O desabafo de funcionário do Itaú demitido por “baixa produtividade” no home office
Trabalhador conta que dedicou quase dez anos ao banco e, mesmo premiado, foi desligado após monitoramento digital

“Rodou um facão e quem estava com a perna embaixo foi cortado.” Foi assim que Marcos (nome fictício), ex-funcionário do Itaú, resumiu sua demissão após quase dez anos de trabalho no banco.
Promovido e premiado por desempenho, ele foi desligado nesta semana sob a acusação de “baixa produtividade” no home office.
O bancário, que pediu anonimato em entrevista à BBC News Brasil, afirma que cumpria jornadas extensas e chegou a trabalhar fins de semana seguidos.
Ainda assim, recebeu como justificativa que passava pouco tempo em frente à tela, conforme medição feita pelo banco.
Demissões em série
O caso de Marcos não é isolado. O Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região fala em pelo menos mil demissões recentes, embora o Itaú não revele números.
A instituição confirma que usa dados de atividade digital para avaliar quem trabalha de casa.
Esse controle leva em conta movimentação de teclado e mouse, participação em reuniões online, uso de softwares corporativos e até cursos à distância.
O banco diz que a política foi assinada pelos funcionários e está amparada em acordos com sindicatos.
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Falta de transparência
Marcos afirma que nunca soube de que forma seria monitorado.
“A gente desconfiava que havia vários controles, mas não imaginava que era por cliques, alt tab, scroll, tempo em reunião. Muitas vezes almocei na frente do computador para não parar. Isso nunca foi levado em conta”, disse.
Segundo ele, não houve diálogo antes do corte. “Não teve feedback. Não foi nada avisado. Simplesmente mandaram embora.”
Apesar da frustração, o ex-bancário afirma que não pretende acionar a Justiça e já procura uma nova oportunidade de emprego.
Questionamentos
O sindicato critica a “falta de transparência” do processo e considera injustificável usar vigilância digital para dispensar funcionários.
Já especialistas em direito do trabalho ouvidos pela BBC lembram que a fiscalização é legal, mas deveria ser comunicada claramente aos trabalhadores.
Em nota, o Itaú disse que as demissões foram resultado de uma “revisão criteriosa de condutas relacionadas ao trabalho remoto e registro de jornada” e reforçou que decisões assim são necessárias para preservar sua cultura e a confiança com clientes e colaboradores.