Saiba como Brasília quase foi construída bem ao lado de Anápolis

Região era uma das mais promissoras da época, por conta da topografia e belas paisagens, mas acabou não sendo a escolhida para receber a capital federal

Thiago Alonso Thiago Alonso -
Saiba como Brasília quase foi construída bem ao lado de Anápolis
Prédio do Congresso Nacional, em Brasília (DF). (Foto: Divulgação/Governo do DF)

Brasília é considerada um dos principais símbolos da república brasileira, com prédios únicos e uma arquitetura repleta de metáforas e significados. No entanto, o que poucos sabem é que, antes de ser construída no Leste goiano, a cidade quase foi sediada em uma região muito próxima de Anápolis.

O terreno que abrigaria a nova capital federal foi cogitado em diversas regiões centrais do Brasil, tendo como principal intuito contribuir para a ocupação do interior do país, como explicou a mestre em Projeto e Cidade de arquitetura e urbanismo, Bárbara Maria Cardoso.

Bandeira do Brasil. (Foto: Canva)

“A ideia de mudar a capital do Brasil não foi exclusiva de um determinado período ou grupo político. Ela emergiu em diferentes momentos históricos desde o período colonial. A ideia de transferência do litoral para o interior do país já vinha sendo discutida, porém, essa transformação só foi possível anos depois”, pontuou a profissional.

Foi assim que uma localidade ao Leste de Anápolis entrou na lista dos prováveis destinos para abrigar a sede dos Três Poderes.

Vista aérea de Brasília (DF). (Foto: Canva)

Sítio Azul

Nomeada como “Sítio Azul”, a região disputava a cotada vaga de capital federal com outros quatro destinos, sendo eles os sítios Amarelo, Vermelho, Verde e Castanho — sendo este último o vencedor.

“Os responsáveis pelo projeto finalmente demarcaram uma área de 14.400 km² como local ideal, esse território, que incluía as lagoas de Formosa, Feia e Mestre D’Armas”, explicou.

Apesar de não ter sido escolhida, a região do Sítio Azul possuía vários fatores positivos, com um terreno que variava de 850 a 1,1 mil metros de altitude, em meio a vales suaves, colinas arredondadas e espaço ondulado.

Sítios foram separados em cores para definir a localidade da nova capital. (Foto: Reprodução/Correio Braziliense)

Em uma matéria do jornal Correio Braziliense da época, a localização foi descrita detalhadamente, imaginando como seria uma futura Brasília, caso fosse construída ali.

“A conformação ondulada da terra torna possível visualizar aqui uma cidade aprazível, com os vales ou os topos das colinas formando unidades celulares que poderiam ser desenvolvidas em distritos residenciais separados por parques e alamedas. Os topos planos das colinas são suficientemente extensos para permitir um monumental agrupamento de edifícios públicos”, diz o texto.

Características determinantes

Apesar dos pontos levantados sobre o Leste anapolino, Bárbara Maria relembrou que as discussões sobre as características não se limitaram ao Sítio Azul, com outros fatores também sendo considerados entre as concorrentes.

“As comparações entre os sítios se davam através de algumas características físicas, como a topografia, vegetação, o potencial agrícola, a proximidade com afluentes hidrográficos, a instalação de energia elétrica próxima, a ligação com outras áreas urbanas através de estradas”, disse a arquiteta.

Pontos como as “lindas vistas de colinas” do Sítio Azul também foram enfatizados na época, tendo como principal destaque o Morro Caiapó, uma das colinas que “dominavam a paisagem”.

Morro Caiapó, ao Leste de Anápolis. (Foto: Reprodução)

Apesar de todos os potenciais vistos no terreno, a região infelizmente não foi selecionada, perdendo o posto para um local muito próximo à cidade de Planaltina, sendo um dos fatores determinantes a proximidade com cachoeiras e lagos.

Não o bastante, o fato de outros municípios na área — hoje conhecidos como ‘Cidades do Entorno’ — também facilitou para a decisão, uma vez que os trabalhadores teriam onde morar, sem precisar ocupar a capital.

Assinatura final

Mesmo com uma decisão final desfavorável para o Sítio Azul, nem tudo estava perdido para Anápolis, uma vez que o documento que aprovou o projeto foi assinado na própria cidade, como explicou a arquiteta.

Em 1956, o então presidente Juscelino Kubitschek enviou ao Congresso a “Mensagem de Anápolis”, projeto de lei que deu início à construção de Brasília e mudou a história do Brasil para sempre.

Presidente Juscelino Kubitschek durante sessão para sanção da lei que estabeleceu a data para mudança da capital. (Foto: Revista Brasília/Arquivo Público do DF)

“No dia 18 de abril de 1956, o presidente, que viajava com destino à Goiânia, não pôde pousar na capital goiana e pousou em Anápolis. Nessa mensagem foi assinada a validação para o início efetivo da construção de Brasília e mudança de capital”, pontuou Bárbara Maria.

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