“Precisamos tratar a nossa sociedade antes de pensar em homeschooling”, afirma professora do IF Goiano
Ensino doméstico virou pauta diante de cenário recente de violência nas escolas em Goiás
Diante do cenário atual de ameaças e violência ocorrendo nos colégios goianos, o ensino doméstico (também conhecido como homeschooling) começou a ser debatido como uma alternativa para a segurança dos estudantes.
No entanto, a avaliação de quem é especialista em aprendizado e estuda o processo de aprender aponta que esse não é o melhor caminho a ser seguido.
Ao Portal 6, Maria Luiza Bretas, professora de linguagens do Instituto Federal Goiano (IF Goiano), explicou que a questão do ensino doméstico é muito mais complexa do que aparenta.
“Nós professores licenciados estudamos cinco anos para ensinar e, às vezes, os pais não tem condições de fazê-lo de forma adequada. É algo que exige tempo, preparação, conhecimento, planejamento e dedicação”.
Além disso, a pesquisadora pontuou que a escola também deve ser um lugar de autonomia, que ensine os alunos a socializar, respeitar os colegas e professores, e a ter liberdade de expressão e de pensamento.
Contudo, Maria Luiza afirmou que, após a fase mais crítica da pandemia, os estudantes se tornaram mais ansiosos e emocionalmente frágeis.
“Temos jovens extremamente abalados, inseridos em um contexto de muita incitação à violência, ao uso de armas. Isso tem afetado demais as crianças e adolescentes”.
Em diálogos com diversos alunos, a professora descobriu que, em muitos casos, há uma lacuna emocional muito grande, devido a um distanciamento afetivo entre pais e filhos dentro do ambiente doméstico.
“A família precisa ser um ‘porto seguro’, mas vemos, em muitos casos, que fica cada um no seu canto, sem participar da vida do filho. É muito importante que os pais estejam presentes, que procurem saber como o filho vai na escola, como é a relação dele com os colegas, com os amigos e professores”.
Sendo assim, Maria Luiza apontou esse afastamento como outro fator negativo para o ensino doméstico no momento brasileiro.
“Nós precisamos primeiro tratar a nossa sociedade, como um todo, antes de pensar em homeschooling. Mas eu não acredito que seja essa a saída [para o contexto atual]”.