200 milhas marcaram com sangue a história do automobilismo na cidade

Ruas lotadas de gente empolgada viram tragédias se repetirem ano após ano e sonho terminou com promessa nunca cumprida

Aglys Nadielle Aglys Nadielle -
200 milhas marcaram com sangue a história do automobilismo na cidade
Prova inaugural das 200 Milhas de Anápolis, na Avenida Tiradentes. (Foto: Acervo/Claudiomir Gonçalves/Anápolis na Rede).

Se os Estados Unidos têm hoje a famosíssima corrida chamada de ‘500 milhas de Indianápolis”, Anápolis também já teve uma grande prova automobilística para chamar de sua.

Longe das exigências de hoje, a cidade sediou as ‘200 milhas’, numa menção a distância percorrida pelos pilotos em cada corrida. Os motores que aqui roncaram fizeram palpitar corações para o bem e para o mal.

O evento aconteceu entre os anos de 1968 e 1971 e causava grande alvoroço entre os anapolinos. Os amantes de automobilismo abarrotavam as ruas para ver as estrelas que por cá passavam a ver de perto as empolgantes ultrapassagens.

Nem só de alegria viveram aqueles que assistiram in loco às provas. À época, pela falta de segurança, diversas mortes foram registradas, o que culminou com o fim das ‘200 milhas de Anápolis’.

O jornalista e historiador Guilherme Verano conta que a popularização desse esporte começou na década de 60 na região. O maior problema é que não havia autódromos para a execução dessa modalidade.

“Os pilotos corriam na rua mesmo. Disputavam pra ver quem chegava na frente, mas naquela irresponsabilidade total. Colocava a vida deles em risco e a do público da mesma forma”, relatou.

Para tentar organizar essa competição perigosa, a cidade criou o “Automóvel Clube”. A associação foi quem deu início às tão badaladas ‘200 milhas de Anápolis’ em 1968, que foram um sucesso logo de cara.

Ruas ficavam lotadas com o evento. (Foto: Claudiomir Gonçalves/Anápolis na Rede)

Guilherme Verano explica que o intuito da organização era criar uma grande corrida para integrar o calendário de comemorações do aniversário da cidade, mas que tivesse segurança. Como não havia lugar adequado, o circuito era improvisado pelas ruas.

“Anápolis tem aquela característica das ruas centrais serem estreitas e, naquela época, o bairro Jundiaí estava surgindo, como era um bairro mais novo, as ruas eram mais largas. Então eles resolveram fazer essa prova lá mesmo, usavam as avenidas Pinheiro Chagas, Minas Gerais, Santos Dumont, São Francisco, entre outras”, relatou.

A competição de ‘racha’ acabou ficando bem famosa na cidade, atraindo até mesmo diversos pilotos famosos como Nelson Piquet, que foi tricampeão de Fórmula 1. Eles vinham de Brasília, Goiânia, São Paulo, dentre outros lugares.

No ano seguinte a primeira edição, 1969, os noticiários da época anunciaram que o circuito de 101 voltas e 3.180 metros havia causado a morte de três pessoas e deixado oito feridas. A corrida que marcava a comemoração dos 62 anos de Anápolis acabou virando tragédia depois do atropelamento da multidão.

O carro era pilotado por Enio Garcia, que perdeu o controle nas voltas finais num cenário que, conforme Verano, já era anunciado.

“Se em 68 o sucesso foi grande, em 69 foi maior ainda. Então foi muita gente mesmo, o espaço foi ocupado de forma irregular, o pessoal avançando em cima da pista”, explicou.

A corrida 200 milhas de Anápolis se tornou muito famosa e atraia multidões que movimentava a economia do município. Mas com os incidentes, o evento não voltou a acontecer em 1970.

Promessa

Só havia uma forma de dar continuidade àquele grande evento, construir um autódromo que oferecesse toda a estrutura necessária.  De acordo com o jornalista, a associação Automóvel Clube sugeriu essa construção, com a ideia de que fosse entre a cidade e a capital goiana e financiada pelos mesmos.

A iniciativa não foi bem-sucedida, já que a Prefeitura de Anápolis e nem mesmo a de Goiânia se manifestaram. Com isso, o clube decidiu realizar a construção por conta própria e chegou a conseguir uma área. Mesmo assim, o autódromo nunca saiu do papel e da imaginação dos anapolinos.

“A área de 14 alqueires era ali próximo onde é o Recanto do Sol hoje. Fizeram até mutirão utilizando máquinas da Prefeitura. A Petrobras disse que ia doar o asfalto, a Confederação Brasileira de Automobilismo aprovou até o desenho do circuito”, relata.

Última corrida

Em 1971, ainda sem um local adequado, aconteceu a terceira edição da ‘200 milhas de Anápolis’. A tentativa de realizar o evento nos mesmos moldes foi frustrada, resultando em mais acidentes e até na morte de uma criança. Após os acontecimentos, a corrida de rua foi suspensa de forma definitiva.

Logo em seguida, em 71, Goiânia e Brasília ganharam autódromos e os pilotos acabaram migrando para as competições nas cidades vizinhas. Essa ação foi a pá de cal derradeira no sonho dos anapolinos de ter um local autorizado e seguro para o esporte.

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