Cidade do interior de Goiás vira palco de disputa bilionária entre a China e a Holanda

Com menos de 11 mil habitantes, município pode movimentar até mesmo uma investigação na Comissão Europeia

Natália Sezil Natália Sezil -
Instalações da mineradora Anglo American nas imediações da cidade de Barro Alto. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)
Instalações da mineradora Anglo American nas imediações da cidade de Barro Alto. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress)

Imagine uma cidade pequena no Centro de Goiás, com população estimada em 10.738 habitantes e reservas de níquel que podem determinar uma disputa global. O município de Barro Alto tem atraído atenção internacional e causado discórdia entre empresas da China e da Holanda.

A Folha de São Paulo repercutiu, no último sábado (24), os movimentos geopolíticos que têm determinado o destino da cidade pelos próximos anos. Transações bilionárias são definidas pelo que as jazidas presentes ali podem oferecer às multinacionais.

Até então, quem operava no município era a Anglo American, que tem origens sul-africana e britânica. A empresa tinha controle sobre aquela mineração desde 2004, mas vendeu a planta de níquel para a MMG no início deste ano.

Braço da estatal chinesa China Minmetals Corporation, a MMG diz “minerar para o progresso”. Hoje, já possui operações no Peru, Botsuana, República Democrática do Congo e na Austrália. A obtenção de jazidas em Goiás marca a entrada da empresa no mercado brasileiro.

Ainda somaram à negociação outra planta em Niquelândia e dois novos projetos de exploração, no Pará e no Mato Grosso. A transação é avaliada em US$ 500 milhões, o que equivale a mais de R$ 2,7 bilhões.

Com o aceite da MMG, a Anglo American rejeitou uma segunda concorrente: a Corex Holding, holandesa. Ainda sem operações nas Américas, o fechamento deste contrato poderia significar uma expansão valiosa para a multinacional, que quer competir no mesmo nível que a China.

Segundo o bilionário turco Robert Yüksel Yıldırım, que controla a Corex Holding, o preço dado por ele era mais alto que o valor apresentado pela MMG. Ele disse à Folha que havia oferecido US$ 900 milhões (quase R$ 5 bilhões).

China mantém quase um monopólio

A China já é destaque em outros segmentos da mineração, e expande cada vez mais o controle sobre insumos vitais para a transição energética.

As terras raras são grande exemplo disso: o país asiático controla 70% da extração de terras raras no mundo.

O Brasil segue logo atrás, se destacando cada vez mais à medida que multinacionais disputam terrenos em Minaçu, Iporá, Cavalcante, Monte Alegre e Nova Roma.

Quem mais tem buscado controlar esse novo mercado são o Japão – que quer competir com a China – e os Estados Unidos – que vê os minérios raros como uma moeda de troca ao tarifaço.

Comissão Europeia foi acionada

A transação pode causar um processo de apuração pela Comissão Europeia. Uma petição já foi entregue pela Corex Holding em Bruxelas e no Brasil.

O documento afirma que a compra da MMG aumenta a concentração de mercado sob controle chinês, de forma que ameaçaria a concorrência e a segurança de suprimento na União Europeia.

Ainda não se sabe se uma investigação será aberta para apurar isso.

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Natália Sezil

Natália Sezil

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal de Goiás, é estagiária do Portal 6 e atua na cobertura do cotidiano. Apaixonada por boas histórias, gosta de ouvir as pessoas, entender contextos e transformar relatos em narrativas que informam e conectam o público.

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