Mãe denuncia tratamento recebido por filho autista em escola municipal de Anápolis: “burro, sonso e incapaz”

Mãe também afirmou que, no dia que ocorreu a prova do Governo Federal, que avalia os índices das escolas, ele foi impedido de realizar a prova

Samuel Leão Samuel Leão -
Mãe denuncia tratamento recebido por filho autista em escola municipal de Anápolis: “burro, sonso e incapaz”
Mãe denuncia tratamento inadequado de filho autista na rede municipal de Anápolis. (Foto: Reprodução)

Uma criança autista, de 7 anos, estudante do 2º ano na rede municipal de Anápolis, foi colocada para se sentar contra a parede, sem ver o quadro negro e separado dos outros alunos. Após descobrir que ele era até chamado de “burro, sonso e incapaz”, a mãe resolveu denunciar a situação para a Secretaria Municipal de Educação (Semed) e até para a Polícia Civil (PC).

Ao Portal 6, a genitora fez um duro desabafo, revelando o que ela considera como abusos cometidos contra o pequeno, em especial pela professora. Após conversar com o filho, ela descobriu que ele era posto na posição vexatória, na frente da turma toda, há cerca de 10 dias – descoberta que só foi possível após ela perceber que o caderno dele não estava sendo preenchido com as atividades diárias.

“Fui levar ele para a escola e, ao chegar lá, vi que ele estava com a mesa virada para a parede, entre a mesa da professora e o quadro. Eu perguntei e ele falou que foi a professora que o colocou nessa posição, falando também que já tava há 10 dias assim. A professora teria dito que ele iria ficar assim pelo resto da vida ainda, fiquei completamente indignada”, expressou a mulher, que não quis se identificar.

Ela ainda frisou que, mesmo com o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista, o pequeno frequentava as aulas sem o auxílio de uma cuidadora. Ele é o único da turma com tal condição, e tem de lidar com as aulas ministradas sem as devidas adaptações.

“A professora passa tarefas para todos os alunos, menos para ele, e já chegou a falar que ele é burro, sonso e que não é capaz. Ele só recebe o acompanhamento de uma professora especial no contraturno, a qual é ótima, mas infelizmente não tem sido suficiente. Ele não está nem recebendo tarefas para casa e nem preenchendo o caderno”, lamentou.

Ela se preocupa ainda mais em razão da condição, visto que ele é autista em grau 2 e, portanto, precisa de estímulos melhores para desenvolver as habilidades socioemocionais, visando uma melhor integração com os colegas e também uma melhor absorção dos conteúdos apresentados.

A mãe também afirmou que, no dia que ocorreu a prova do Governo Federal, que avalia o índice das escolas e que, coincidentemente, resultou em Goiás como o melhor estado do país, o filho dela teria sido impedido de participar e realizar o exame, supostamente pela mesma professora. Por fim, ela alega que todas as práticas tidas contra o pequeno configuram violência física e psicológica, inclusive no relato feito a PC.

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Anápolis e foi informada que uma sindicância já foi aberta para apurar o caso. Além disso, também foi citada a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015).

Segundo os termos da legislação, os cuidadores e profissionais de apoio devem atuar com estudantes que tenham perfil para tal, ou seja, que apresentem comprometimentos motores e sensoriais severos, necessitando de ajuda constante para locomoção, alimentação, higiene, cuidados pessoais e de manuseio, os quais não seriam necessários para o garoto que, portanto, não se enquadraria nas exigências legais.

Leia nota da Prefeitura de Anápolis na íntegra:

A Prefeitura de Anápolis informa que, após acolher a denúncia da mãe, feita ao Departamento de Ouvidoria da Secretaria Municipal de Educação, abriu uma sindicância para apurar o caso. A pasta considera sérias todas as denúncias e reforça o compromisso com a garantia de oferecimento de suporte adequado para todos os alunos. Vale ressaltar que, conforme a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), os cuidadores/profissionais de apoio devem atuar com estudantes que sejam perfil para tal, ou seja, apresentam comprometimentos motores e sensoriais severos e necessitam de ajuda constante para locomoção, alimentação, higiene, cuidados pessoais e de manuseio. A criança em questão tem autonomia e, portanto, não se enquadra nas exigências legais.

Samuel Leão

Samuel Leão

Jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás, com passagens por veículos como Tribuna do Planalto e Diário do Estado. É mestrando em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado pela Universidade Estadual de Goiás. Passou pela coluna Rápidas. Atualmente, é repórter especial do Portal 6.

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