Entenda por que mesmo com grande formação de médicos, faltam profissionais nos postos de saúde em Goiás
Apesar de muitos formados na área, longas filas de espera se formam em todo o estado
Goiás registra 3,2 médicos para cada 1.000 pessoas, conforme o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (CREMEGO). O número supera o ideal estabelecido pelo Governo Federal, de 2,5 profissionais a cada mil habitantes. Paradoxalmente, os relatos de falta de médicos e listas de espera intermináveis se acumulam.
Em Goiânia, estão concentrados metade dos profissionais (11.882), com um índice de 8,3 médicos para cada 1000 pessoas. O cenário de superlotação e longas horas de espera para o atendimento na capital foi relatado ao Portal 6 ainda em maio. Um paciente denunciou que, quando buscou uma consulta médica no Centro Integrado de Atenção Médico Sanitária (CIAMS) do Setor Urias Magalhães, foi informado que a emergência foi suspensa.
“Estão fazendo triagem, depois dispensam as pessoas e estão mandando elas para outras unidades”, relatou o homem, que aguardou por mais de quatro horas, junto com outras dezenas de pessoas.
Relatos similares foram comunicados por pacientes de outras unidades de saúde, como o Cais Amendoeiras e Cais Campinas. Também em maio, um paciente faleceu por falta de ar enquanto esperava uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). De acordo com funcionários, ao Jornal Opção, as ambulâncias estavam paradas devido à falta de médicos.
Em Anápolis, também são diversos os casos, como ocorreu com uma paciente atendida no CAPS Vida, e vários outros na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Dr. Alair Mafra Andrade.
Em um estado onde há um médico registrado para cada 312 pessoas, conforme o Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (CREMEGO), a falta de atendimento causa estranhamento.
Formação de médicos
Enquanto dados apontam para uma quantidade acima do ideal de profissionais da saúde por habitante, vale ressaltar que mais médicos estão em formação, conquistando o diploma às centenas.
O mais recente levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2022, apontou que, em Goiás, 12 municípios ofertam medicina. São eles: Anápolis, Aparecida de Goiânia, Catalão, Formosa, Goianésia, Goiânia, Goiatuba, Itumbiara, Jataí, Mineiros, Rio Verde e Trindade. Ao todo, são 16 cursos, que tiveram 1.020 concluintes no ano.
Afinal, falta médico?
“Qual que é o problema da saúde de Goiás? Ineficiência do gestor”, pontuou o diretor executivo do H2 Soluções em Saúde, Jair Rodrigues. O especialista destaca que sempre se formou muitos médicos, porém, estes tendem a se concentrar nos grandes centros urbanos devido à falta de estabilidade financeira e infraestrutura adequada nas regiões mais afastadas.
Diante da espera relatada também na Região Metropolitana de Goiânia, Jair explica que, para além da instabilidade financeira e sucateamento dos centros de saúde pública, ainda soma-se a má gestão interna.
“A grande questão de fila de espera é organizacional, de fluxo interno. As unidades não tem informatização, sendo que quanto mais dado eu consigo pegar antes da consulta, mais tempo tenho para focar no paciente”, disse. Jair adiciona que já aplicou informatização e triagem efetiva em unidades de pronto-socorro em Minas Gerais, que hoje conta com tempo de espera de 30 minutos.
Quanto aos relatos de faltas, o executivo aponta: “Em qualquer profissão tem abono. A culpa não é do médico que passou mal, é da gestão que não supriu a falta”, concluiu.