Pastores de Anápolis podem pegar pena milenar por torturas em ‘campos de concentração’
Ao Portal 6, delegado explicou que casal já foi indiciado juntamente com funcionários que auxiliavam nos crimes
A Polícia Civil (PC) indiciou os pastores Angelo Mário Klaus e Suélen Amaral Klaus pelos crimes de tortura, sequestro e cárcere privado contra as 73 vítimas que estavam internadas nas duas clínicas clandestinas mantidas por eles – comparadas a ‘campos de concentração’ pelo delegado responsável pela operação, Manoel Vanderic.
Nesta sexta-feira (15), o Portal 6 conversou com o delegado lotado no Grupo Especial de Investigações Criminais (GEIC), Jorge Bezerra – que responde pelo caso no momento. Ele explicou como se deu a decisão e quais serão os próximos passos do episódio que marcou Anápolis e ganhou repercussão em todo o Brasil.
“Como o ato foi sob a investigação do Manoel Vanderic, ele entendeu que havia elementos suficientes para corroborar a prática desses crimes específicos. Portanto, eles foram indiciados com incurso nos crimes de cárcere privado e qualificado, uma vez que mantinham as vítimas idosas em ambientes insalubres, e por tortura”, detalhou.
Além deles, outros quatro funcionários, que não eram responsáveis pelas clínicas, mas tomavam parte nos atos de agressões e tortura aos pacientes, também foram indiciados e seguem em prisão preventiva.
“O pastor Angelo segue preso na cadeia pública de Anápolis e a pastora Suelen no centro prisional de Aparecida de Goiânia. Eles praticaram esses dois crimes, cujas penas são de 16 anos, mas como são diversas vítimas, o Ministério Público (MP) e o Poder Judiciário irão verificar se haverá algum concurso de crime”, complementou o delegado.
O investigador ainda apontou que, se o juiz entender cada vítima como um crime individual, eles podem pegar 16 anos por cada pessoa que eles torturaram, o que resultaria em uma pena de 1.168 anos.
Contudo, se houver o chamado “crime em concurso” – que seria uma ação contra várias vítimas – a pena partirá do mesmo prazo, porém, com uma cláusula de aumento, acordada entre promotor e magistrado.
Relembre
A descoberta das clínicas chocou todo o país pelas cenas deploráveis de idosos, pessoas com deficiência e dependentes químicos vivendo amarrados às camas, urinando em potes e nas próprias roupas, necessitando de cuidados médicos e alimentação adequada.
Ao todo, mais de 70 pessoas que estavam em cárcere privado foram resgatadas de casas geridas pela instituição, chamada Amparo Centro Terapêutico.
O primeiro flagrante aconteceu no dia 29 de agosto, seguido por outro considerado ainda “mais grave”, pelo próprio Vanderic – no dia 31. Em um primeiro momento, o pastor Klaus chegou a fugir.
A esposa dele, pastora Suelen Klaus, porém, foi presa juntamente com outros quatro funcionários que geriam os espaços. Já o pastor se apresentou às autoridades no último sábado (02) e, durante depoimento na delegacia, permaneceu calado.