Fim do Ramadan em mesquita de Anápolis mostra resiliência das famílias muçulmanas na cidade

Templo islâmico é o único do estado de Goiás e atrai adeptos da religião milenar. Remanescentes da Palestina fazem o possível para manter costumes e tradição

Samuel Leão Samuel Leão -
Fim do Ramadan em mesquita de Anápolis mostra resiliência das famílias muçulmanas na cidade
Integrantes da comunidade palestina, em Anápolis, relatam o difícil momento vivido por seus conterrâneos. (Foto: Samuel Leão)

Ao cruzar a Avenida Faiad Hanna, na região Central de Anápolis, muitas pessoas se perguntam como é o interior e o que acontece dentro da Mesquita Islâmica presente na via, com a figura de uma lua imponente no alto de uma torre.

O Portal 6 entrevistou o presidente da Sociedade Islâmica de Anápolis, Fuad Mohamad Allan, que apresentou a comunidade e explicou como é a realidade dos fieis que vivem no município.

“Os sacerdotes da religião são chamados de Sheikhs, e o daqui se chama Nasser Sahim, que estuda o Alcorão, livro sagrado do islã, e ministra as celebrações às sextas, que é o nosso dia santo” explicou.

Sheik Nasser Sahim, da mesquita de Anápolis, cumprimentando um fiel.(Foto: Samuel Leão

Atualmente, existem cerca de 15 famílias muçulmanas remanescentes na cidade. Unidas, elas realizam as festividades previstas pelo calendário lunar da religião, em encontros que vão além dos semanais.

Composta principalmente por imigrantes Palestinos, país cuja religião oficial é o islamismo, Anápolis já chegou a contar com uma população de cerca de 70 famílias muçulmanas nas décadas de 60 e 70.

“Boa parte da Rua General Joaquim Inácio, conhecida como rua dos turcos antigamente, era composta por muçulmanos. Muitos retornaram ao país de origem, de acordo com os conflitos na chamada Faixa de Gaza, outros morreram ou se converteram ao cristianismo”, relatou Fuad Mohamad.

Comunidade Muçulmana de Goiás, reunida na mesquita de Anápolis. (Foto: Samuel Leão)

A palavra Islã significa paz e Anápolis serve como uma uma cidade “porto-seguro” da comunidade em Goiás por possuir a única mesquita ativa do estado, além da própria comunidade já estabelecida.

“Em Goiânia temos salas para realizar as orações. Contudo, lá não tem um Sheik como aqui. Por isso, diversos islâmicos comparecem a cidade para celebrar as festividades”, explicou Fuad.

A mesquita local foi construída, inicialmente, por intermédio das embaixadas dos países islâmicos, como a Arábia Saudita, Bahrem e Emirados Árabes Unidos. Entretanto, a ajuda dada não foi suficiente e a comunidade se mobilizou coletivamente para finalizar a construção.

Ramadan

O Ramadan acontece no nono mês do calendário islâmico e é um mês sagrado para os muçulmanos. Durante todo o período, entre o nascer o pôr do Sol, são feitos jejuns de alimentos, bebidas e até do ato sexual, para induzir a consciência e se ater aos princípios fundamentais da vida.

O último dia desta celebração, que ocorreu na última sexta-feira (21), é chamado de Eid al-Fitr, que significa precisamente “celebração do fim do jejum”.

A reportagem do Portal 6 estava presente na mesquita de Anápolis para acompanhar a festividade, que é marcada pela alegria, união e ceia farta — com os mais diversos pratos árabes.

“Sinto que este período faz com que vejamos o que realmente importa, e desapeguemos de coisas supérfluas e desnecessárias, entre elas diversos sentimentos negativos”, contou o jovem palestino Samer Al Tawil, de 27 anos, que reside em Anápolis.

Fora da mesquita, durante o Eid al-Fitr, todos se sentaram e acompanharam a ascensão solar, entoando cânticos durante a celebração, enquanto crianças brincavam pelos tapetes dispostos no chão.

Fraternalmente, os fieis vindos de várias partes de Goiás se cumprimentavam dizendo “Salamaleico” (que a paz esteja sobre vós) e eram respondidos com “Alaikum As-Salaam” (que a paz de Deus esteja sobre vós também).

“Todos aqui são bem-vindos. Recebemos diversas pessoas, algumas para conhecer a cultura e desmistificarem diversos preconceitos e impressões errôneas”, explica o Sheik.

Ceia de término do Ramadan, na mesquita de Anápolis. (Foto: Samuel Leão)

Costumes

São cinco os pilares da religião muçulmana: a crença de um Deus único; cinco orações diárias, em horários pontuais do dia e em direção à Meca (templo sagrado do Islã, na Arábia Saudita); caridade; jejum durante o Ramadan; e a peregrinação para Meca ao menos uma vez na vida.

Há práticas para os muçulmanos de Anápolis que são mais trabalhosas, como o consumo de tâmaras, alimento sagrado e consumido há milênios pelos muçulmanos, por causa da dificuldade em encontrar a fruta em todos os períodos do ano.

Um desafio também é a realização das orações, que requer toda uma organização por parte dos muçulmanos para que consigam se purificar e realizá-las nos horários corretos.

Pelas ruas da cidade, também é possível encontrar mulheres que fazem uso o hijab, o lenço que cobre os cabelos. Na religião, ele é obrigatório, mas as praticantes possuem o livre arbítrio para usá-lo ou não.

Apesar de se tratar de uma religião pouco conhecida em um município majoritariamente cristão, a cidade foi e continua sendo um local de acolhimento para famílias que criaram raízes e conseguem professar a própria fé sem impedimentos.

Tamareiras, onde frutifica o alimento sagrado do islamismo, as tâmaras. (Foto: Reprodução/Conexão Catar)

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