Por que, ano após ano, a Marginal Botafogo sofre desabamentos e inundações na época de chuvas?
Para compreender causas dos recorrentes alagamentos, Portal 6 ouviu especialista que apontaram uma série de fatores
A inundação registrada na Marginal Botafogo, em Goiânia, no dia 06 de dezembro, que deixou um homem ilhado, não foi um episódio isolado. Há muitos anos, a via — uma das principais da capital — é frequentemente atingida por enchentes, que colocam motoristas em risco e provocam danos à infraestrutura local.
Para compreender as causas dos recorrentes alagamentos, o Portal 6 ouviu dois especialistas, que apontaram uma série de fatores. O principal deles, destacado por ambos, é a impermeabilização excessiva — ou seja, a grande quantidade de áreas concretadas, que dificulta o escoamento da água da chuva.
Segundo o arquiteto e conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), David Finotti, durante a construção da via — localizada em uma região naturalmente baixa da cidade — houve a canalização do córrego, intervenção que consiste em moldar ou cobrir o leito de rios e cursos d’água, além da pavimentação com asfalto.
Essas ações impedem a infiltração da água, sobretudo nas áreas mais elevadas, fazendo com que ela se concentre nos pontos mais baixos.
Outro fator apontado diz respeito à área ao longo da Marginal Botafogo, classificada como Área de Preservação Permanente (APP) para proteção do Córrego Botafogo, mas que sofre com ocupações irregulares.
Além disso, algumas moradias possuem sistemas de drenagem que lançam a água diretamente na via.
“A primeira questão é o córrego. Ele possui uma área de APP justamente para absorver a água da chuva e evitar alagamentos. No entanto, esse corredor ecológico foi praticamente todo suprimido, somado à ocupação irregular ao longo do curso d’água. Era uma área que deveria ser permeável, mas foi removida e substituída por elementos urbanos”, explica Finotti.

Carro ficou ilhado na Marginal Botafogo durante temporal, em Goiânia. (Foto: Reprodução)
Falhas estruturais
A avaliação é corroborada pelo engenheiro agrônomo, especialista em gestão de recursos hídricos, Marcelo Bueno Fernandes, que também destaca problemas como entupimentos nas galerias pluviais, falhas estruturais e processos de erosão.
De acordo com ele, a própria estrutura da via apresenta desníveis e variações, o que contribui para a ocorrência de inundações. Paralelamente, o córrego — por onde a água deveria escoar — já opera com nível elevado.
“Foi retirada praticamente toda a área permeável, e a cota de inundação do córrego está muito alta. Há trechos da Marginal que não possuem contenção em concreto; em alguns pontos, estruturas já cederam, o que envolve falhas na engenharia de contenção de barrancos. Se a chuva for intensa e a velocidade da água elevada, a força do fluxo provoca ainda mais danos à estrutura física”, ressalta.
As mudanças climáticas também contribuem para a intensificação do problema, uma vez que a Marginal Botafogo recebe atualmente um volume de chuvas superior ao previsto no projeto original. À época do planejamento, Goiânia possuía menor adensamento urbano, além de mais áreas verdes e permeáveis.

Obras para recuperação da Marginal Botafogo acontecem com frequência. (Foto: Divulgação/Seinfra)
Soluções
Para David Finotti, a alternativa mais eficaz seria a implantação de um parque linear. A proposta prevê a criação de um espaço verde contínuo ao longo do córrego, com foco na preservação ambiental e no controle de cheias.
“A solução passa pela renaturalização do córrego e pela transformação da via em um parque linear, com a retirada do asfalto e o reflorestamento da área. Assim, além de um parque urbano, teríamos um corredor verde no centro da cidade, que contribui para a redução das ilhas de calor e da poluição do ar”, afirma.
Marcelo Bueno Fernandes também defende a adoção do parque linear, destacando que a iniciativa é viável na capital. Ele cita exemplos internacionais, como o da Coreia do Sul, que adotou o conceito de ‘cidades-esponja’, nas quais áreas urbanas são planejadas para absorver, filtrar e armazenar a água da chuva por meio de infraestrutura verde.
Apesar disso, o especialista pondera que a Marginal Botafogo demanda um conjunto de intervenções. Segundo ele, a construção de dois piscinões para contenção e escoamento de água, anunciada pelo prefeito Sandro Mabel (UB), pode ajudar a reduzir os impactos das enchentes.
“São várias as ações necessárias para enfrentar o problema, aproveitando áreas de infiltração. Há pontos onde podem ser implantadas valetas de drenagem para evitar o acúmulo de água. Essa é uma medida inicial, mas são necessárias múltiplas intervenções e um estudo técnico bastante complexo”, destaca.

Vista aérea da Marginal Botafogo. (Foto: Reprodução/Prefeitura de Goiânia).
Posicionamento
Em nota enviada ao Portal 6, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana (Seinfra) informou que a Prefeitura de Goiânia realiza intervenções pontuais na Marginal Botafogo e que está prevista uma requalificação completa da via.
“Entre as intervenções previstas estão a recuperação e ampliação do canal central, inclusão de bacias de contenção, reforço da estabilidade do aterro, contenção de erosões, revisão dos pontos de lançamento que chegam ao canal, reconstrução do asfalto, melhorias no paisagismo e reforço das contenções laterais e do fundo do canal”, destacou o documento.
Confira a seguir a nota completa da Seinfra:
A atual gestão tem efetuado intervenções pontuais na Marginal Botafogo com o objetivo de garantir a segurança da via. O monitoramento é rotineiro e constante para detecção de riscos de colapso que comprometam a segurança dos usuários quanto ao tráfego. As manutenções são pautadas nos problemas encontrados.
Os alagamentos são verificados quando há ocorrência de temporal. Para evitar acidentes nestes períodos, a Defesa Civil promove a interdição da Marginal Botafogo.
Para resolver os problemas da via, a atual gestão da Prefeitura de Goiânia enviou proposta — que foi aprovada — para requalificação total da Marginal Botafogo, dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, na modalidade de Prevenção a Desastres Naturais – Drenagem Urbana, que prevê um investimento de R$ 267 milhões.
Após aprovação pelo Governo Federal, é exigido o projeto executivo, dentro do prazo máximo de 180 dias, para que a própria Secap conduza a licitação.
Entre as intervenções previstas estão a recuperação e ampliação do canal central, inclusão de bacias de contenção, reforço da estabilidade do aterro, contenção de erosões, revisão dos pontos de lançamento que chegam ao canal, reconstrução do asfalto, melhorias no paisagismo e reforço das contenções laterais e do fundo do canal.
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