“Não adiantava falar, ninguém ouviu”, diz jovem de Goiânia que passou 53 dias preso injustamente

Luiz Brendo contou ao Portal 6 como tudo aconteceu e como foram os dias de cárcere

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
“Não adiantava falar, ninguém ouviu”, diz jovem de Goiânia que passou 53 dias preso injustamente
Luiz recebeu a notícia de que foi aprovado em concurso no mesmo dia em que foi preso (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)

53. Essa foi a quantidade de dias de desespero, confusão e medo que Luiz Brendo Mac Dovel, de 23 anos, viveu enquanto esteve preso injustamente em Aparecida de Goiânia. Acusado de cometer um crime que ele sequer tinha ciência, o jovem relatou ao Portal 6 como foram os dias de cárcere.

Estudante de direito e natural de Belém do Pará, Luiz foi preso por um latrocínio registrado em Santa Catarina. Isso porque ele possui o mesmo nome, ano de nascimento, nome de mãe e naturalidade que o verdadeiro suspeito.

Além disso, o rapaz ainda se encontrava no estado na época que o crime ocorreu, o que levou a uma sequência de coincidências infelizes que o incriminou.

A prisão

Era uma segunda-feira, dia 11 de dezembro de 2023, quando a polícia bateu na casa de Luiz com uma intimação. Ele estava na academia e, depois, foi prontamente até uma delegacia próxima de casa, em Goiânia, que estava fechada. Retornou no dia seguinte para entender o problema e saiu já algemado.

“Falaram que tinha um mandado de prisão e que iam me prender. Eu estava com minha namorada e pedi para ela avisar minha mãe, que foi lá com um advogado, mas não adiantou nada”, disse.

“Foi horrível. Nunca pensei que passaria por algo assim na vida. Nem sei explicar como me senti. Foi muito humilhante ser algemado e ir para um presídio”, acrescentou.

Na cadeia, rasparam a cabeça de Luiz, tiraram a roupa dele e fizeram uma revista completa enquanto ele tentava explicar que não havia cometido crime algum.

“O pessoal não escuta preso. Não adiantava falar, ninguém ouviu”, contou.

Audiência de custódia

Após levar tapas, dormir no chão e comer refeições com “cheiro meio podre”, o jovem foi submetido a uma audiência, momento em que surgiu a esperança de que iria para casa.

“A juíza viu que não era eu na foto. O promotor também viu. Meu advogado falou que não era eu. Mas a juíza falou que não poderia me soltar porque daria problema para ela. Fiquei sem entender”, disse.

Então, Luiz ficou preso, juntamente com criminosos, que, segundo ele, portavam facas, se batiam e ainda eram espancados pelos policiais.

“Isso são as coisas que consigo me lembrar, mas tem mais coisa que é difícil ficar pensando. Estou tentando não lembrar nada de lá, tentando ocupar minha cabeça com outras coisas. É até difícil falar sobre isso. São situações muito humilhantes. São coisas horríveis”, relatou.

No mesmo dia em que foi preso, o jovem, que havia pausado os estudos na área de direito para se preparar para um concurso de sargento, recebeu a informação de que foi aprovado. No entanto, em janeiro, foi convocado para a prova de aptidão física, mas não compareceu por estar na prisão.

Soltura

O pesadelo de Luiz durou até a última quinta-feira (1º), quando foi expedido o alvará de soltura depois que constou-se o erro. Porém, a liberdade hoje vivida pelo jovem não apaga as marcas da injustiça sofrida.

“Imaginei uma carreira toda para minha vida, mas não deu certo. […] Nem sei o que vou fazer agora. O que eu mais quero é esquecer tudo que aconteceu naquele local”, disse.

De acordo com Luiz, os próximos passos serão analisados com calma, sendo que a possibilidade de ação judicial contra os envolvidos será analisada juntamente com o advogado.

“É o certo a se fazer. Foi erro grave da polícia, juíza e promotor. Viram que eu não era o culpado, mas preferiram me manter preso”, finalizou.

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