Condições precárias do novo Centro Cultural de Anápolis são denunciadas três dias antes da inauguração
É extensa a lista de inadequações do local, que, segundo reclamações, não apresenta acessibilidade, segurança ou capacidade de atender às demandas dos cursos
Um manifesto reuniu mais de 200 assinaturas, ao longo dos últimos dias, para reivindicar a avaliação da estrutura física do futuro Centro Cultural de Anápolis Dulce de Faria, que será inaugurado na próxima quinta-feira (19), mas supostamente não tem condições de atender aos cursos de artes que serão reunidos no local.
O documento indica diversas falhas estruturais, desde a ausência de ventilação nas salas e auditórios, até a falta de acessibilidade dentro do lugar. Degraus irregulares, rampas muito inclinadas e portas estreitas demais – tudo isso pôde ser percebido em imagens gravadas no prédio.
Em entrevista ao Portal 6, uma professora apontou que a inadequação do local acontece devido à pressa para que a inauguração aconteça ainda este ano. “Essa obra tem que ser entregue e pronto, é o que a gestão Roberto Naves quer… entregar uma obra inacabada, mal feita e sem a possibilidade de funcionamento”, afirmou.
Esse apontamento não é inédito, mas sim uma tendência que vem acontecendo na reta final do mandato de Naves, com casos semelhantes acontecendo na tentativa de inauguração da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Mulher e na agilidade para entregar o Hospital Municipal Georges Hajjar.
A profissional continua: “O que vemos lá foi algo sem o acompanhamento de um arquiteto e de um engenheiro do som”. Ela explica que, apesar de várias reclamações anteriores do corpo docente da instituição, a Prefeitura nunca corrigiu os problemas.
No manifesto, os apoiadores da causa pedem pela verificação e avaliação, por profissionais de engenharia, das estruturas físicas mencionadas, e se posicionam contra a urgência da mudança – uma vez que a Escola de Música consegue continuar funcionando na própria sede enquanto aguarda as adequações.
O documento também ressalta que as unidades de ensino de Artes Plásticas, Dança, Música e Teatro – que devem ser realocadas para o novo centro – atendem a um público de todas as idades, inclusive com necessidades de condições especiais, reiterando a preocupação com a acessibilidade e segurança física adequada para esse público.
A mãe de um aluno compartilhou com a reportagem que a principal preocupação de alguns responsáveis é com as crianças, que são maioria entre os estudantes da Escola de Música.
Ela afirma que, na estrutura, “tem muitos vãos onde a criança pode cair e torcer o pé”. “Hoje o local [atual da escola] é plano, dá para ver bem as crianças”, conta, apontando que a nova sede também tornará mais difícil a vigilância por parte da escola, que já “não tem muitos funcionários”. A responsável afirma que se sentiria mais segura se o Corpo de Bombeiros visitasse o local antes da mudança.
Foi apontado ainda, pela professora, que “as salas de aula ficam longe da diretoria e da secretaria, sem possibilidade de controle por parte dos gestores, tanto de alunos como demais pessoas”.
Essa mesma preocupação é compartilhada por outra mãe, que foi além e afirmou ser contra a mudança da escola para o novo local também pela falta de ventilação. “Locais que não estão arejados, são abafados, prontos para as crianças adoecerem”, expôs.
O local atende às necessidades dos ensinos de artes?
Além dos problemas “gerais”, aspectos também foram apontados pelos autores do manifesto no que tange às necessidades específicas das unidades de ensino artístico.
O auditório com teto baixo, por exemplo, prejudica as apresentações de dança, por limitar os movimentos que podem ser executados, e o piso sem o desnível padrão dos anfiteatros – cuja plateia vai “subindo” conforme se afasta do palco, para melhorar a visualização – impossibilita que todo o público assista às apresentações.
Já as salas sem tratamento acústico causam muito eco, o que interfere nas aulas de música e causa poluição sonora, bem como a falta de janelas ou ar-condicionado em alguns cômodos dificulta o ensino e a aprendizagem de qualquer modalidade. Relatos também apontam que não há como fechar a porta em algumas salas de instrumentos individuais.
Outro ponto comentado foi a avenida em que fica o Centro Cultural, uma vez que o alto tráfego da via, próxima ao Viaduto Nelson Mandela, limita a possibilidade de estacionamento nas proximidades – uma estrutura que não é oferecida dentro da instalação. Além disso, ganhou destaque a baixa quantidade de linhas de ônibus atendendo à região.
A capacidade do local também não supre a expectativa de acesso médio, que é de aproximadamente 600 pessoas, e não 200, como a estrutura suporta. O que deveria ampliar a quantidade de alunos recebidos, na verdade, impossibilita a criação de novas vagas, já que o espaço destinado à Escola de Música no Centro Cultural é menor do que no endereço atual, na Av. Goiás.
Posicionamento da Prefeitura
Em contato com a Prefeitura, o Portal 6 questionou se a gestão está ciente das reclamações e se alguma medida seria tomada diante da insatisfação da população, apurando se a estrutura seria mantida da forma como está ou se os problemas apontados seriam corrigidos.
Em resposta, a Administração Municipal declarou simplesmente que não irá se pronunciar a respeito do assunto.