Comércio do Centro de Goiânia tem pouco a comemorar no Dia do Trabalhador

Ao Portal 6, proprietários que atuam na localidade há mais de duas décadas relatam cenário preocupante

Gabriella Pinheiro Gabriella Pinheiro -
Comércio do Centro de Goiânia tem pouco a comemorar no Dia do Trabalhador
Centro de Goiânia. (Foto: Arquivo/Carlos Siqueira/UFG)

A ausência de segurança aliada a falta de políticas públicas de revitalização e cuidados com a infraestrutura de praças são alguns dos pontos que evidenciam a situação do Setor Central, em Goiânia, e que contribuíram para que mais de 12 mil comerciantes do Centro da capital fechassem as portas desde março de 2019. Os dados foram extraídos a partir da redução da arrecadação de ISS e IPTU pela Secretaria de Finanças (Sefin). 

O local, que antes marcava a efervescência da cidade no início dos anos 2000, agora lida com um cenário adverso marcado ainda por redução de fluxo de clientes e, principalmente, falta de cuidados estruturais para com a região.

Em entrevista ao Portal 6, proprietários que atuam na localidade há mais de duas décadas relatam que a situação vem escalonando nos últimos anos e apontam a desistência por parte de lojistas em permanecer no local – migrando para outros setores.

À reportagem, um dos proprietários da livraria Hocus Pocus Jr, Luiz Antonio de Oliveira, revela que bairros como Setor Bueno e Marista vem ganhando espaço, enquanto a região Central tem sido deixada de lado e carece de projetos de revitalização para atrair a população até o local e manter os empresários na região.

“É um processo que vem de muitos anos. O comércio migra e o Centro deixa de ser uma referência. Hoje, por exemplo, as pessoas não precisam ir até o Centro para comprar algo. E junto a isso, não houve uma política de revitalização. Hoje você anda algumas quadras pelo local e você vê o tanto de loja fechada”, diz.

Na opinião do proprietário, o problema é estrutural e deve-se principalmente a medidas insuficientes apresentadas pelo poder público que não são capazes de suprir os verdadeiros problemas do local.

“Eu acho que manter limpo e fazer a sinalização são coisas básicas. Acho que o poder público tinha que ter um olhar para isso. Eles fazem feira, festinha e é até bom. É uma alternativa de renda, mas impacta pouco no comércio. A gente vem de um processo pós-pandemia, que houve uma desaceleração muito grande. A nossa loja está aqui há 32 anos e muitos do entorno fecharam, mas a gente tá sobrevivendo”, destaca.

Uma avaliação similar é observada por Wanderlei Marques, proprietário da loja Antiquário Brechó Goiano, localizada na Rua 3, número 13. Para ele, além da migração para outros pontos, o setor também sofre com outro problema: a falta de segurança.

Já na região há 27 anos, ele afirma que as praças centrais vêm sendo ocupadas por moradores de ruas e usuários de drogas – um problema de saúde pública que, muitas vezes, afugentam a clientela e criam um clima de insegurança entre os lojistas. 

“Aqui onde eu trabalho tem uma praça e tem outra praça na Rua 10 que estão tomadas por moradores de rua. O que o meu cliente reclama é disso. […] Eu acho que o que pega mais é o cuidado e a falta controle do pessoal que está aqui. Eu convivo com eles [moradores de rua] das 08h às 18h e eles pedem dinheiro, mas alguns mexem com droga e tinha que ter um controle desse pessoal”, reforça.

Para além da ampla quantidade de moradores e usuários de drogas, ele também chama a atenção para a falta de policiamento na região e para a ausência de cuidado com a estrutura das praças. 

“Aqui no Centro acontece algo, a pessoa não tem pontos de atendimento mais próximos. Eu penso que o Governo tinha que fazer algo. […] Falta colocar pontos de segurança em pontos críticos. Outra situação é que as praças estão mal cuidadas. Você vem aqui e acha pessoas vendendo drogas, a praça da Rua 10, esquina com a Alameda Botafogo, é uma praça podre e está no Centro. Eu não entendo porque o Governo não cuida”, dispara. 

MAIS PROBLEMAS…

As demandas para uma revitalização no setor Central não são de agora e já são requisitadas há um certo tempo por lojistas e pela Associação Comercial e Industrial do Centro de Goiânia (ACIC). 

Ao Portal 6, o presidente do órgão, Antonio Alves Ferreira Filho, destaca que a região lida com a presença de vendedores ambulantes, cobranças de multas no estacionamento rotativo (área azul) e roubos em lojas por parte de moradores de ruas, que vem servindo para afugentar comerciantes até a região. 

“É um problema crônico. Quem, por exemplo, vai uma vez e é multado na área azul enquanto está pegando o bilhete, não volta mais. Os ambulantes são um problema constante que promovem uma concorrência desleal, vendendo sapatos falsificados na porta da loja de calçados. Eles impedem a via. A gente já pediu para Prefeitura várias vezes, mas não houve resposta”, salienta. 

Ele também destaca que as obras do BRT foram um dos principais motivadores para o fechamento de lojas no Centro e que serviram para prejudicar o acesso de comerciantes e horário de funcionamento dos lojistas, justo em um cenário pós-pandemia. 

Uma das esperanças enxergadas pelo presidente é o projeto Centraliza. A proposta tem como objetivo requalificar o Centro de Goiânia e solucionar problemas relacionados à segurança pública, de infraestrutura, de mobilidade, de bem-estar, de lazer e convivência, além da falta de atrativos e da ausência de pessoas no ambiente. 

Mesmo assim, Antonio salienta que, no momento, a Administração Municipal tem se preocupado em implementar medidas mais brandas na localidade que podem não oferecer um impacto agressivo. 

“Ali [Centraliza] tem alguns tópicos que a Prefeitura já está implementando como a substituição das lâmpadas por LED, mas é necessário medidas mais agressivas. A gente tem brigado muito com a Prefeitura para a retirada dos ambulantes, colocação de bancos nas praças e a questão da diminuição do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)”, finaliza. 

Gabriella Pinheiro

Gabriella Pinheiro

Jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás, está sempre atenta aos temas que impactam o dia a dia da população. Começou como estagiária no Portal 6 e, com dedicação e olhar apurado, chegou à editoria. Tem interesse especial na prestação de serviços, mas não dispensa uma boa reportagem ou uma história bem contada.

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