Leia, na íntegra, o triste relato de sargento grávida e vítima de constante assédio moral na Ala 2: “pensei em tirar a vida”

Além da implicância com o peso, vítima também teve de abrir mão de tratamento de saúde após ameaça

Samuel Leão Samuel Leão -
Leia, na íntegra, o triste relato de sargento grávida e vítima de constante assédio moral na Ala 2: “pensei em tirar a vida”
Base Aérea de Anápolis. (Foto: Divulgação)

Uma sargento da Força Aérea Brasileira (FAB), lotada na Ala 2 de Anápolis – que não será identificada –  compartilhou um relato sobre o assédio moral sofrido desde agosto de 2024, quando foi transferida para a base.

Segundo ela, mesmo desempenhando as funções com zelo, passou a ser alvo de humilhações constantes por parte da chefe direta, que fazia piadas ofensivas sobre o corpo, além de isolamento social e ameaças caso precisasse de atestados médicos.

Transferida para a Ala 2 em meados de 2024, a primeira ‘implicância’ recordada pela sargento começou logo uma semana após. Quando quis organizar o horário do almoço para pegar a filha na escola, escutou da superior, uma major, que teria apenas 10 minutos para comer. “. Ela não saía pro almoço enquanto eu não voltava para cronometrar o tempo. Tive que organizar com o meu esposo para buscar nossa filha na escola”, explicou.

As ofensas, conforme relembrado por ela, foram escalando. Um dia, chegou a ser questionada pela major  – ‘como seu marido quis casar como uma baleia como ela“. “Comendo igual uma jumenta”, é outra expressão utilizada pela superior e acompanhada aos risos por pessoas próximas.

Com o pretexto de que ela precisava perder peso, era proibida pela major de tomar café da tarde e participar de confraternizações.

Se sentindo perseguida, ela conta que sentiu taquicardia algumas vezes enquanto dormia e chegou a pensar que estaria tendo um infarto. O distúrbio de ansiedade foi diagnosticado e concedido um atestado médico de cinco dias. “Ela me ameaçou dizendo se eu usufruísse do atestado seria mandada embora. Então desses 5 dias, eu só fiquei fora dois”, ressaltou.

Sob as condições de uma gravidez de risco, ela até conseguiu ficar 30 dias afastada em razão de uma piora no quadro de saúde, mas quando retornou ao trabalho se deparou com uma mesa, de frente para uma parede branca, na qual ela tinha que ficar sentada o dia todo sem fazer nada.

“Me colocaram em uma mesa de frente a uma parede branca e não me deram nada para fazer, eu perguntava ao meu novo chefe, ele sempre dizia que precisava de senha e token, então eu corri atrás e fiz o que precisava e mesmo assim não me deram nenhum trabalho para fazer. Para aprender o serviço da sessão eu pedi aos colegas que me ajudassem e eu dependia deles estarem fora para fazer o serviço nas senhas deles”, desabafou.

Ela ainda relata que outro militar teria notado os abusos e formalizado uma denúncia para a comissão do Programa de Valorização da Vida (PVV). Por ele, ela foi orientada a gravar as situações para se resguardar e provar os abusos que vivenciava.

“Só que, após eu reunir os materiais e fazer uma denúncia formal, a comissão do PVV nunca mais falou comigo. Me senti desamparada e fui mandada embora três dias após revelar que estava grávida ao meu superior”, contou.

Taquicardia durante o sono e até um distúrbio alimentar, visto que ela era vigiada para não comer durante o expediente (já que a major dizia que  ela precisava emagrecer), surgiram na vida da sargento, ocasionados pela forma como era tratada no serviço.

“Eu era humilhada constantemente, um dia eu lavei o chão junto com os soldados e ela chegou em seguida, passou o dedo na mesa dela e disse que até estava bom, que não tinha muito que reclamar de mim. Só que isso nem era a minha função! Ela espalhou boatos e mentiras ao meu respeito e isso me fazia muito mal”, concluiu. Em determinado momento do relato, a sargento disse ainda que chegou a pensar em autoextermínio: “pensei em tirar a vida”.

Diante da formalização das denúncias, a sindicância interna instaurada descartou a hipótese de terem ocorrido abusos, apontando que “foram poucas vezes e em tom de brincadeira” as situações reportadas. Confira a seguir a nota, acerca do caso, emitida pela FAB:

A Força Aérea Brasileira (FAB), por meio do Comando de Preparo (COMPREP), informa que foi instaurado um processo administrativo com o intuito de apurar os fatos, concluindo que não foram identificadas evidências que confirmassem as alegações de assédio moral.

Destaca-se, ainda, que a militar, do quadro temporário, continua integrando o efetivo da Instituição.

A FAB reforça o seu compromisso com a ética e a justiça, sempre prezando por uma comunicação transparente e responsável.

*Colaborou Karina Ribeiro 

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