MP denuncia policiais por tortura e tentativa de homicídio de major que fazia curso do Bope na Base Aérea de Anápolis

Esposa do major, que é promotora de Justiça, foi importante peça para desvendar mentiras

Da Redação Da Redação -
MP denuncia policiais por tortura e tentativa de homicídio de major que fazia curso do Bope na Base Aérea de Anápolis
Major fica gravemente ferido após sofrer tortura em curso de formação do Bope. (Foto: Reprodução/TJGO)

Açoites de corda violentos, pancadas com pedaços de madeira e varadas por três dias seguidos. Essas e outras ações teriam sido praticadas durante tortura infligida a um major, que fazia um curso de formação do Batalhão de Operações Especiais (Bope) na Base Aérea de Anápolis.

As agressões teriam ocorrido em outubro de 2021, mas, apenas em 2024, o Ministério Público (MP) formalizou uma denúncia.

Ainda foi apontada a intenção de forjar uma possível morte dele, simulando que a causa seria uma infecção por Covid-19. As informações foram apuradas pelo Metrópoles, que teve acesso aos autos do processo.

“Certos de que o estado de saúde do ofendido havia atingido níveis críticos e que, por certo, ele não se recuperaria, preferiram aguardar até o seu esperado falecimento, quando poderiam entregar o seu corpo em um caixão lacrado à família, alegando a contaminação pela Covid e impedindo que os fatos viessem à tona e fossem investigados”, consta na denúncia, escrita pelo Ministério Público e assinada por três promotores.

No mês de abril, o MP, após uma investigação da Corregedoria da Polícia Militar de Goiás (PMGO), ofereceu uma denúncia contra 7 PMs por tais crimes, apontando a tortura e a tentativa de homicídio. As ações ocorreram no 12º Curso de Operações Especiais do Bope.

O major teria sido agredido durante um evento intitulado “Momento Pedagógico”. Após sofrer nas mãos dos companheiros, a vítima teria desmaiado e entrado em coma, passando vários dias entubado, sob observação em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Teria sido nesse ponto que os policiais decidiram criar a narrativa do Covid-19. Como uma forma de justificar a internação do militar, afirmaram que ele estava hospitalizado por ter um comprometimento de 40% do pulmão.

A situação só foi possível por ele ser transferido para um hospital “de confiança” dos envolvidos, passando a ser monitorado por um coronel médico, que também fazia parte do curso do Bope.

A Descoberta

A descoberta aconteceu após a esposa do militar, que é promotora de Justiça, estranhar todo o procedimento, em especial o momento que viu o marido hospitalizado, com o corpo completamente coberto por um lençol e acompanhada por um médico fardado e armado.

Inicialmente, ele deu entrada no Hospital Estadual de Urgências de Anápolis (Heana), já em coma profundo, com lesão neurológica grave, sem responder a estímulos e com uma complicação chamada rabdomiólise, caracterizado por uma ruptura muscular que gera a liberação de proteína no sangue e danifica os rins. Mesmo em tais condições, foi transferido, sem informar a família, para o Hospital Santa Mônica, em Aparecida de Goiânia.

Na unidade, ele estava sem receber os procedimentos necessários, como era o caso de uma hemodiálise, e ficava desassistido, sozinho em um quarto. Juntando as peças, como, por exemplo, o laudo do Heana, que não apontava a Covid-19, ela percebeu a mentira.

A mulher conseguiu transfeií-lo para o Hospital Anis Rassi, em Goiânia, onde foram descobertas as lesões corporais gravíssimas, além de ser novamente descartado o diagnóstico de Covid-19.

Ferimentos no major. (Foto: Reprodução/TJGO)

Além disso, militares ainda tentaram ocultar toda a situação, com um deles indo buscar o prontuário médico do caso no Heana, mas se deparando com a esposa da vítima no local. Outro tentou adentrar o quarto onde ele estava, já no hospital da capital, mas também não obteve sucesso.

Recuperação

No final do mês, o major conseguiu alta, mas pouco tempo teve que ser internado novamente para tratar uma infecção contraída pelo cateter. Mesmo passando por vários tratamentos, como fisioterapia intensiva, sofreu uma perda parcial de movimentos de um lado do corpo e teve 30% dos rins comprometidos.

Por fim, ainda foi promovido para tenente-coronel, e teve o diploma do curso aceito pela PM. No entanto, os 7 acusados continuaram atuando normalmente, com apenas 3 deles sendo punidos com 12 horas de serviço, isso mesmo com o indiciamento da Corregedoria.

“Emocionalmente, a vítima nunca mais foi a mesma, especialmente devido ao sentimento de impunidade em relação aos responsáveis pelo ato e por ter sido ‘desprezado’ por seus companheiros de farda”, expressou o MP na denúncia.

Denúncias

As denúncias apresentadas pelo MP foram pela tentativa de homicídio e tortura por omissão, contra o coronel Joneval Gomes de Carvalho Júnior, o tenente-coronle Marcelo Duarte Veloso e o coronel David de Araújo Almeida Filho. O capitão Jonatan Magalhães Missel, que coordenava o curso, foi denunciado pela tortura direta e pela tentativa de homicídio.

Por fim, o cabo Leonardo de Oliveira Cerqueira e os sargentos Erivelton Pereira da Mata e Rogério Victor Pinto foram denunciados por tortura. O pedido inicial foi para o afastamento de todos e o recolhimento dos respectivos armamentos.

Em nota, encaminhada à imprensa, a PMGO relatou que o inquérito policial militar sobre o caso foi concluído e encaminhado para a Justiça Militar. “A Polícia Militar reafirma seu compromisso com o cumprimento da lei e a colaboração com as autoridades judiciais”.

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