Pacientes se queixam de luta para conseguir atendimento neurológico em Anápolis: “estou perdendo os movimentos”
Moradores lidam com problemas operacionais e aguardam encaminhamentos para cirurgias de alto risco sem nenhuma resposta
Com a crescente demanda de pessoas esperando por atendimento e encaminhamentos no Sistema Único de Saúde (SUS) de Anápolis, a indignação tem tomado conta dos moradores, que cada vez mais reclamam da demora para conseguir atendimentos.
No entanto, a situação é ainda mais séria quando se trata de consultas e exames com especialistas em neurologia, com pacientes tendo de esperar meses por uma oportunidade na mesa de cirurgia.
Ao Portal 6, a servidora pública Nilva de Sousa Macedo, de 43 anos, contou que luta contra um tumor sério no cérebro, mas que, desde as primeiras consultas e exames, a experiência tem sido frustrante.
“Fiz uma ressonância magnética no dia 04 de março e deveria receber os resultados no dia 08. No entanto, fui informada de que precisaria repetir o exame com contraste. Após repetir o exame, para minha surpresa, as imagens que me foram enviadas não incluíam aquelas feitas com contraste”, explicou a paciente, que precisou refazer o procedimento e nem mesmo foi utilizado.
Ela ainda relata que ao imprimir os resultados, o próprio médico não conseguiu ler e avaliar, pois as imagens estavam “distorcidas e de baixa resolução”.
Nilva ainda destacou que só conseguiu ter acesso aos exames corretos e com as imagens visíveis após receber auxilio de um amigo neurologista que trabalha no município.
Após análise do profissional, a servidora ouviu que deveria passar por cirurgia para remover o tumor cerebral, mas que seria necessária uma nova consulta.
No entanto, mesmo com a solicitação feita, até a publicação desta matéria a paciente não recebeu nenhum encaminhamento.
“Estou sem tratamento adequado mesmo com sintomas neurológicos graves. O lado esquerdo do meu rosto está paralisado, tenho fortes dores de cabeça e problemas nas vistas”, evidenciou.
Dores constantes
Já André Luiz dos Santos, carpinteiro de 38 anos, passa por um sofrimento sem fim após um acidente de trabalho, em junho de 2023.
Segundo o homem, após a queda, ele chegou a passar por duas consultas com clínicos gerais na Unidade De Pronto Atendimento Dr. Alair Mafra Andrade, onde somente foram receitados medicamentos.
No entanto, as dores persistiram, até que um médico indicou que ele procurasse um ortopedista.
Assim, no segundo atendimento o homem foi encaminhado para realização de exames, no qual constaram uma neuropatia – doença que atinge o funcionamento dos nervos – , além de uma hérnia de disco na lombar e diversas degenerações próximas à nuca.
“Em outubro o meu ortopedista me deu o encaminhamento para o neurocirurgião, porque ele falou que o meu caso é cirurgia. A minha tendência é, se continuar, a cadeira de rodas. Estou perdendo movimentos das pernas e das mãos”, explicou o paciente indignado.
Apesar da gravidade, André Luiz conta que, desde que os dados dele entraram no sistema no ano passado, não há vagas para a especialidade em Anápolis.
“Devido a esse problema, eu estou sem trabalhar, estou com minha mulher gestante de sete meses. Já procurei políticos aqui dentro da cidade também, onde eles tentaram junto lá a Secretaria da Saúde para ver se conseguia, mas aqui dentro de Anápolis, infelizmente, nós não estamos conseguindo o neurocirurgião”, pontuou.
O carpinteiro também chegou a tentar o Auxílio-Doença, no entanto, foi negado. Ele segue procurando apoio no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), mas ainda não obteve resposta.
“O que está acontecendo com a nossa saúde aqui na cidade de Anápolis é um descaso, é uma falta de respeito. Na hora de cobrar impostos, eles são cobrados, mas esse investimento infelizmente a gente não está vendo”, destacou.
Resposta
O Portal 6 entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde (Semusa), para entender como está o quadro de profissionais especialistas na área dentro em Anápolis. A pasta respondeu por meio da seguinte nota:
A Secretaria de Saúde informa que a rede pública municipal conta com dois neurologistas efetivos. Os atendimentos de neurocirurgia eram realizados por um prestador que recentemente solicitou desabilitação. Diante da necessidade de atender a demanda dessas especialidades, a Secretaria realizou Processo Seletivo para cobrir não apenas essas faltas, como todas as demais necessidades do quadro profissional. As tratativas para dar início ao chamamento dos profissionais já estão em andamento.