Símbolo de identidade e história, Estação Ferroviária de Anápolis chega aos 90 anos

Marco histórico da cidade, espaço atravessou fases de glória e esquecimento, mas permanece como patrimônio da cidade

Paulo Roberto Belém Paulo Roberto Belém -
Símbolo de identidade e história, Estação Ferroviária de Anápolis chega aos 90 anos
O “antes e o depois”. Registros temporais da Estação Ferroviária de Anápolis, que completa 90 anos, em 2025 (Foto: Reprodução)

A Estação Ferroviária de Anápolis celebra neste domingo, 7 de setembro, 90 anos de existência. Entre a inauguração e os dias die hoje, uma série de acontecimentos a tornaram importante e outros fatos a desvalorizaram severamente.

Fachada mais atual da Estação Ferroviária de Anápolis (Foto: Prefeitura de Anápolis)

Quem narrou toda a história foi o historiador Jairo Alves Leite. A conversa partiu de uma publicação do Ministério Público de Goiás (MPGO), em que trata de um dos períodos mais marcantes: o de quando a estação ficou escondida pelo Terminal Urbano de Anápolis do final dos anos 1990 até ser demolido em 2015.

Vinda do litoral

Inegável não recordar da intenção de fazer uma ferrovia que viria do Litoral Brasileiro até o Centro-Oeste. Por isso, Anápolis entrou na rota, quando começaram a pensar que a cidade de Goiás deixaria de ser a capital do estado.

Com a ideia da sede do Governo vir para onde é Goiânia, a Estação Ferroviária de Anápolis foi construída. “Muito rápido para a época com o projeto de Engenheiro Wenefredo Bacelar Portela”, detalhou o historiador.

Foi em 14 de julho de 1935 que chegou o primeiro especial de cargas, dirigida por Alberto Pulga. “Com 7 vagões contendo 1.914 de sacas de cereais para levar para Minas Gerais”, pontuou Jairo.

Há 90 anos, Estação Ferroviária de Anápolis era inaugurada (Foto: Reprodução)

Dois meses depois, em 7 de setembro daquele ano, a estação foi inaugurada. “Dia de festa, juntou muita gente com desfile e chegada do trem inaugural”, lembrou, complementando que o fato marcou o desenvolvimento de Anápolis.

O que fizeram Goiânia e Brasília para a ferrovia

Anápolis recebeu muitos insumos para a construção de Goiânia e Brasília, lembrou o historiador. Entretanto, o próprio protagonismo das duas capitais que construiu, diminuíram a importância que a Estação Ferroviária e a própria linha férrea tinham para a cidade.

Praça Americano do Brasil e a estação final da Estrada de Ferro Goyaz, em 1958 (Foto: Facebook/Estação Ferroviária de Anápolis)

A partir da década de 1940, Goiânia puxou mais negócios, inclusive fazendo uma bifurcação da ferrovia que vinha do litoral por Bonfinópolis. Depois, com inauguração de Brasília, um “lobby” americano teria desestimulado o modal ferroviário, que foi preterido pelo rodoviário.

Início de uma “descida”

Assim, uma série de acontecimentos vieram, que enfraqueceram a importância da Estação Ferroviária de Anápolis.

O primeiro ponto teria sido um estímulo de Jonas Duarte. “Forçou a desativação da estação do Centro da cidade”, disse Jairo, citando que deram mais apoio à que foi construída no Bairro Jundiaí.

Um atentado aos trilhos teria acontecido em 1963 e mais de uma década depois, em 1976, os equipamentos foram desativados da área Central de Anápolis. “Chegaram a pensar na destruição da estação”, recordou Jairo.

Prefeito Jamel Cecílio retirando os trilhos da região Central, em 1976 (Foto: Facebook/Estação Ferroviária de Anápolis)

Deram utilidade, então, ao prédio, servindo-o ao Tiro de Guerra. Núcleo do Exército que fez, entre os anos 70 e 85, um posto de alistamento da corporação. “Depois disso, chegou a ser cartório eleitoral”, relembrou.

Tiro de Guerra, núcleo do Exército de Anápolis, utilizando a Estação Ferroviária de Anápolis em 1976 (Foto: Facebook/Estação Ferroviária de Anápolis)

Atuação política

Com a posse do então prefeito Adhemar Santillo, no final dos anos 1980, o gestor concedeu o espaço para ser o Terminal Urbano. Anapolino de Faria, prefeito seguinte, assumiu o governo e tentou preservar o prédio, tombando-o como patrimônio cultural em 1991.

Entretanto, com a retomada de poder de Santillo no final da década de 1990, a estação foi cedida novamente e a construção do anexo do Terminal Urbano Central passou a esconder o prédio tombado, como mencionado no início do texto.

Enfim, de volta

A desobstrução só veio com uma longa disputa judicial, movida pelo Ministério Público de Goiás (MPGO). O historiador foi quem provocou. “Ato que recebeu alto apoio popular”, destacou.

Imagem mostra demolição do Terminal 2 quase finalizada. Estação Ferroviária de Anápolis sendo descoberta (Foto: Reprodução/MPGO)

Depois de muitas idas e vindas com recursos que chegaram a última instância, a Estação Ferroviária de Anápolis foi, enfim, descoberta em 2015 e restaurada pela gestão da época. Jairo lembra que esta não ficou ideal.

Atualmente estando aberta à visitação, o historiador trabalha por uma restauração mais efetiva. “É uma última ação. Mas, dessa vez, com as características e materiais que relembram a época de quando foi inaugurada”, pontuou.

Imagem mais atual Interior da Estação Ferroviária de Anápolis (Foto: Prefeitura de Anápolis)

O historiador ainda declara uma intenção, visando dar mais utilidade e vida ao prédio histórico e tombado. “Criar um museu ferroviário, um museu de imigrantes”, citou, dizendo que espera que essas modificações tenham apoio municipal para serem implementados.

Jairo Alves Leite, que contribuiu com esta reportagem especial, mantém o Instituto Jan Magalinski, uma imersão a fatos históricos, principalmente de Anápolis. Para ter acesso a conteúdos, basta acessar o Instagram ou o YouTube.

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Paulo Roberto Belém

Paulo Roberto Belém

Jornalista profissional, com passagem por veículos radiofônicos e impressos. Também possui experiência em assessoria de comunicação. Atualmente, dedica-se à cobertura do cotidiano de Goiás, sempre buscando aprofundar os temas com responsabilidade, sensibilidade e apuração rigorosa.

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