Goiânia e Brasília guardam um parentesco oculto e a história explica por quê

Mais do que coincidência, as duas capitais compartilham a mesma origem planejada

Anna Júlia Steckelberg Anna Júlia Steckelberg -
Goiânia e Brasília guardam um parentesco oculto e a história explica por quê
Vista aérea de Goiânia. (Foto: Paulo José/Prefeitura de Goiânia)

Você já reparou como Goiânia, com suas largas avenidas radiais, áreas verdes generosas e bairros planejados, parece compartilhar algo com Brasília?

Essa semelhança não é fruto do acaso. Existe um parentesco oculto, enraizado em decisões históricas e concepções arquitetônicas que moldaram ambas as capitais sob a mesma ambição: planejar o futuro urbano do Brasil.

Antes mesmo de Brasília surgir, Goiânia já nascia com um projeto ousado e moderno. A antiga capital estadual, a cidade de Goiás, vinha perdendo força econômica desde o declínio da mineração no século XVIII.

A ideia de transferir a sede administrativa circulava desde 1753, mas só ganhou corpo no início dos anos 1930, quando o interventor Pedro Ludovico Teixeira viu na mudança a oportunidade de ocupar o interior goiano e romper com antigas oligarquias.

Em 1933, foi lançada a pedra fundamental de Goiânia, em um projeto urbano idealizado por Atílio Correia Lima, inspirado no urbanismo francês.

Antes mesmo de Brasília surgir, Goiânia já nascia com um projeto ousado e moderno. (Imagem: Reprodução)

Mais tarde, o engenheiro Armando de Godói ajustou o plano, aproximando-o do modelo inglês das “cidades-jardim”, que privilegiava parques, áreas verdes e uma malha mais humanizada.

O decreto de 1935 consolidou esse plano diretor, definindo avenidas convergentes — Goiás, Araguaia e Tocantins — em torno do Palácio das Esmeraldas, no ponto mais alto da nova capital.

Esse traçado não apenas orientou o crescimento da cidade como também plantou a semente de um conceito que, anos depois, seria amplificado em Brasília: a cidade como símbolo de modernidade, racionalidade e projeto nacional.

Na virada dos anos 1950, Goiânia já vivia um boom populacional impulsionado pela ferrovia e pela construção de Brasília.

A capital federal, erguida sob a genialidade modernista de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, radicalizou o ideal de planejamento, com seu eixo monumental, monumentalidade arquitetônica e simetrias ousadas.

Vista aérea do Eixão e Eixinhos Rodoviários. (Foto: Bento Viana/Setur-DF)

Mas apesar das diferenças de escala e de estilo, Goiânia e Brasília compartilham uma raiz comum: nasceram planejadas, com forte influência do Estado, como expressão de ruptura com o passado e promessa de futuro.

Goiânia com sua topografia suave, ruas arborizadas e estilo art déco; Brasília com seus traços futuristas e monumentais.

Caminhar hoje pelas duas cidades é perceber como esse parentesco ainda pulsa.

Goiânia revela, em seus parques distribuídos e avenidas radiais, a mesma lógica de organizar o espaço para o convívio. Brasília, com sua imponência, traduz a utopia modernista de um país em transformação.

Juntas, mostram como o cerrado abrigou não apenas duas capitais, mas dois experimentos vivos de um mesmo ideal urbano.

Imagem aérea e noturna de Brasília. (Foto: Bento Viana/Setur-D)

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Anna Júlia Steckelberg

Anna Júlia Steckelberg

Jornalista formada pela Universidade Federal de Goiás. Colabora com Portal 6 desde 2021.

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