Há 3 meses sem tomógrafo, UPA de Anápolis se tornou pesadelo para pacientes que precisam do exame
Ao Portal 6, família de idoso contou como a ausência do equipamento desencadeou uma série de complicações para o paciente, que apresentava sintomas de AVC
Há pouco mais de três meses, o Portal 6 repercutiu denúncias de pacientes e funcionários da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Vila Esperança, em Anápolis, nas quais reclamavam da demora no atendimento e, principalmente, da falta de um tomógrafo no local.
Apesar da publicação da reportagem ter acontecido há quase 90 dias, o problema não parece ter sido superado, tampouco resolvido, como relatou um leitor, em entrevista à reportagem.
O homem, que preferiu não se identificar, contou que levou o pai dele, um idoso de 78 anos, à unidade de saúde na última sexta-feira (08), por volta das 20h30, com sintomas de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). No entanto, os problemas se iniciaram ainda na triagem.
“O primeiro atendimento já foi incorreto. Na triagem não colocaram o caso do meu pai como urgente, mesmo ele chegando com sinais claros de AVC, sem receber o alerta vermelho”, disse o anapolino.
Depois de mais de uma hora de espera e uma clara piora no quadro, eles conseguiram um atendimento, no qual a médica imediatamente solicitou uma tomografia, que não pôde ser realizada no local.
“Para nossa surpresa, o tomógrafo estava estragado, e por informações que os funcionários me falaram, já estava assim há alguns meses”, relembrou.
Problemas desencadeados
Diante disso, o idoso precisou ser encaminhado para outra unidade hospitalar, mas, para isso, precisaria aguardar uma ambulância — mais um capítulo complicado da noite. Durante esse tempo, o Hospital Evangélico Goiano (HEG) chegou a recusar a transferência, por falta de vagas no local.
“Não tinha ambulância na UPA, a ambulância da UPA estava em Goiânia e demoraria horas para chegar. Todo momento chegava uma ambulância do [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] Samu, mas não poderia ser aquelas”, contou, indignado.
Já por volta das 02h da madrugada — mais de 06h desde a entrada na UPA — finalmente o idoso conseguiu um encaminhamento para a Santa Casa, onde foi realizado o exame de tomografia, uma vez que a instituição possuía o equipamento.
Depois dos trâmites, o paciente retornou para a UPA, onde finalmente recebeu o atendimento na ala vermelha, destinada a casos de emergência.
Já por volta das 08h30 da manhã de sábado (09), um novo encaminhamento: agora para o Hospital Estadual de Anápolis Dr. Henrique Santillo (Heana).
Falta de comunicação
No entanto, a dor de cabeça retornou, após o anapolino descobrir que os hospitais (UPA, Santa Casa e Heana) não possuíam intercomunicação e, por isso, a tomografia realizada não havia sido recebida.
“Isso é um descaso, perdemos muito tempo, tudo que fizemos na Santa Casa e na UPA foi à toa”, pontuou o filho do idoso, revoltado.
Mais de 13h desde a chegada na UPA, e por falta de um tomógrafo no local, o paciente, que foi constatado com um quadro grave de AVC hemorrágico, finalmente recebeu o atendimento adequado no hospital de urgências.
“O que fica é um sentimento de descaso. Eu sou pagador de impostos e a gente vê nosso dinheiro sendo mal gerido, vê o dinheiro sendo gasto com tanta coisa, para fazer prédio público, pagar funcionário do prefeito, enquanto a saúde está comprometida”, declarou.
“Não sou eu que estou falando isso, eu vejo relato das pessoas do dia a dia, todo mundo sabe”, concluiu.
O que diz a Prefeitura?
Diante da situação envolvendo a falta de tomógrafo na UPA Vila Esperança, a qual ocasionou uma série de reviravoltas para os pacientes, o Portal 6 entrou em contato com a Prefeitura de Anápolis, que, por meio da Diretoria de Assistência em Saúde, informou que, de fato, o equipamento do local não está funcionando.
Em nota, a pasta afirmou que foi comprada uma peça que não está disponível no Brasil para a restauração do aparelho, e por isso é necessário aguardar a chegada.
Confira a nota na íntegra:
“A Diretoria de Assistência em Saúde informa que o tomógrafo não está funcionando porque aguarda a chegada de uma peça que não existe disponível no Brasil.
Os pacientes, dentro do perfil da unidade de urgência e emergência, conforme protocolos institucionais da INDSH e com indicação médica, estão realizando os exames nas unidades contratadas pela organização social, sem limite de número de exames diários, sendo Santa Casa e Hospital Evangélico Goiano.
Não são realizados exames eletivos ou de controle, ou ainda de cunho ambulatorial ou investigativo de doenças crônicas por não ser o foco da unidade.”