Atraso na liberação de corpos em Anápolis gera revolta em famílias enlutadas

Falta de atendimento humanizado também é outra queixa apresentada à reportagem

Davi Galvão Davi Galvão -
Irene faleceu em casa, aos 93 anos, rodeada pela família. (Foto: Arquivo Pessoal/Elaine Freitas)Atraso na liberação de corpos em Anápolis gera revolta em famílias enlutadas
Irene faleceu em casa, aos 93 anos, rodeada pela família. (Foto: Arquivo Pessoal/Elaine Freitas)

Atrasos de até 12 horas para liberação de corpos e falta de atendimento humanizado. Essas são algumas das situações denunciadas por famílias de Anápolis que, mesmo enlutadas, têm enfrentado desafios para conseguirem se despedir do ente querido. O principal problema seria a não realização de exames periciais por parte do Serviço de Verificação de Óbito (SVO) em horários específicos, ocasionando a demora. 

Uma delas é a de Irene Peixoto Vitorino, de 93 anos, que faleceu na madrugada de sexta-feira (27), ao lado dos familiares e da própria casa, localizada no município. 

Após o corpo da idosa ser encaminhado ao Serviço de Verificação de Óbito (SVO), por volta de 01h30, a família foi informada que procedimentos de necropsia não eram realizados durante a madrugada e que o médico responsável por isso chegaria apenas às 07h.

Em entrevista ao Portal 6, a neta de Irene, Elaine Freitas, residente em São Paulo (SP), afirma que veio para Anápolis para estar com a avó – que a criou como mãe – durante os últimos momentos dela, mas revela um sentimento de frustração diante a “falta de atendimento humanizado”.

“Falaram que não tem médico para fazer a necrópsia de noite, não assinam obituário, só fazem isso quando o médico chega, atrasa tudo! Já é um momento difícil para a gente, passamos a noite em claro, estamos cansados, sem comida, sem dormir, como pode não ter médico de noite? Pessoas não morrem [de noite]?, questiona.

Irene faleceu em casa, aos 93 anos, rodeada pela família. (Foto: Arquivo Pessoal/Elaine Freitas)

Acompanhada de parentes, eles também reclamaram sobre a falta de pontualidade dos profissionais médicos que deveriam realizar a necrópsia.

“Falaram para a gente que às 07h ele [o legista] ia chegar. Deu 07h,a gente aqui na porta e nada. 08h e nada. Ele foi chegar faltando três minutos para 09h”, contou.

O mesmo ocorreu com os familiares da Maria de Fátima de Castro. Internada no Hospital Estadual de Anápolis Dr. Henrique Santillo (Heana), a anapolina faleceu por volta das 21h de quinta-feira (26), em decorrência de um AVC, aos 69 anos.

Encaminhada ao SVO, os parentes também tiveram de aguardar por mais de 12 horas até que o médico realizasse a perícia e pudesse liberá-la aos familiares.

Em um vídeo, publicado nas redes sociais, o pastor Elias Ferreira, que ministra os cultos onde Maria frequentava, e que acompanhou todo o drama dos parentes durante o atraso na liberação do corpo, também denunciou a situação.

“Tem muitos corpos aqui, com familiares aguardando indignados, não podem velar os corpos por falta de médico para fazer a verificação e liberação dos corpos. Isso por parte da Prefeitura de Anápolis”, disse.

O ponto central deste problema é que, conforme a Prefeitura destacou à reportagem, o SVO funciona, durante o período noturno, com uma equipe plantonista que realiza os procedimentos de recebimento do corpo e necropsia.

Porém, em ambos os casos citados na matéria, os familiares dos falecidos foram informados que o serviço pericial não era realizado durante os horários em questão, sendo necessário aguardar a chegada do médico responsável.

Fontes ouvidas pela reportagem também pontuaram que o SVO, por via de regra, não realiza necropsias durante o período noturno, muito embora o Instituto Médico Legal (IML) – que atua em mortes violentas – efetue os procedimentos independentemente do horário, apesar de ambas as unidades funcionarem nas mesmas instalações.

O que diz a Prefeitura

Responsável pela administração do SVO, a Prefeitura de Anápolis foi questionada pelo Portal 6 acerca da falta de profissionais durante o período noturno e madrugada, bem como relação ao atraso de quase duas horas do profissional citado na reportagem.

O Executivo municipal informou apenas que a média de atendimento na unidade é de cerca de duas horas e pode chegar a até quatro horas para cada corpo necropsiado, a depender de variáveis. O órgão, porém, não justificou os atrasos.

Ressaltou ainda que recentemente houve novas contratações que ampliaram a equipe médica e garantem escala mensal de servidores médicos completa 24h.

Confira a nota na íntegra:

A Prefeitura de Anápolis informa que a média de atendimento no Serviço de Verificação de Óbitos é de cerca de duas horas e pode chegar a até quatro horas para cada corpo necropsiado, a depender de variáveis como tempo de entrevista médica com familiares, particularidades da necropsia, coleta de amostras e preenchimento da Declaração de Óbito. A administração ampliou o número de auxiliares, motoristas e médicos, além de adquirir novos veículos de remoção de corpos e a reforma da estrutura física para qualificar o atendimento do SVO. Vale ressaltar ainda que não há saídas recentes de profissionais médicos. Por outro lado, houve novas contratações que ampliaram a equipe médica e garantem escala mensal de servidores médicos completa 24h.

 

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