Há tempos não me emocionava tanto em uma consulta como nesta

Quando eu me coloquei no lugar daquele paciente, pude imaginar o que ele estava sentindo. Isso é empatia

José Fernandes José Fernandes -
Há tempos não me emocionava tanto em uma consulta como nesta
(Foto: Reprodução)

Estou em mais um dia de trabalho como médico ortopedista e chamo o próximo paciente. A porta abre e entra uma moça empurrando a cadeira de rodas com seu irmão. Logo a esposa entra com a sacola cheia de exames, o que normalmente já deixa nós médicos intrigados.

Eu estava quase convicto de que ele também era surdo e/ou mudo, porque não reagia a nada na consulta. Aí pós alguns minutos conversando com as acompanhantes, sem motivo aparente, o paciente enche os olhos de lágrimas e usando a máscara não consegue disfarçar o choro.

As mulheres tentaram em vão o acalmar. Há 15 anos atendo cadeirantes, mas esse paciente que atendi ontem, me deixou impactado.

Levantei da minha cadeira, fui até ao lado dele, segurei sua mão e disse:

– Eu posso imaginar o que você está passando, mas eu sei que isso não será para sempre. Isso vai acabar.

Agora éramos os quatro chorando no consultório, mas em instantes um sorriso espontâneo dele, veio nos acalentar.

Quando eu me coloquei no lugar daquele paciente, pude imaginar o que ele estava sentindo. Isso é empatia.

É óbvio que um paraplégico, sem um milagre sobrenatural, estará praticamente fadado a essa condição de cadeirante pelo resto da vida, mas nem por isso não terá oportunidades, inclusive de sorrir e ser feliz.

Vamos usar o poder da empatia para situação de tristeza como essa, se transforme em paz e esperança talvez com um aperto de mão ou um abraço fraterno.

É o que vivi ontem com esse paciente, e desejo também aos que choram e à toda humanidade, inclusive aos ucranianos e aos russos.

José Fernandes é médico (ortopedista e legista) e bacharel em direito. Atualmente vereador em Anápolis pelo PSB. Escreve todas às sextas-feiras. Siga-o no Instagram.

As ideias e opiniões expressas no artigo são de exclusiva responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, as visões do Portal 6.

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