Unidas pelos filhos, famílias anapolinas mostram como quebrar barreira do preconceito contra autistas

"O mundo precisa ter mais empatia, aprender que ninguém é igual o outro e está tudo bem, a vida não é uma competição", disse uma mãe

Isabella Valverde Isabella Valverde -
Unidas pelos filhos, famílias anapolinas mostram como quebrar barreira do preconceito contra autistas
Rosilene e Gabriel, Alcilena e Rafael são famílias de Anápolis que lidam diariamente com os desafios do autismo. (Foto: Arquivo Pessoal)

Lidar com o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) não é fácil para nenhuma das famílias, mas o amor de pais e mães pelos filhos supera qualquer preconceito.

Não há regra para o convívio ou mesmo receita pronta, como relatam os pais. No entanto, o carinho e o cuidado são meios para o fim evidente de incluir crianças com essa condição e quebrar barreiras históricas.

As piadas da influencer Larissa Barbosa com autistas mostram uma face ainda preconceituosa da sociedade. No entanto, a reação popular ao que ela classificou como “brincadeira” também levanto um alento.

O Portal 6 conversou com mães de crianças com autismo para desmistificar o TEA e relatar que, embora desafiador, cuidar de pequenos cidadãos com essa idade é também recompensador.

Rosilene e Gabriel 

Rosilene e Gabriel. (Foto: Arquivo Pessoal)

Rosilene Barbosa é mãe do pequeno Gabriel, de 12 anos, que é uma criança com autismo e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

Ela compartilhou com o Portal 6 que desconfiou da condição surgiram ainda quando o filho tinha 03 anos e a família percebeu que ele apresentava um certo atraso na fala e era bastante agitado.

Num primeiro momento, ainda sem o diagnóstico, ela sentiu-se impactada somente com a possibilidade

“Nesse momento foi como se o chão se abrisse. Eu fiquei perdida, eu já tinha ouvido sobre o autismo, mas muito pouco”, relatou.

“O laudo não foi fechado nesse momento, eram só suspeitas, mas eu via que tinha algo diferente, ele não gostava de outras crianças, não batia, mas não ficava perto, aquele barulho e agitação o incomodava muito”, completou.

Aconselhada por pessoas próximas, a mãe colocou o filho em uma escola e na fonoaudióloga para contribuir com o desenvolvimento, mas a adaptação foi muito difícil. Diziam que ele era inteligente demais, porém muito agitado. Para ela, a cobrança também era angustiante.

O diagnóstico do autismo e do TDAH só foi realmente fechado quando Gabriel já estava com mais de 07 anos. Foi aí que a mãe passou a procurar por um tratamento mais voltado para as necessidades do garotinho.

A mamãe orgulhosa conta que largou tudo para cuidar dele e atualmente, com 12 aninhos, o filho é muito querido por todos e evoluiu bastante.

“Uma criança muito carinhosa, ama conversar, e é elogiado onde vai, por sua educação e carisma, mas nossa luta continua, o autismo não tem cura, pode regredir sem terapias e estímulos”, conta.

“Eu abri mão de trabalho, de quase tudo aliás, hoje todo meu tempo é dedicado a ele, passei por um divórcio, então hoje moramos só nós dois”, completou.

No entanto, em um relato emocionante a genitora afirma que o que mais machuca é todo o preconceito que permeia no mundo e torna tudo ainda mais difícil.

“Não é fácil, nunca será, mas o que mais dói é o preconceito das pessoas, precisam estudar sobre o autismo, entender que o autista não entende metáforas, coisas que pra nós típicos pode ser uma brincadeira, pra eles não. O mundo precisa ter mais empatia, aprender que ninguém é igual o outro e está tudo bem, a vida não é uma competição”, conclui.

Alcilena e Rafael

Alcilena e Rafael (Foto: Arquivo Pessoal)

Para Alcilena, mamãe de Rafael, de 12 anos, presidente da Casa Joana e Conselheira Municipal da Pessoa com Deficiência, a trajetória até o diagnóstico do autismo também não foi nada simples, principalmente pela falta de conhecimento.

“O diagnóstico de autismo chegou na nossa vida, na nossa família, aos 06 anos do Rafael. Porém, ele tinha características desde o nascimento, a gente só não tinha ideia de que aquelas características era de autismo, por falta de conhecimento mesmo”, relatou.

Logo que o pequeno entrou na escola, ainda com 03 anos, a escola percebeu que ele poderia ter alguma condição especial e indicou que a família procurasse um profissional.

No entanto, o processo até o laudo foi longo e demorado. A mãe ainda relata, além de toda a complexidade, o acesso continua sendo bastante complicado para diversas famílias, já que a investigação do espectro é cara.

“O autismo é um conjunto de características que confundem as vezes os médicos psiquiatras, os neurologistas, a chegarem nesse diagnóstico. Porque ele possui características de dislexia, TOD, TDAH, de TDA. São inúmeras as características que um autista, mesmo sendo leve, tem”, explicou.

Alcilena conta ainda que o diagnóstico é, de início, um grande choque de realidade para a família. Ainda há o desafio de quebrar o preconceito.

“Um diagnóstico de autismo, quando chega em uma família, normalmente é um período muito doloroso, porque a própria família não entende e não sabe o que fazer”, contou.

“Às vezes a sociedade julga e fala “nossa, mas ele é perfeito, normal, lindo”. Para ser autista não tem que ter deficiência física, é intelectual, a deficiência é mental, comportamental, as pessoas não percebem”, pontuou.

Em uma rotina diária de aprendizagem ao lado do filho que possui o diagnóstico leve, a mãe dedica o tempo cuidando, garantindo o bem-estar e desenvolvimento do pequeno.

Apae e Casa Joana 

Em Anápolis, a Apae e a Casa Joana contam com apoio e diversos tratamentos voltados para pessoas com autismo, síndrome de Down, os familiares, assim como também para outros diagnósticos.

Há 10 anos na cidade e atendendo mais de 70 pessoas, a Casa Joana conta com tratamentos psicológicos, pedagogo, artes, acompanhamento escolar, culinária, natação, dança e música para os pacientes.

Também já consagrada em Anápolis, a Apae trabalha hoje com mais de 200 atendidos, sendo destes cerca de 113 com diagnóstico ou hipótese de Transtorno do Espectro Autista e outros 100 com deficiência intelectual, paralisia cerebral, síndrome de Down e outras síndromes.

A instituição conta com fonoaudiólogo, psicólogo, fisioterapeuta, musicoterapeuta, psicopedagogo e diversos outros profissionais para trabalhar de perto com cada paciente de acordo com uma avaliação aprofundada de cada necessidade específica.

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