Conheça história de médico anapolino que se tornou referência nacional em tratamento com maconha
Mattheus da Veiga Jardim adentrou ao mundo da cannabis medicinal após a mãe desenvolver um quadro de esclerose múltipla
Assunto polêmico, a cannabis medicinal sempre retorna aos debates no Brasil. Seja discutindo a eficácia do produto, ou até os “poréns” relacionados à maconha.
Em contramão às polêmicas, o médico anapolino Mattheus Duarte da Veiga Jardim (@dr.cannabiotico), de 31 anos, enxergou na erva uma chance de ajudar pessoas com casos sensíveis.
A experiência com o medicamento se iniciou no passado, após a mãe do profissional desenvolver um quadro de esclerose múltipla.
“No Brasil, conseguir o medicamento para tratar essa condição era praticamente impossível. Quando possível, os custos eram altíssimos e inviabilizavam qualquer tratamento”, explicou, em entrevista ao Portal 6.
Assim, ao se mudar para Buenos Aires, na Argentina, em 2013, Mattheus teve o primeiro contato direto com a cannabis medicinal.
No país vizinho do Brasil, ele conheceu o projeto “Mama Cultiva”, onde mães de crianças com múltiplas comorbidades plantavam cannabis em casa de forma independente e, em seguida, se uniam para produzir óleo medicinal e distribuí-lo entre as famílias.
“Fiquei profundamente tocado por essa iniciativa e decidi me aprofundar no assunto. Fiz vários cursos oferecidos pela associação e, finalmente, consegui o medicamento de forma acessível para minha mãe”, contou.
Três anos depois, em 2016, o jovem voltou ao Brasil, mas, devido às dificuldades para trabalhar com a erva no país, não conseguiu dar continuidade imediata ao sonho.
Dessa forma, o médico começou a se envolver na área de cirurgia plástica, à qual era muito ligado durante a graduação, ingressando posteriormente no serviço de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) aérea.
“Após deixar o serviço de UTI aérea, decidi me especializar ainda mais e ingressei em especializações de tecnologia em saúde e cannabis medicinal”, relembrou.
Atendimentos
Hoje, já imerso no mundo do medicamento, Mattheus Duarte atua oferecendo consultas online para pacientes de todo o Brasil.
Segundo ele, esses atendimentos servem para entender as necessidades específicas e individuais de cada paciente, desenvolvendo um plano de tratamento personalizado.
“Utilizamos [a cannabis medicinal] para tratar uma ampla gama de condições, como dor crônica, ansiedade, insônia, epilepsia, náuseas induzidas por quimioterapia, esclerose múltipla, entre outras”, pontuou.
“Também há um grande interesse crescente em seu uso para condições neurodegenerativas, como Parkinson e Alzheimer, com resultados muito promissores”, completou.
O que diz a legislação?
Apesar disso, ele relembrou que o plantio de cannabis medicinal ainda não é permitido em território nacional, a menos que haja uma autorização judicial para isso.
Contudo, o profissional destaca que o estigma do óleo de maconha para tratamentos médicos tem diminuído à medida que mais estudos são realizados e a ciência avança.
Por ser médico, Mattheus possui autorização para realizar a prescrição da erva, mas somente para fins que envolvam a saúde.
“No uso recreativo, o foco é nas propriedades psicoativas da planta, enquanto no uso medicinal trabalhamos com doses controladas e compostos específicos, como o CBD, para tratar condições de saúde específicas. O objetivo nunca é o efeito psicoativo, mas sim o terapêutico”, destacou.
Recomendações
Para quem considera o uso da cannabis medicinal, Mattheus reitera a importância de sempre fazer o acompanhamento com um profissional, visto que o produto é “uma ferramenta poderosa” — palavras do próprio.
“Busque sempre orientação médica qualificada. É fundamental que o uso seja monitorado de perto, com doses ajustadas às necessidades individuais de cada paciente”, disse.
Segundo ele, o medicamento precisa ser usado com cautela, pois, assim como outros remédios, possui contraindicações e efeitos adversos.
“A cannabis age principalmente por meio do sistema endocanabinoide, um sistema regulador do nosso organismo, envolvido no controle de funções essenciais como dor, sono, apetite e humor”, explicou.
Diante disso, o médico relembrou que não há limites para idades ou pacientes, dependendo unicamente de cada caso individualmente.
“Atendo pacientes de todas as idades e com diferentes graus de complexidade em relação à saúde. Muitos chegam até mim após tentarem diversos tratamentos convencionais sem sucesso, enquanto outros preferem optar por abordagens mais naturais, evitando o uso de medicamentos químicos”, pontuou.