“Nós estamos em um momento de reconstrução”, diz Angelita Lima, reitora da UFG

Ela é a convidada da semana do '6 perguntas para'

Pedro Hara Pedro Hara -
Angelita Pereira de Lima em entrevista ao 6 perguntas (Foto: Jordana Viana / Portal 6)
Angelita Pereira de Lima em entrevista ao 6 perguntas (Foto: Jordana Viana / Portal 6)

Reitora da UFG, Angelita Pereira de Lima assumiu a instituição em 2022 para um mandato até 2025. Passou pelo final da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os primeiros anos do presidente Lula (PT).

Após dois anos a frente da universidade, a reitora diz que a universidade está se “reconstruindo” e que agora está colhendo os frutos das apostas de expansão que foram feitas em 2023.

Apesar de um 2024 de fartura, a UFG neste ano passou pela greve dos servidores administrativos e docentes. Angelita lamentou o fato, mas celebrou que as atividades do Hospital das Clínicas (HC) não foram impactadas e que o calendário acadêmico foi ajustado com o calendário civil, pela primeira vez após a pandemia.

A reitora se posiciona contra a cobrança de mensalidade para alunos ricos. Possibilidade que foi ventilada pelo ex-ministro da Fazenda, Paulo Guedes, e que voltou a ser debatida com o atual titular da pasta, Fernando Haddad (PT).

A favor da política de cotas raciais e sociais, Angelita diz que houve estranhamento no início por preconceito, mas que 10 anos depois, a UFG está melhor do que quando houve a implantação, em 2014.

Sobre reeleição, a reitora prefere não comentar sobre o assunto, mas diz que independente de quem for escolhido, a universidade está “unificada”.

1. Você assumiu a reitoria da UFG num momento muito desafiador para o ensino superior no país. Como está o cenário hoje?

Angelita Lima: A universidade está se reconstruindo. Nós nos organizamos em 2023, fizemos 19 licitações, nos preparamos, apostamos corretamente de que viriam as condições para nós retomarmos os investimentos.

Foi um ano em que nós conseguimos ampliar as nossas captações por meio de emenda parlamentares, os ted’s que são as transferências, os termos de descentralização de recursos por meio de projetos. A universidade é muito requisitada em todas as áreas do conhecimento para é desenvolver coordenar projetos e soluções para a sociedade. Então nós ampliamos nesse campo.

Em 2023, nós contratamos de 19 obras de reformas para todos os campi e nos preparamos para as solicitações do PAC que vieram agora em 2024.

Nós fomos contemplados com três obras do PAC que somam R$ 32 milhões. Nós estamos nos preparando para as licitações, porque não basta ser contemplado, tem que fazer os projetos. Agora nós precisamos da licitação para receber os recursos. Nós já temos a dotação orçamentária para receber o financeiro para implementar os projetos.

O que eu posso dizer o seguinte: nós estamos em um momento de reconstrução e estamos muito otimistas. Otimistas no sentido de confiança de que o projeto do Ensino Superior no Brasil se torna de novo uma política pública forte e prioritária.

2. Como a recente greve afetou a comunidade universitária?

AL: As greves elas elas têm dimensões diferentes. Começou a greve servidores administrativos, em março. Da nossa parte, nós fizemos uma intensa relação com o comando de greve para garantir pelo menos as ações prioritárias, aquelas que não podem é parar de forma nenhuma, como os atendimentos na HC, ações administrativas que geram prejuízos na universidade nós tentamos assim é manter essa mantendo essa relação com o comando de greve pra que nós tivéssemos o mínimo de prejuízo.

O impacto é muito grande. Com o retorno da greve agora nós temos muitas licitações paradas, nós temos que nos desdobrar para dar conta, porque há uma perda de três meses de prazos, e prazo na administração é fundamental. E uma autarquia como a nossa que no final do ano nós temos que ter dado conta de implementar todo recurso orçamentário tem um impacto imenso.

Nas áreas acadêmicas e de pesquisa a ausência dos servidores nos laboratórios tem um impacto importante, então algumas disciplinas tiveram de ser canceladas ou adaptadas para não prejudicar a formação dos estudantes.

A paralisação mesmo se deu quando os docentes entraram em greve. Houve uma paralisação de 20 dias efetivamente e a nossa recomposição foi relativa a esse período da greve docente e discente que dá entre 20 e 30 dias. Neste momento de paralisação as atividades acadêmicas em geral quase todas pararam e isso nos impactou no calendário acadêmico.

Este ano seria o ano que nós iríamos coincidir o calendário acadêmico com o calendário civil pós pandemia. Essa organização ficou em risco, mas felizmente a decisão foi de estender o calendário em julho. Então as férias de julho ficaram prejudicadas, mas agora o calendário acadêmico vai até dia 10 de agosto e volta no dia 26 de agosto, o que nos permite encerrar o semestre no dia 21 de dezembro.

Então nós conseguimos manter no segundo semestre o programado, que é encerrar o semestre fazendo coincidir o ano letivo com o ano civil.

3. Você é a favor ou contra que alunos ricos paguem mensalidade em universidades públicas?

AL: Definitivamente não está na pauta do Brasil, na pauta do governo a cobrança de mensalidade nas universidades públicas. Se estiver na pauta, os gestores das universidades, dos IF’s certamente se posicionaram de maneira contrária, porque esse não é o mecanismo de financiamento de um ensino público.

Mais de 80% da produção científica do país é produzida pelas universidades. As universidades são instituições importantíssimas para a formação de qualidade e uma política pública estabelecida e garantida pela constituição. Isso não está na pauta, não devemos discutir sobre isso. Se por acaso estivesse, como esteve no governo anterior, não só a comunidade acadêmica, mas também os gestores e a comunidade externa posicionaria de maneira contrária, como nos posicionamos anteriormente.

4. Essa medida poderia ampliar a quantidade de vagas ofertadas?

AL: Não é a questão do pagamento que financia a educação ou que aumentaria as vagas. O que aumenta vagas na verdade é a expansão, é necessário que seja uma expansão coordenada. Qual é o problema do país? O problema da educação no país ele requer uma ação estruturante. Você não pode transferir para o indivíduo ou pra família a solução para isso. Da Educação Infantil ao Ensino Médio nós vamos perdendo estudantes, quando chega no Ensino Médio mais da metade dos estudantes não vão para o Ensino Superior já há uma evasão, uma quebra imensa.

Eu tenho certeza na medida em que toda estrutura da educação for se fortalecendo, da Educação Infantil ao Ensino Médio e Ensino Tecnológico, isso vai ter um impacto importante nas universidades.

Hoje a ampliação de vagas ela tem que se dar de uma maneira mais efetiva, do ponto de vista regional.

5. O que você diz para os que, mesmo diante do sucesso da reserva de vagas para minorias, são contra essa política de inclusão?

AL: Eu não acredito que ainda existam pessoas que sejam contra a política de inclusão. Uma coisa foi aquela reação no início, onde se tinha uma opinião baseada em preconceitos, de que baixaria o nível da qualidade da universidade.

A UFG é uma das primeiras a implementar a política de cotas por um programa muito específico feito na gestão do Professor Edward e da Professora Sandramara, como pró-reitora de graduação, que é o UFG Inclui. Então a opinião era baseada em um preconceito cultivado culturalmente, pelo pensamento estruturado pela forma como a população negra é excluída de acesso aos equipamentos de educação. A educação foi estruturada de forma elitizada.

A qualidade de ensino é o mais importante. O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), que fez a universidade crescer, atraiu pessoas comprometidas, docentes muito bem formados, criou laboratórios sofisticados. Então esses professores e técnicos puderam vir e aturar da melhor maneira possível.

A população que entra por cotas e recebe uma qualidade de ensino dessa envergadura o resultado só pode ser muito bom. Nós temos desafios, as defasagens de formação elas precisam ser enfrentadas. É uma questão para o Brasil inteiro, não só para UFG.

6. Pretende concorrer à reeleição?

AL: Esse não é um assunto deste momento, ele está na pauta do ano que vem. Eu não fui o primeiro nome da lista tríplice para assumir essa gestão. O nome eleito pela comunidade acadêmica foi o da Professora Sandramara Chaves, mas ela não foi nomeada.

Eu figurei em terceiro lugar na lista do Conselho Universitário (CONSUNI). A lista é legítima do ponto de vista da legalidade. É da prerrogativa do presidente escolher e infelizmente neste caso, ele não atendeu ao pleito da comunidade acadêmica, como fez com outras 20 universidades.

É natural que pensemos que a professora Sandramara tem o direito de querer, de figurar nesse processo. Como a  UFG ficou muito unificada nesse processo, a resposta que eu posso te dar é a seguinte: nós sairemos unidos e unificados. Essa gestão sairá muito unificada num processo seja com qual nome for.

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