A maior hidrelétrica do mundo é tão grande que mexeu até na rotação da Terra

Segundo a NASA, essa massa colossal altera a distribuição do peso do planeta

Pedro Ribeiro Pedro Ribeiro -
A maior hidrelétrica do mundo é tão grande que mexeu até na rotação da Terra
(Foto: Reprodução)

Dentre várias estruturas gigantes construídas ao longo da história, existe a maior hidrelétrica do mundo que impressiona não só pelo tamanho, mas também pelo impacto que causa no planeta.

Quando você pensa em obras monumentais, talvez imagine pontes, arranha-céus ou grandes rodovias.

Porém, poucas construções humanas chegaram a influenciar a duração do dia na Terra. E é justamente isso que torna essa história tão fascinante.

No coração da China, a Barragem das Três Gargantas transforma o poder do rio Yangtze em energia.

Ali está a maior hidrelétrica do mundo, capaz de alimentar milhões de pessoas e, ao mesmo tempo, despertar curiosidade global.

Por isso, ao longo deste texto, você vai entender como ela funciona, por que ela superou Itaipu e de que forma conseguiu alterar a rotação do planeta — mesmo que esse efeito seja mínimo.

Onde tudo começou: o poder das Três Gargantas

A maior hidrelétrica do mundo é tão grande que mexeu até na rotação da Terra

(Foto: Reprodução)

O rio Yangtze, também chamado de Rio Azul, é o terceiro mais longo do mundo, perdendo apenas para o Amazonas e o Nilo.

Ele atravessa quase dois milhões de quilômetros quadrados e leva água para cerca de 40% do território chinês.

No seu curso médio, três desfiladeiros naturais — Qutang, Wu e Xiling — formam as famosas Três Gargantas.

Foi justamente ali que, em 2012, após quase vinte anos de obras, a China inaugurou a maior hidrelétrica do mundo. Construída na província de Hubei, a barragem aproveita o desnível natural das gargantas para gerar energia em uma escala sem precedentes.

Como a China superou Itaipu em geração de energia

Com capacidade de 22.500 MW, a Usina das Três Gargantas se tornou a primeira a ultrapassar a produção da hidrelétrica de Itaipu, que pertence ao Brasil e ao Paraguai.

E a diferença ficou ainda mais clara em 2020.

Depois de intensas chuvas de monções, as turbinas chinesas quebraram o recorde histórico de Itaipu, que era de 103 TWh, e alcançaram quase 112 TWh.

Para isso, a megausina conta com 32 turbinas gigantes de 700 MW cada e outros dois geradores menores de 50 MW que mantêm a própria estrutura funcionando.

Além disso, existe um elevador de barcos que permite navegar por um rio que antes seria impossível cruzar nesse ponto.

Como a maior hidrelétrica do mundo afetou a rotação da Terra

Embora pareça improvável, o enorme volume de água represado pela barragem produz um efeito mensurável no planeta.

Com 2.335 metros de comprimento e 185 metros de altura, a Barragem das Três Gargantas pode reter até 40 quilômetros cúbicos de água — cerca de 40 trilhões de litros.

Segundo a NASA, essa massa colossal altera levemente a distribuição do peso da Terra.

Em 2005, o geofísico Benjamin Fong Chao explicou que o enchimento completo da represa poderia deslocar o eixo terrestre e desacelerar sua rotação.

O efeito é mínimo, claro, mas real: o dia ficaria cerca de 0,06 microssegundos mais longo.

Um dia um pouco mais longo

Em comparação com fenômenos como o derretimento das geleiras ou terremotos gigantes, essa mudança é pequena.

Mesmo assim, ela mostra como atividades humanas de grande escala podem influenciar o planeta.

Para se ter ideia, o terremoto responsável pelo tsunami na Indonésia, em 2004, teve o efeito oposto.

Ele deslocou o Polo Norte cerca de 2,5 centímetros e acelerou a rotação da Terra, reduzindo a duração do dia em 2,68 microssegundos.

O que explica esse fenômeno: o momento de inércia

A chave para entender tudo isso é o chamado momento de inércia.

Ele representa a resistência que um corpo oferece quando sua rotação tenta ser alterada.

Esse momento muda dependendo da quantidade de massa e de como ela está distribuída.

O exemplo clássico é o patinador que gira mais rápido ao aproximar os braços do corpo.

Com a Terra, acontece algo parecido. Se a massa se concentra mais perto ou mais longe do eixo de rotação, o planeta pode girar um pouco mais rápido ou mais devagar.

Não é só a Lua que mexe com o eixo da Terra

A Terra nunca esteve completamente estável. Seu eixo muda naturalmente por causa dos ventos, oceanos e da movimentação da crosta.

Desde 1900, ele já se deslocou cerca de 10 centímetros por ano.

Durante muito tempo, esse comportamento foi associado apenas ao recuo das geleiras ou à influência gravitacional da Lua.

Hoje, sabe-se que ações humanas também desempenham um papel nesse processo.

Além da Barragem das Três Gargantas, outro exemplo marcante envolve a extração de água subterrânea em larga escala.

Entre 1993 e 2010, foram retiradas cerca de 2.150 gigatoneladas de água do subsolo.

Esse volume acabou no oceano, elevando o nível do mar e deslocando o eixo terrestre aproximadamente 80 centímetros para o leste.

Será preciso ajustar os relógios no futuro?

Embora essas mudanças sejam muito pequenas, elas têm levantado questionamentos entre especialistas.

Se a rotação da Terra continuar se alterando, mesmo que de forma sutil, alguns pesquisadores defendem a implantação de um segundo intercalar negativo.

Isso criaria um minuto com apenas 59 segundos para manter os relógios atômicos perfeitamente sincronizados com a rotação real do planeta.

Ainda não há previsão de quando — ou se — isso acontecerá.

Porém, discussões como essa mostram o quanto grandes obras humanas podem influenciar processos que antes pareciam intocáveis.

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Pedro Ribeiro

Pedro Ribeiro

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás. Colabora com o Portal 6 desde 2022, atuando principalmente nas editorias de Comportamento, Utilidade Pública e temas que dialogam diretamente com o cotidiano da população.

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