Um mês sem o professor Nelson: uma homenagem a um dos maiores psicólogos de Anápolis

Familiares, amigos, colegas de trabalho e alunos falam sobre a convivência e as lições importantes que aprenderam com o doutor, uma das vítimas da Covid-19

Da Redação Da Redação -
(Foto: Arquivo Familiar)Um mês sem o professor Nelson: uma homenagem a um dos maiores psicólogos de Anápolis
(Foto: Arquivo Familiar)

Dirceu Pinheiro – Morre quem não deixa um legado. Aquele que escreve sua história com retidão e bons exemplos ficará na memória daqueles com quem conviveu. Nelson de Abreu Júnior é uma dessas pessoas que, ainda jovem, com 56 anos, partiu, mas escreveu sua história de vida e permanece vivo na memória dos que o conheceram.

Leonardo da Vinci traduz bem esse sentimento: “Que o teu trabalho seja perfeito para que, mesmo depois da tua morte, ele permaneça”. Seriedade, firmeza e amabilidade são valores descritos em depoimentos de muitos que conviveram com Nelson, seja nas relações pessoais ou profissionais.

A vida em família

“Foi realmente uma vida desafiadora!”. Assim definiu a esposa Maria Cristina Abreu, que conviveu com Nelson por 28 anos. Durante esse tempo, ela presenciou todos os momentos importantes da vida do marido, psicólogo e professor.

Maria Cristina relembra que um pé de acerola plantado no quintal de casa se tornou símbolo de “nossa vida juntos”. “Escolhemos um lugarzinho a dedo para que ela estivesse sempre em nosso caminho. Pudemos observá-la a cada momento de seu crescimento. Tivemos muitos momentos felizes com nossa “aceroleira”. Floriu por muitos anos e sempre que frutificava, conseguíamos saboreá-los com satisfação”, rememora.

(Foto: Arquivo Familiar)

O amor entre Nelson e Maria Cristina também frutificou com a vinda dos filhos Rafael e Bárbara. A formação dos filhos era a grande preocupação do pai dedicado. “Os incentivava a buscarem uma formação universitária para que pudessem seguir em frente quando adultos. Sempre os orientava no que fosse preciso quanto aos estudos ou mesmo quanto a forma de fazer um churrasco ou na marcenaria que aprendeu com o pai dele também”, diz a esposa.

A vida do Nelson marido passava também pela cozinha. Maria Cristina conta que ele sempre gostou de cozinhar e adorava fazer comidinhas diferentes. Fazia questão de fazer o que a família gostava mais de comer, mesmo se tivesse que fazer dois ou três pratos diferentes na mesma refeição. Também gostava de reunir os familiares num churrasco.

(Foto: Arquivo Familiar)

“Também passamos por muitas perdas de entes da nossa família nos últimos anos, mas Nelson sempre foi o esteio da família Abreu”. Essa definição de esteio da família também foi dada pela sobrinha Joyce Abreu Pfrimer. Ela lembra de como ele se fez presente na vida dela e dos irmãos nos momentos mais difíceis.

“Quando meus pais se foram, tio Júnior se fez muito presente nas nossas vidas. Além de ter um papel muito importante na sociedade, na educação de Anápolis e no estado de Goiás como um todo, tio Júnior foi um pai, um tio, um familiar, foi o esteio da família e vai fazer muita falta em vários sentidos”.

(Foto: Arquivo Familiar)

Como esposa, Maria Cristina acompanhou de perto a vida profissional de Nelson. Ela diz que cada especialização que ele encarava, o mestrado, o doutorado, sempre os fez com muita dedicação e sempre trabalhando em dois, trêsturnos, tanto na UEG como no consultório de psicologia. Segundo ela, o professor não se cansava de ajudar os colegas, os amigos, parentes e mesmo os desconhecidos.

“Lutava por uma educação igualitária e justa a todos. Sempre buscou a literatura científica, as legislações em vigor e ponderou sobre tudo antes de se pronunciar e defender o que ele acreditava. Até os opositores o respeitavam, os debates eram fervorosos e nem sempre saiu vencedor, mas sempre tinha um desafio a enfrentar pela frente. A educação, a psicologia e a família eram sua vida”, resume emocionada.

O filho Rafael guarda na memória os ensinamentos do pai. “Sinto falta de acender a churrasqueira para fazer churrasco no sábado e ele me ensinar pela milésima vez a forma certa de se afiar uma faca, a forma correta de cortar uma carne ou de cozinhar o arroz. Saudade de todas as pequenas coisas, do mais simples ensinamento ao mais complexo, os ensinamentos dele sobre política, psicologia, educação, ele sabia sobre tudo”, lembra.

A filha Bárbara considera que o pai “foi o cara mais inteligente do mundo”, pois sempre respondeu a todos os questionamentos que fazia desde criança. A demonstração de amor, segundo Bárbara, era por meio das ações. “A sua forma de demonstrar o amor sempre esteve nos gestos, nas suas tentativas de nos ajudar em tudo, no carinho que sempre sentiu por sua família e na sua maneira de nos defender do mundo. Cada pedaço de mim morre de saudade do homem mais importante que passou pela minha vida”, diz emocionada.

A vida profissional

Doutor e mestre em Educação e graduado em Bacharelado e Licenciatura em Psicologia, a vida profissional de Nelson de Abreu Júnior passa pelo consultório de psicologia, onde atendia seus clientes, e pela Universidade Estadual de Goiás, onde foi professor titular ministrando a disciplina Psicologia da Educação – Desenvolvimento e Aprendizagem – nos cursos de graduação da Unidade Universitária de Anápolis – CSEH.

Nelson tinha experiência na área de gestão da Educação, com ênfase em Educação Superior, atuando como investigador nos temas de planejamento universitário, gestão universitária, avaliação institucional, currículo, políticas públicas e educação superior. Também foi professor de faculdades particulares em Anápolis.

Professora Virgínia Maria Pereira de Melo. (Foto: Reprodução)

O entusiasmo pelo trabalho na UEG é lembrado por colegas e alunos. A professora Virgínia Maria Pereira de Melo, que conviveu como colega e amiga de Nelson, diz que falar dele é tarefa fácil e difícil ao mesmo tempo. “Fácil porque sua vida foi plena, com uma trajetória profissional brilhante, além de companheiro de lutas e amigo de longa data e raro valor. E com isso torna-se difícil, porque são tantas coisas a dizer e porque o vazio deixado por sua partida abrupta, desnecessária e cruel ainda não foi assimilado por nós”, salienta.

Virgínia lembra que Nelson era um entusiasta no trabalho que desenvolvia na Universidade, exercendo com maestria e marcando sua atuação pelo lema observar/analisar/movimentar. “Com inteligência aguçada, bom humor, por vezes cáustico, era um estrategista de grande visão. Esteve presente em todos os momentos da Universidade, exercendo a direção da UnUCSEH, apoiando a criação do Colégio de Aplicação da Uniana, coordenando o 1º projeto do Programa Universidade para os Trabalhadores da Educação – Licenciatura Plena Parcelada, mobilizando a comunidade para a implantação da UEG com sede em Anápolis. Enfim, um profissional incansável. Tinha, parafraseando Paulo Freire, a missão de esperançar por dias melhores, por uma universidade com educação de qualidade”, destaca.

Professora Mirza Seabra Toschi. (Foto: Reprodução)

“O ser humano nasce, cresce, estuda, se forma, amadurece, ama, tem filhos e deixa muitas marcas no mundo no qual viveu plenamente. Ser pleno é viver intensamente, é saber construir relações e mantê-las saudáveis, sólidas, respeitosas, empáticas. Você conseguiu fazer tudo isso, Nelson, e, por conta disso, deixou muita saudade”, diz a amiga, professora Mirza Seabra Toschi.

Alunos enaltecem a dedicação do professor Nelson

Mariana da Silva Castro. (Foto: Arquivo Pessoal)

Aluna do 7º período de Pedagogia da UEG, Mariana da Silva Castro recorda do professor Nelson dedicado, bem-humorado e lutador pelas melhorias na Universidade. “O professor Nelson era muito acessível aos alunos, participava ativamente dos problemas acadêmicos e isso era um diferencial na sua gestão e trabalho. Sempre o víamos de bom humor e sorrindo. Pude contar com as melhores aulas da minha vida”, lembra. Mariana também se recorda do Nelson psicólogo num momento difícil, quando teve câncer de mama. “Era um ser humano ímpar que sempre se preocupou com a dor dos outros e nos ensinou a ter empatia”, diz com lágrimas nos olhos.

Laura Elisa de Freitas. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Ele me ajudou muito durante a graduação, me incentivou a fazer um intercâmbio e fez com que eu me interessasse por psicologia. As boas memórias ficam! Me sinto feliz por ter sido sua aluna”, diz a aluna Laura Elisa de Freitas Sousa.

(Foto: Arquivo Pessoal)

Zilmar de Souza Fiori é outro aluno a enaltecer as qualidades do professor Nelson de Abreu Júnior. “Lembraremos com carinho do seu otimismo e do compartilhamento de seu conhecimento, ali, disponível, sempre pronto, valorizando a Pedagogia, a nos dizer que éramos capazes de alçarmos grandes voos em busca dos saberes e da missão de ensinar e aprender como as crianças. Temos a convicção que as suas palavras foram como sementes lançadas na terra fértil, germinadas, que crescem e dão bons frutos. Esses bons frutos, os saberes e o conhecimento compartilhado, colheremos juntos”, diz empolgado.

Lidiane Fialho. (Foto: Arquivo Pessoal)

Para a aluna Lidiane Fialho, discorrer sobre o professor Nelson é ser inundada pela saudade. “As palavras chegam a perder o sentido ao tentar expressar o quão importante e significativo fora vivenciar suas aulas, sua metodologia, sua fala. Seus ensinamentos irão ficar sempre na memória daqueles que tiveram o privilégio de tê-lo por perto. Ele deixou sua marca por onde passou, nossa perda foi terrível”, diz.

Isabella Luiza Fernandes. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Resistir, lutar e professorar são as suas sementes plantadas em cada um de nós. Pode ter certeza de que não falharemos na colheita”, sustenta a aluna Isabella Luiza Fernandes.

(Foto: Arquivo Pessoal)

“Para aquele que nos presenteava com um ‘bom dia’ sempre alegre e animado; para aquele que acreditava em nosso potencial como profissionais; para aquele que compreendia os alunos; para aquele que acalmou minha primeira apresentação de trabalho; para ele…. uma eterna saudade e gratidão. Professor Nelson estará sempre em nossos corações”, homenageia a estudante Dhenneffer Barbosa Neto.

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