Fisiculturista de Anápolis preso por espancar esposa até a morte admite apenas “empurrão”
Ele alega que, momentos antes, vítima teria tido um "ataque de histeria" motivado por ciúmes
O fisiculturista de Anápolis, Igor Porto, acusado de ter espancado até a morte a esposa, Marcela Luise de Souza Ferreira, de 31 anos, mudou a versão do depoimento e, pela primeira vez, assumiu ter ‘empurrado’ a vítima durante uma discussão dentro da casa, em Aparecida de Goiânia. Ela ficou 11 dias internada no Hospital Santa Mônica e faleceu no dia 21 de maio.
No depoimento, dado à Justiça no dia 14 de agosto, durante audiência de instrução e julgamento, ele afirma que no dia do crime, a companheira foi limpar a urina do chão do piso e, ao se aproximar do computador dele, percebeu que o mesmo havia visualizado as redes sociais de uma ex-amante, ocasionado o bate-boca.
“Ela teve um ataque de histeria e do nada começou a me estapear. Nisso, eu peguei e dei um grito com ela: ‘sai daqui!’ e empurrei ela. Ela escorregou, bateu a cabeça na parede e depois no chão”, disse.
A versão sobre o acidente doméstico foi relatada por amigos, parentes e equipe médica que atenderam a vítima no pronto-socorro onde ela foi levada. Um casal de amigos e clientes de Igor, que procuraram o homem na ocasião para saber sobre o estado de saúde da mulher, também alegaram à Justiça que o fisiculturista mencionou a queda.
De acordo com ele, após cair, Marcela começou a ter convulsões e foi colocada por Igor no sofá “até voltar a si”. O fisiculturista também afirma que queria levá-la até o hospital, mas que a mesma pediu um “tempo para respirar” e que desejava tomar um banho – momento em que voltou a passar mal e caiu no chão, o que o fez levá-la até a unidade de saúde.
No entanto, para a polícia, o banho teria sido providenciado por Igor para esconder parte dos ferimentos causados durante o espancamento.
Questionado sobre a mudança nas versões, ele afirmou que não havia sido perguntado na época e que estava abalado emocionalmente. Vale destacar que no depoimento de 21 de maio, o nutricionista se negou a responder às perguntas feitas pela Polícia Civil (PC).
“Eles não perguntaram mais nada. Eu tava muito conturbado, tinha sido uma coisa muito estranha aquilo tudo, foi muito assustador e desesperador e eu nunca tinha visto a minha mulher daquele jeito”, comentou.
Fraturas
Conforme relatório pericial, foram encontradas oito costelas fraturadas, além da clavícula, no corpo de Marcela Luise. Segundo o laudo, os ferimentos são compatíveis aos causados durante um acidente automobilístico, uma vez que as lesões foram ocasionadas por um impacto de alta energia “comuns em acidentes automobilísticos com desaceleração ou que resultam em impacto direto”.
“A presença de lesões contusas em diversos lugares do corpo da vítima, de aparência recente, incluindo as fraturas de costela e clavícula à esquerda, faz-nos sugerir que foram advindas de uma força externa aplicada diretamente contra as áreas lesadas, não podendo ser descartada a hipótese de agressão física, se houver grande desproporção de forças entre vítima e agressor, ou envolver queda de altura por empurrão, uso de instrumento de ação contundente ou quaisquer outros meios capazes de provocar traumas de alta energia”, informa.
Perguntado, Igor alegou que a mulher tinha um “histórico de fraturas” e que ela havia sofrido, pelo menos, três acidente automobilísticos e que as lesões nas costelas podem ter ocorrido nestes casos.
No relato, ele também destaca que demorou 25 minutos entre a queda até a chegada no pronto-socorro. A versão contrasta com o que foi observado por profissionais de saúde, uma vez que as convulsões tidas por ela no hospital indicarem uma demora até a chegada dela na unidade.
Preso desde 18 de maio, o fisiculturista responde por feminicídio contra a ex-mulher. As investigações apontam que o casal viveu uma relação de 09 anos, marcada por violência física, ofensas e até isolamento social contra a vítima.
Agora, a defesa e o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) apresentarão as alegações para análise da Justiça, que decidirá se o réu vai ou não para júri popular.