“Um abusador não é abusador só de uma pessoa”, afirma Isabella Joy sobre a importância de denunciar
Ao Portal 6, delegada titular do DEAM explica que o caso Nicodemos é um marco nesse tipo de inquérito
Na última terça-feira (13), o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO) condenou o médico ginecologista Nicodemos Júnior Estanislau Morais a 277 anos de prisão pelo crime de estupro de vulnerável contra 21 mulheres em Anápolis.
Inicialmente, ele foi sentenciado a 33 anos de prisão quando três mulheres o denunciaram. No entanto, o que o acusado não imaginou foi que a sentença seria aumentada por conta da coragem das primeiras mulheres, que inspirou as demais.
De acordo com a delegada titular da Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher de Anápolis (DEAM), Isabella Joy, o caso é um marco quando se fala da importância da denúncia.
“Ver que o autor foi preso e continua preso faz com que as mulheres acreditem na Justiça e se sintam mais seguras para notificar os casos de violência”, afirmou em entrevista ao Portal 6.
Isabella explica que, sem a denúncia, é impossível que a justiça seja feita, sendo que em casos de crimes sexuais, é mais importante ainda.
“Um abusador não é abusador só de uma pessoa. A palavra de uma vítima pode fazer que outras mulheres apareçam e ele irá pagar por todos os crimes”.
Além disso, considerando que crimes sexuais e de violência doméstica tendem a ocorrer dentro de casa, sendo os autores pessoas próximas da vítima na maioria dos relatos, é essencial levar o caso à delegacia para que a ajuda possa ocorrer.
A titular do DEAM aponta que o que leva a mulher a não denunciar é o medo. “Muitas vezes, o homem está em posição de poder, ou então ele ameaça a vítima e as pessoas ao seu redor. Sem falar da vergonha de afirmar que foi abusada”.
A subnotificação é um problema sério enfrentado pela delegacias especializadas, como aponta a delegada. Isabella acredita que apesar dos relatos de 21 mulheres, mais de 30 vítimas não se manifestaram no caso contra Nicodemos.
Diante do receio, há diversas formas de relatar violência, incluindo uma opção anônima, por meio do Dique Denúncia 180. Além disso, a mulher pode ligar à Polícia Civil de Goiás (PC), no número 197, e ainda comparecer ao DEAM para ser acolhida pessoalmente.
“Temos tentado nos capacitar cada vez mais para que haja o acolhimento necessário. Na delegacia, a mulher terá todo o apoio necessário”, finalizou Isabella.