A cada 10 dias, 4 mulheres morrem vítimas de violência doméstica em Goiás

Ao Portal 6, especialista explica como detectar primeiros sinais que podem evoluir para casos mais graves

Augusto Araújo Augusto Araújo -
À esquerda, imagem mostra o fisiculturista Igor Porto Galvão e a ex-esposa Marcela Luíse. Na direita, é possível ver Douglas José de Jesus e a pedagoga Fábia Cristina Santos, também morta pelo marido. (Foto: Redes sociais/ Arquivo Pessoal)

Mesmo com diversas ações para coibir a violência doméstica, o crime continua sendo um grande motivo de preocupação em Goiás. Isso porque, ainda que a taxa homicídios de mulheres tenha reduzido 40% entre 2012 e 2022 (conforme dados do Atlas da Violência 2024), foram registrados 146 feminicídios no estado nos dados mais recentes – ou seja, uma morte a cada 2,5 dias. Para se ter ideia, dois casos ganharam grande cobertura dos veículos de comunicação por conta do grau de crueldade: Marcela Luise de Souza Ferreira, que morreu após ser espancada pelo fisiculturista Igor Porto Viana e da pedagoga Fábia Cristina Santos, vítima do próprio companheiro, com quem tinha um filho adolescente.

Uma das principais causas dessa estatística trágica está na dificuldade de identificar os primeiros “sintomas” de um relacionamento abusivo, que pode culminar em agressões físicas que levam à morte.

Ao Portal 6, a psicóloga Nádia Santana, mestre em psicologia da personalidade e psicoterapeuta, explicou que a violência doméstica pode começar com sinais muitas vezes ignorados e como superar os traumas deixados nas vítimas.

Ela ressaltou que cada caso começa a se manifestar de forma particular, sem haver um “padrão” para que se aconteça. No entanto, a especialista pontuou que até mesmo certos comportamentos que aparentam ser positivos no começo podem se tornar uma forma de violência psicológica.

“A pessoa pode fazer um grande esforço para agradar, estar sempre disponível, mas que não considera os seus sentimentos, desfaz aquilo que é importante para você. Por exemplo, vamos supor que sua prima é uma pessoa muito importante para você e ele te impede de se encontrar com ela”, explicou.

Além disso, Nádia destacou que muitas vezes pode levar anos até que uma violência psicológica evolua até uma agressão física, ou até mesmo nunca acontecerem os ataques corporais.

No entanto, a psicóloga afirmou que mesmo essas limitações na liberdade da outra pessoa podem ter consequências severas.

“Se você percebe que a pessoa deixa de fazer coisas que ela fazia que era importante para ela, deixou de repente de visitar a família, ir à academia, ver os amigos, são indícios preocupantes”.

Como sair dessa relação? 

Nádia explicou que o primeiro passo é reconhecer que está em um relacionamento violento, mas que apenas isso não basta.

Isso porque muitas vezes a vítima dessa relação tóxica não encontra forças para sair dele. Sendo assim, a pessoa precisa encontrar recursos para recuperar a própria independência.

“Começa com coisas simples. Por exemplo, se geralmente o parceiro faz as compras no supermercado, comece a ir por conta própria. São ações práticas para ir ganhando autonomia”, apontou a psicóloga.

Ela também explicou que é comum que se tenham sequelas durante algum tempo, como sentimentos de ansiedade e baixa autoestima. No entanto, “a pessoa precisa continuar nesse caminho de fortalecimento pessoal de busca de autonomia até realmente sair das marcas dessa relação”, complementou.

Por fim, Nádia destacou que é importante que as denúncias de vítimas sejam ouvidas e que haja punição para o agressor.

Além disso, ela pontuou sobre a necessidade da pessoa agredida construir uma rede de apoio psicológica, com acompanhamento psicoterapêutico e superar essa relação que lhe foi tão prejudicial.

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