Pai de menino que morreu dias depois de cair enquanto jogava futebol faz desabafo: “era um garoto fantástico”
Família acredita que postura da clínica que atendeu e liberou o menino por três vezes poderia ter sido mais responsável
“Ele era espetacular, não tinha problema com ninguém, gostava de jogar uma bola, era cheio de amigos na escola. Não é justo”. Foi apenas isso o que Adaílton Silva conseguiu falar sobre o filho, Matheus Henrique Souza Silva, de 11 anos, antes de desabar em lágrimas.
O garoto veio a óbito na noite da última sexta-feira (18), dias após um acidente enquanto jogava futebol, em Anápolis. Até hoje, os pais e a equipe médica não sabem ao certo qual foi a causa da fatalidade, com a incerteza pairando no ar e tornando o luto “insuportável”, nas palavras do pai.
Em entrevista ao Portal 6, Adaílton relembrou como foi a última semana que teve com o filho e como o pequeno definhou, mesmo com os pais seguindo todas as orientações médicas.
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“Na terça ele estava jogando bola, aqui no condomínio mesmo, não teve aula. Ele reclamou de dor de cabeça, enjoo, aí a gente deu um remédio e ele voltou a brincar, tudo normal, coisa de criança. Na hora de dormir, a gente viu que tinha um vermelhinho no braço dele e ele disse que caiu jogando bola, mas nada demais. Tomou mais um remédio para dor e foi para cama”, contou o pai.
Ele ainda destacou que, apesar de o caso do filho ter começado a piorar após o acidente durante o futebol, a família descartou a possibilidade de a lesão ter tido relação direta com a morte.
Durante a madrugada de quarta-feira (16), Matheus acordou reclamando de dores no braço e apresentando um inchaço na costela, o que fez com que os pais o levassem, pela manhã, até a unidade do Hap Vida da cidade. Lá, o garoto foi submetido a um raio-x, que não constatou nenhuma fratura.

Matheus queria ser jogador de futebol. (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
Adaílton afirmou que o médico suspeitou que o caso podia se tratar de uma virose e receitou algumas medicações. Como Matheus ainda estava vomitando, não foi para a escola naquele dia.
Na quinta-feira (17), o garoto novamente acordou de madrugada, vomitando e reclamando de dores, com o inchaço descendo para a região do quadril e, diante da situação, o levaram novamente para a clínica.
“Não pediram nenhum exame, não fizeram nada novo. O médico só olhou o raio-x da última vez, recomendou mais algumas medicações para a dor e liberaram. Nem olharam direito para ele”, denunciou o pai.
Na sexta-feira (18), a história se repetiu, com o garoto acordando de madrugada e os pais, sem saber mais o que fazer, o levaram até a clínica, onde desta vez foi realizada uma tomografia, que também não indicou nenhuma anormalidade.
“Até aí realmente ele tava se sentindo mal, com enjoo, reclamando de dor, inchado e com alguns pontinhos que pareciam bolhinhas de sangue, mas ele ainda estava bem. Abatido, tristonho, mas bem. Falaram para a gente que era uma patologia que eles não sabiam precisar o que era, mas que devia passar”, disse Adaílton.
Porém, mais tarde ainda no mesmo dia, já em casa, notando que o inchaço e manchas estavam se espalhando, a mãe do garoto resolveu lhe preparar uma refeição, com o intuito de melhorar a imunidade do filho. Foi aí que, ao tentar comer um pedaço de carne, Matheus disse:
“Mamãe, minha língua tá adormecendo”, relembrou o pai. A partir daí, a situação começou a ficar mais crítica e os pais correram com o garoto para o hospital.
Lá chegando, Adaílton contou que as mãos e pés do filho já estavam gelados e ele falava de forma muito enrolada, com a equipe médica anunciando que ele teria de ser entubado.
As últimas lembranças que o pai tem do filho, ainda em vida, são de quando o garoto estava sendo preparado para o procedimento e, em estado catatônico, parecia sequer reconhecê-los.
“Eu, a mãe dele, a gente apertava a mãozinha dele… Pedia para ele olhar para a gente… Para ele falar alguma coisa, ele nem reconhecia a gente”, relembrou o pai, com a voz entrecortada pelo choro. Mais tarde, o óbito foi declarado.
Adaílton destacou que, até o momento, o Instituto Médico Legal não declarou a causa da morte, com novos exames e testes sendo realizados. Para ele, pior do que saber que algo de errado foi feito com o filho, é a chance de nunca saber o que de fato ocorreu.
“Eu acho que nas primeiras vezes que ele foi lá pra clínica, que eles podiam ter olhado ele melhor. É uma criança, se não conseguem descobrir o que está errado com um exame, só mandam para casa? Fez o raio-x e não deu nada, deviam ter feito outro exame, foi só na terceira vez que resolveram fazer a tomografia e ainda assim, não tinha mais nenhum outro exame?”, questionou.
Enlutada, a família agora tenta se recuperar da perda, ainda mantendo as esperanças de novas informações que possam levar a uma conclusão.
“Meu menino era fantástico. Os coleguinhas dele, lá do militar [CEPMG César Toledo] mandaram um monte de cartinhas, falando como ele era na sala, dizendo que nunca vão esquecer dele. Ele era amado. Vai fazer falta. Tá fazendo”, terminou.
O que diz a Hap Vida
Em nota, enviada ao Portal 6 a Hap Vida lamentou a morte de Matheus e garantiu que forneceu toda a assistência necessária.
Confira a nota na íntegra:
“A empresa lamenta profundamente o falecimento do jovem paciente e se solidariza com a perda da família neste momento de imensa dor. Todo o corpo clínico e a equipe assistencial compartilham deste sentimento.
A unidade ressalta que o paciente recebeu toda a assistência necessária com exames laboratoriais e de imagem, indicados para seu quadro de saúde e está aguardando o laudo do IML de Anápolis para elucidação da causa do óbito”.






