Depois dos 60: idosos buscam nova chance no mercado de trabalho em Goiás
Mesmo com desafios, número de trabalhadores nessa faixa etária segue em crescimento


Recolocar-se no mercado de trabalho já é uma tarefa que envolve certo grau de complexidade. Para pessoas com mais de 60 anos, no entanto, esse desafio costuma ser ainda maior, diante de obstáculos como a falta de oportunidades e qualificação. Apesar das dificuldades, a presença de idosos no mercado de trabalho em Goiás tem ganhado destaque nos últimos anos.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o estado contava com mais de 1 milhão de pessoas com 60 anos ou mais no primeiro trimestre de 2024. Dentre elas, 283 mil ainda estavam trabalhando. O número representa um crescimento de 27,5% nos últimos quatro anos — a partir do ano de divulgação do levantamento.
Para muitos, manter-se ativo profissionalmente vai além da questão financeira: também é uma forma de manter a convivência social e o sentimento de utilidade. É o caso de Marcionília Teixeira da Paixão.
Aos 61 anos, ela decidiu prestar um processo seletivo da Prefeitura de Goiânia e hoje atua como auxiliar em escolas municipais da capital. Apesar de nunca ter trabalhado com carteira assinada, buscou a vaga para complementar a renda que, até então, era proveniente apenas do salão de beleza que mantém há anos e da pensão que recebia.
Em entrevista ao Portal 6, ela conta que a decisão foi movida pela necessidade de aumentar os ganhos mensais, mas os benefícios foram além do esperado.
O trabalho ajudou a melhorar sua autoestima, sociabilidade e trouxe novos significados à sua rotina.
“Eu fiz muitos colegas, algumas mais novas que eu um pouco e tem umas também na minha idade e a gente se dá bem. Tem sido muito bom, eu estou me sentindo bem, sem falar no dinheiro”, destaca.
O contato com as crianças também passou a representar um aspecto emocional importante, indo além das funções práticas do trabalho.
“Esses dias um aluno, que é autista, virou para mim e disse que me amava. Acaba que às vezes as professoras têm que ser mais rígidas, então ele virou para mim e disse isso. É um carinho que a gente recebe deles e é uma forma de acolhimento também”, ressalta.
Resistência para contratação ainda existe
Apesar do avanço no número de idosos ativos, a recrutadora Tatiana Alcântara acredita que ainda é necessário ampliar os programas de inclusão voltados a esse público. Segundo a profissional de Recursos Humanos, a resistência na contratação dessa faixa etária ainda é um dos principais entraves para a contratação de pessoas com mais de 60 anos.
“Eu acredito que para as empresas abrirem a cabeça para contratar uma pessoa maior de 60 anos é só se tiver uma lei, porque ainda há um preconceito por achar que a pessoa não vai dar conta […] A gente tem que olhar que não tem muita mão de obra e está muito precária e tem pessoas [nessa faixa etária] que estão muito capacitadas”, salienta.
Tatiana aponta que o atendimento ao público seria uma das áreas ideais para a inserção desses profissionais, por serem, em geral, mais sociáveis e atenciosos. Ela cita como exemplo um supermercado no Bairro JK, em Anápolis, que contratou uma pessoa de 74 anos para o quadro de funcionários.
“São pessoas que querem se sentir úteis. Muitas vezes são avós, os filhos já casaram, e elas acabam ficando em casa, sem muito contato com outras pessoas — mesmo tendo saúde e capacidade para trabalhar. […] É um público que não busca emprego só por necessidade, até porque a maioria já é aposentada, mas sim porque quer estar ativo”, finaliza.
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