Por que pessoas estão deixando o DF e se mudando para Goiás nos últimos anos
Estudo da UnB avaliou principais pontos que contribuem para a movimentação de moradores


Um levantamento recente da Universidade de Brasília (UnB) revelou um movimento inédito: pela primeira vez, o Distrito Federal (DF) registrou saldo migratório negativo. Ou seja, mais pessoas deixaram Brasília do que chegaram.
Os principais destinos dessa nova leva migratória estão do outro lado da divisa: municípios goianos como Valparaíso de Goiás, Águas Lindas de Goiás, Novo Gama e Luziânia, localizados na chamada Região Metropolitana do Entorno (RME).
O estudo que constatou isso foi realizado pelo núcleo ObservaDF com base nos dados do Censo 2022 do IBGE, e foi apresentado durante reunião do Conselho Administrativo da Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Coaride).

Imagem mostra foto aérea de Valparaíso de Goiás, localizado no Entorno do DF. (Foto: Divulgação/ Prefeitura)
Segundo os dados, o alto custo de vida no DF, aliado à melhora dos serviços públicos em cidades vizinhas de Goiás, tem motivado moradores da capital federal a buscar uma vida mais acessível e estruturada no Entorno.
Historicamente, o fluxo migratório entre o Distrito Federal e os municípios próximos ocorria ao contrário — com famílias deixando o Entorno em direção a Brasília em busca de melhores oportunidades.
Contudo, os dados agora mostram o oposto, com a tendência se invertendo. Com uma população estimada em 1,2 milhão de pessoas, o Entorno tem se consolidado como alternativa de moradia, sendo um polo em expansão econômica e social.
Esse novo cenário é resultado de uma série de políticas públicas adotadas pelo Governo de Goiás nos últimos anos, como a chamada Secretaria de Estado do Entorno do Distrito Federal (Sedfgo), que dá uma atenção especial à localidade.
Por ali, também foram construídas novas escolas estaduais, a ampliação de hospitais e unidades de saúde, a presença mais ativa das forças de segurança e o incentivo ao pequeno comércio e à agricultura familiar têm contribuído para tornar a região mais atrativa.
Para o secretário da pasta, Pábio Mossoró, a migração deixou de ser um ‘êxodo’ — no sentido de fuga — e passou a ser uma escolha da própria população, que viram no local uma oportunidade.
Problemas persistem
Apesar disso, mesmo com este ‘esforço popular’, alguns problemas ainda rondam os moradores do RME, uma vez que muitos trabalham em Brasília e precisam enfrentar rotinas de deslocamento longas, caras e precárias.
Para se ter ideia, o mesmo estudo da UnB, que apontou a baixa no fluxo migratório para a capital federal, também identificou o transporte público como uma das maiores fragilidades da integração entre DF e Entorno.
Junto a isso, ações como a ampliação das linhas de ônibus, renovação da frota e tarifas mais acessíveis entram em debate — mas acabam em entraves, devido às dificuldades de negociações entre as duas partes.
“O Entorno é parte de uma metrópole compartilhada. Os desafios dessa região não pertencem apenas a Goiás ou ao DF. É preciso uma agenda comum que considere esse território como estratégico para o país”, disse o secretário.

Vista aérea de Luziânia, localizado no Entorno do DF. (Foto: Divulgação)
Também estão em curso projetos como a possível reativação do trem de passageiros entre Luziânia e Brasília e a implantação de sistemas BRT entre cidades do Entorno e a capital, incluídos no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Outro ponto de atenção é a necessidade de mais investimentos da União.
Municípios populosos como Valparaíso e Águas Lindas lidam com demandas típicas de grandes cidades. No entanto, a infraestrutura e a capacidade de arrecadação ainda são limitadas.
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