“Minha vida virou de cabeça para baixo”, diz anapolina que ficou paraplégica e perdeu visão após erro médico

Marinilda Mendes Cardoso tem sofrido com sequelas de operação, realizada em janeiro de 2023

Thiago Alonso Thiago Alonso -
“Minha vida virou de cabeça para baixo”, diz anapolina que ficou paraplégica e perdeu visão após erro médico
Marinilda teve sequelas após erro médico. (Foto: Arquivo Pessoal)

O que era para ser uma cirurgia para resolver um problema logo viraria a vida de Marinilda Mendes Cardoso de cabeça para baixo, após um erro médico que causou uma lesão na medula.

A mulher, de 44 anos, havia procurado o Hospital Municipal Alfredo Abrahão (HMAA) em janeiro de 2023, onde descobriu um mioma no útero de 8 cm, além de um cisto no ovário de 6 cm, ambos ocasionando uma grave hemorragia.

Assim, já no dia 12, realizou uma cirurgia de histerectomia total, na qual faria a retirada do útero, diminuindo os riscos do agravamento do quadro. O que Marinilda não sabia é que esta operação transformaria a vida dela para sempre.

“Tive alta, mas não saí bem, saí de lá já passando mal. Fiquei sexta, sábado e domingo passando muito mal o tempo todo”, relembrou a anapolina, em entrevista ao Portal 6.

Na segunda-feira, três dias após o procedimento, a mulher retornou ao hospital se queixando de dores. Mas, ao ser avaliada, o médico apenas explicou que estes eram sintomas comuns do pós-operatório, mandando-a de volta para casa.

Apesar da alta, este era apenas o início de uma longa e difícil jornada que não daria trégua à paciente, que, cerca de 20 dias após a cirurgia, precisou ser internada novamente por mais 35 dias.

Primeiros sintomas

Os principais sintomas do erro médico apareceram durante este período, quando a diabetes começou a se descontrolar.

“Eu fiz ressonância, vários exames, mas quando eu já estava sem andar, pediram uma transferência para o Crer [Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo] ou para o Hugol (Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira)”, relembrou.

Anapolina precisou passar por diversos hospitais. (Foto: Arquivo Pessoal)

Assim, ao ser transferida para o Hugol, em Goiânia, Marinilda passaria por mais um período de internações, que só seria suspenso após a correção da lesão na medula.

“Eu precisava fazer uma nova cirurgia, mas eu não podia, porque tinha acabado de fazer a primeira e nem tinha me recuperado ainda”, disse.

Tratamento

Sem muitas soluções, Marinilda foi mandada para casa, desta vez, já sem andar. No entanto, após um mês de alta, a anapolina voltou ao Crer, onde ficou internada por 30 dias.

Hoje, Marinilda passa por uma intensa rotina de tratamento. (Foto: Arquivo Pessoal)

Depois de três meses de tratamento e fisioterapia, mais uma vez Marinilda seria transferida, agora para Brasília, em um hospital da rede particular.

“Me consultei com um médico de lá e ele me falou que meu caso não tem mais recuperação, o que tinha para melhorar já melhorou, agora era só manter o tratamento”, pontuou.

Sequelas

Hoje, além de uma condição de paraplegia parcial e descontrole da diabetes, Marinilda também precisa de uma bolsa para urinar, assim como de remédios para dormir.

Outro agravante da lesão na medula se deu na parte ocular. A anapolina perdeu a visão completa de um dos olhos e, no outro, desenvolveu um quadro de visão dupla, dificultando a leitura de quaisquer tipos de textos.

Por conta disso, ela precisou se reinventar para conseguir viver, em busca de uma recuperação mesmo que mínima.

“Minha casa não é adaptada para cadeirante, eu não consigo fazer nada, não passa cadeira de rodas, não tinha rampa, não consigo fazer nada sozinha. Eu dependo das pessoas até para me levar ao banheiro porque a cadeira não passa direito na porta”, pontuou.

Marinilda precisou reinventar a forma de viver após cirurgia mal sucedida. (Foto: Arquivo Pessoal)

Recebendo menos de um salário mínimo por invalidez, Marinilda ainda precisa gastar com consultas médicas e atendimento fisioterapêutico domiciliar, o que trazem um custo alto para a família.

Assim, ela começou a se sustentar por meio de rifas e doações. “Ganho prendas das pessoas, faço rifa e vendo. Assim consigo pagar minhas consultas, meus remédios e os médicos que me auxiliam”, disse.

Uma dessas iniciativas gerou uma vaquinha solidária, com o principal intuito de realizar novos exames para continuar o tratamento. Para fazer doações de qualquer valor, a anapolina divulgou o Pix 005.394.231-06 (CPF).

Em busca de justiça

Logo após a primeira cirurgia, na qual resultou o erro médico, a família da paciente imediatamente entrou com uma ação junto ao Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) contra o Hospital Alfredo Abrahão, alegando erro médico.

A mulher também relembrou que, durante todo o período desde a operação, descobriu outras vítimas do mesmo médico, que, segundo ela, já foi autuado por erros em outros casos, nos quais teria deixado ao menos seis pessoas na cadeira de rodas, além de ter supostamente causado oito óbitos.

No entanto, segundo ela, o processo não caminhou mais, deixando uma incerteza do futuro, além de gastos estratosféricos que não estavam no planejamento.

“Fui procurar melhora e piorou tudo. Antes eu tinha uma vida. Trabalhava, tinha dois, três serviços, sou enfermeira também. Já passei por duas cesarianas, meus filhos já são adultos. Eu tinha uma vida, agora tudo virou de cabeça para baixo”, finalizou.

O que dizem os envolvidos?

A reportagem do Portal 6 buscou contato com a Fundação Universitária Evangélica (Fuvev), atual administradora do HMAA, que suatentou não estar na gestão da unidade à época do ocorrido, mas sim a Fundação Frei João Batista.

O Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) também foi procurado, mas não ofereceu retorno na solicitação. O espaço segue aberto para pronunciamentos.

*Atualizada às 22h55, do dia 23/10, com posicionamento da Funev

 

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