado mental antes de dirigir. Se não estiver em condições ideais, o correto seria optar por transporte público, por aplicativo ou carona”, defende Vinícius.

Além disso, ele ressalta que muitos motoristas não compreendem que as vias são espaços públicos, o que exige uma postura de respeito e coletividade. “As pessoas tratam a via como se fosse um espaço privado, mas ela é um espaço público. Falta um senso de coletividade, de entender o que é viver em uma cidade”, alerta.

Para quem vive o trânsito diariamente, como Sebastião, o sentimento é de frustração. Evelyn Melo, motociclista de 26 anos, relata que já se envolveu em uma série de discussões por conta de atividades como as citadas por Vinícius.

“A pessoa compra um carro de R$ 90 mil e parece que não vem com seta, porque ela não usa. A gente que tenta fazer certo, sofre. Minha família já sofreu quatro acidentes nos últimos anos por conta de gente que fura sinal, bate na traseira. Eu odeio dirigir aqui”, disse à reportagem.

Problemas de metrópole

Embora o comportamento seja parte do problema, não é o único fator. “A tendência de sentir um caos é estatisticamente mais provável em uma cidade com grande fluxo e uma infraestrutura desproporcional ao crescimento”, argumenta. Segundo ele, o problema não é apenas o comportamento dos motoristas, mas também a falta de investimento em infraestrutura e conscientização contínua.

Vinícius aponta que as melhorias realizadas nas vias de circulação são insuficientes para acompanhar o aumento do fluxo de veículos e a demanda da população. “Infraestrutura não é gastar milhões em novos viadutos, que só geram mais engarrafamentos, mas sim investir em melhorias que promovam um trânsito mais justo e sustentável”, afirma. Ele ressalta que a cidade precisa de investimentos em sinalização, manutenção das vias e revitalização das faixas de pedestres, além de um planejamento urbano que priorize os meios de transporte coletivo e a segurança de pedestres e ciclistas.

Porém, a chave para uma verdadeira melhora na mobilidade está na educação, aponta. “A educação e conscientização devem ser feitas de forma perene, para todas as idades, sobre entender qual é o papel na sociedade”, defende o professor.

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