Estudante goiana vence concurso de redação dos Correios após dedicar carta ao Papa Francisco

Na escrita, ela salienta problemas de poluição que têm impactado Oceano Atlântico

Gabriella Pinheiro Gabriella Pinheiro -
Estudante goiana vence concurso de redação dos Correios após dedicar carta ao Papa Francisco
Estudante Makelly Freitas e mãe Kele Freitas Ramalho. (Foto: Arquivo Pessoal)

Com apenas 15 anos de idade, a estudante Makelly Freitas de Lima, do 1º ano do Ensino Médio da escola Cecília Meireles, em Santa Helena de Goiás, foi a grande vencedora da etapa estadual do 54º Concurso Internacional de Redação de Cartas, realizado no Brasil pelos Correios. A conquista veio após a adolescente escrever uma carta dedicada ao Papa Francisco, que faleceu no dia 21 de abril de 2025.

Na edição deste ano, os participantes tiveram como tema “Imagine que você é o oceano” e deveriam escrever a alguém explicando por que ele deveria cuidar de você e como deveria fazê-lo. Na carta feita pela ganhadora, ela destacou a poluição ocorrida no Oceano Atlântico, que tem destruído corais.

“Senhor Papa, sofri muito nos últimos tempos e estou enfrentando mais desafios e problemas. Toda a superexploração da pesca, a destruição de recifes de corais e o descarte irregular de resíduos em mim são apenas alguns dos problemas que eu e meus irmãos estamos enfrentando. Minhas águas, que antes eram limpas, agora estão repletas de lixo e toxinas. Hoje carrego um peso enorme: a poluição”, diz um trecho.

Em entrevista ao Portal 6, a mãe de Makelly, a monitora de educação infantil Kele Freitas Ramalho, revela que a escolha de dedicar a carta ao Papa Francisco surgiu após a filha realizar uma pesquisa sobre pessoas influentes que poderiam comover a maior parte da população quanto à importância de cuidar do meio ambiente, além do mesmo ser um defesor das causas ambientais.

De acordo com ela, a participação no concurso foi sugerida pela própria escola, que enxergou, na adolescente, um potencial para a conquista do título.

“O que a motivou a participar é que ela sempre gostou muito de ler. Desde pequena, eu sempre a incentivei e, além do gosto por redação, ela gostou muito do tema e do fato de poder chamar a atenção das pessoas para a preservação da natureza”, destaca.

Como resultado, conforme o regulamento, tanto a estudante, de 15 anos, quanto a instituição de ensino receberão premiações de R$ 2,3 mil e R$ 2,5 mil, respectivamente.

A descoberta sobre a conquista da filha ocorreu quando Kele estava no trabalho. Segundo ela, ao saber que a adolescente havia conquistado o primeiro lugar, decidiu informá-la, o que foi um momento em alegria e emoção.

“Eu estava no trabalho quando recebi a ligação da escola me dando a notícia de que ela havia ficado em primeiro lugar no estado de Goiás. Fiquei muito emocionada, feliz e orgulhosa. Liguei para ela, e ela ficou sem acreditar no início. Depois, choramos juntas ao telefone, de tanta alegria. Nós sabemos a importância desse concurso, e é muita gratidão”, destaca.

Leia a carta escrita pela estudante: 

Santíssimo Papa Francisco,

Eu, o Oceano Atlântico, escrevo-lhe esta carta para pedir a ajuda bondosa de Vossa Santidade.Como líder espiritual e grande apoiador da causa ecológica, eu espero que o senhor possa me ajudar. Sei que sou de extrema importância para a existência da Terra. Sou uma fonte de vida e de biodiversidade. Existe uma variedade de espécies marinhas em minhas águas, que são essenciais para os ecossistemas marinhos e terrestres. Também sou importante para a regulação do clima. Por isso, cuidar de mim é de vital importância, pois, além desses fatores, sou responsável pelo equilíbrio natural, pela saúde humana e pela produção de oxigênio.

Eu e meus outros irmãos oceanos somos extremamente fascinantes e cheios de maravilhas naturais, temos polvos, grandes tubarões, anêmonas de plumas brancas e outras diversas maravilhas. Logo, cuidar de mim e dos demais oceanos envolve ações coletivas,
individuais, políticas e globais, e eu acredito que o senhor será capaz de induzir muitos indivíduos para me ajudar.

Senhor Papa, sofri muito nos últimos tempos e estou enfrentando mais desafios e problemas. Toda a superexploração da pesca, a destruição de recifes de corais e o descarte irregular de resíduos em mim são apenas alguns dos problemas que eu e meus irmãos estamos encarando.

Minhas águas, que antes eram limpas, agora estão repletas de lixo e toxinas. Hoje carrego um peso enorme: a poluição. Ela tem sido um dos problemas que mais tenho observado, com plásticos, esgoto, entre outras coisas jogadas em mim todos os dias, principalmente os plásticos.

Contudo, Santíssimo, quando jogados em mim, plásticos geram microplásticos que vão se desintegrando em pequenos pedaços, fazendo com que meus animais, como aves marinhas e peixes, os engulam a acabem mortos. Já estou cansado de ver minhas tartarugas engolirem sacolas plásticas e outros peixes sendo capturados de modo exagerado por redes enormes. Não são apenas vocês, humanos, que dependem de
mim, os outros seres vivos marinhos que estão aqui em baixo contam comigo para continuar sua sobrevivência.

Não serei só eu que pagarei o preço pelo lixo que os humanos depositam em mim; o futuro de todos também está em grande ameaça. Eu sou amplo, mas minha paciência tem limites. É desgastante ver a enorme quantidade de produtos químicos e resíduos industriais que são deixados em mim, como ocorreu em 25 de julho de 2020, quando um navio encalhado derramou toneladas de óleo nas ilhas Maurício.

Embora isso tenha ocorrido com meu irmão Oceano Índico, somos todos oceanos, somos todos uma só grade água. Vocês não entendem que essas substâncias podem envenenar meus animais e contaminar as cadeias alimentares, pois, quando ingeridas, essas toxinas se acumulam nos animais e, ao serem ingeridas por predadores ou até mesmo pescados, esses animais marinhos serão comidos por vocês, e isso causaria também uma alteração na própria saúde humana.

Não posso mais ignorar o aquecimento global, Senhor Papa, nem vocês, pois as temperaturas estão aumentando, minhas águas estão quentes e mais pesadas, meus corais estão sem vida, ficando cada vez mais brancos e menos coloridos. Meus peixes precisam dos corais, Santíssimo Papa, eles são seu abrigo e fonte de alimento.

Diante disso, a beleza e a biodiversidade que sempre foram meus tesouros estão sendo ameaçadas. Portanto, Senhor Papa, vou apresentar uma série de medidas que podem ser um caminho seguro para minha sobrevivência. Eu clamo por ajuda, pois não consigo me limpar sozinho. Preciso do Senhor e de sua influência em todo o mundo. Sou um sistema complexo e vital. Eu sei que essa transformação leva tempo, mas esses problemas não podem mais ser ignorados como se isso não estivesse afetando a todos. Tenho certeza de que a conscientização é um passo fundamental para garantir que eu e meus irmãos possamos continuar a fazer nosso papel. Além disso, peço a adoção de políticas político-sociais eficazes, em todas as nações, como a redução de plásticos, o incentivo a mais pesquisas sobre mim, a redução da emissão de gases de efeito estufa, as práticas de pesca sustentável, o apoio e a ajuda a ONGs que incentivam a sustentabilidade, a adoção de energias sustentáveis e renováveis. Também é importante que sejam criadas zonas de preservação fiscalizadas sempre, com turismo sustentável, proteção de recifes de corais, melhoramento da fiscalização de vazamentos, criando-se programas de limpeza costeira e
conservação de pelo menos 10% das zonas costeiras e marinhas.

Ao cuidar de mim, vocês, humanos, estarão garantindo um futuro saudável. Com isso será possível ajudar as gerações futuras. Eu envio esta carta especialmente ao Senhor,pois sei de sua extrema relevância na sociedade, e também sei que muitos indivíduos irão escutar sua voz pela preservação oceânica urgente.

Com os melhores cumprimentos,
Oceano Atlântico.

 

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