Entenda por que Geração Z está trazendo de volta hábitos dos anos 1990
Segundo especialista ouvido pelo Portal 6, a retomada de velhos hábitos tem múltiplas razões e pode ser positiva para o bem-estar

Discos de vinil, câmeras analógicas, jogos de tabuleiro e até máquinas de escrever. Há cada vez mais exemplos de itens “retrô” que voltam a ser vistos na mídia, nas lojas e nos hábitos atuais. Desta vez, a tão mencionada Geração Z vêm adotando práticas dos anos 1990.
O que muitos veem somente como mais um resultado da influência da indústria cultural – a série “Stranger Things” é um grande exemplo disso, ao trazer uma história que acontece entre 1983 e 1985 – na verdade, pode passar por explicações muito mais profundas.
Muito além da nostalgia, o movimento crescente pode estar intimamente relacionado à saúde mental e à busca por equilíbrio, como explica Thyago Henrique.
Especialista em saúde mental e médico psiquiatra pelo Hospital Israelita Albert Einstein, o especialista detalhou ao Portal 6 os vários motivos que podem explicar a relação entre os dois temas.
Antes de tudo, é importante entender: a Geração Z diz respeito aos nascidos entre 1997 e 2012 – um período inegavelmente feito de transições tecnológicas.
Thyago deixa claro: “esse pessoal nasceu antes da popularização da internet. Ou seja, eles vivenciaram uma outra época, um outro mundo onde não tinha a internet como ela é hoje. É diferente de quem nasceu a partir dos anos 2010, que já não conhece outra realidade [além do virtual]”.
Nesse sentido, a busca pelos hábitos antigos pode significar “uma tentativa de equilibrar o mundo digital”. Seria como fugir dos estímulos e da dinamicidade da internet em busca do que a Geração Z conheceu antes: o analógico.
Embora seja impossível estar 100% distante do digital atualmente, com a expansão dos serviços online, o psiquiatra avalia que a iniciativa é válida.
“Eles não estão, de forma alguma, abrindo mão do digital, mas alternam entre o modo online e o modo offline. E para mim isso daí é sensacional para o equilíbrio”, afirma.

Thyago Henrique é especialista em saúde mental e médico psiquiatra pelo Hospital Israelita Albert Einstein. (Foto: Arquivo pessoal)
Neurociência explica
O profissional defende que há quatro formas de explicar essa tendência por meio do estudo da neurociência. A primeira delas é pela nostalgia, que estimula dopamina e serotonina no cérebro.
São esses os famosos “hormônios da felicidade”, que causam a sensação de prazer e pertencimento e reduzem o nível de estresse. “Perceba a importância da autorregulação emocional por meio da nostalgia”.
A segunda maneira é pela atenção plena. As práticas analógicas [ler um livro físico, ter uma agenda “de papel”] influenciam diretamente no foco. Isso porque elas favorecem o córtex pré-frontal, que é a região mais desenvolvida do cérebro.
O terceiro modo é pela conexão social. “Essa volta ao retrô começa a fortalecer interações que não são mediadas por telas. Jogos de tabuleiros, encontros presenciais… isso é maravilhoso”.
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Práticas que parecem simples conseguem estimular sistemas do cérebro, impactando em habilidades sociais e empatia. Por fim, o quarto ponto de vista é o já mencionado equilíbrio digital.

Jogos de tabuleiro têm espaço. (Foto: Reprodução)
Pandemia teve efeitos que ainda são combatidos
No sentido da conexão, é inevitável não pensar no período de distanciamento vivido durante a pandemia. Do ponto de vista cerebral, Thyago confirma: “o isolamento social foi o maior estrago que poderia acontecer para a saúde mental”.
“O nosso cérebro é um bicho sociável. É um animal que precisa de outros cérebros junto”, afirma. “Então nós precisamos estar em meio à sociedade”.
Nesse sentido, o profissional detalha que a experiência de ter choques culturais, encontrar pessoas e trocar informações é um grande responsável por provocar o neurodesenvolvimento de crianças.
Da mesma forma, “a ausência da socialização é um dos principais fatores para o declínio cognitivo em idosos”.
Expectativas para o futuro
Quanto à geração mais atual, a Alpha, Thyago demonstra preocupação. “As próximas gerações serão mais complexas, mas ao mesmo tempo mais frágeis, no ponto de vista neurocientífico mesmo”.
Mais conectados do que a Z, os integrantes da Alpha podem acabar ficando dependentes demais das novas tecnologias (como a Inteligência Artificial), terceirizando os aprendizados para o celular.
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