Comerciantes do Camelódromo revelam clima de tensão após operação da PF e Receita Federal
Operação que ocorreu também em Goiânia e outras cidades do país teve saldo de R$ 10 milhões em mercadorias apreendidas
Após a Polícia Federal (PF) deflagrar a operação “Hidden Circuit”, na manhã desta quinta-feira (28), contra “coaches” que teriam formado uma organização criminosa para ensinar os seguidores a realizarem importações clandestinas de eletrônicos, um clima de apreensão teria se espalhado entre os Camelódromos de Anápolis e de Goiânia.
A operação teve um saldo de R$ 10 milhões em mercadorias apreendidas, desvendando a atuação do grupo nas cidades de Goiânia, Anápolis, Palmas (TO), Manaus (AM) e Confresa (MT). Entre comerciantes do mesmo seguimento, surge o temor que as fiscalizações se intensifiquem.
Ao Portal 6, um comerciante do camelódromo de Anápolis, que pediu para não ser identificado, contou que alguns empreendedores preferiram não abrir as portas hoje. Já outros, trabalham apreensivos.
“Muitos não abriram com medo de perder o fruto do seu suor, pois trabalhar e prosperar é muito difícil. A gente tem que vir de baixo para começar e vender mesmo com o lucro muito baixo”, desabafou.
O temor que, a qualquer minuto, viaturas se perfilem ao lado do camelódromo, e que se inicie outra atuação para fiscalização e a apreensão dos produtos, acompanha o dia dos trabalhadores da unidade.
“Acompanhamos as matérias sobre o caso, e aí surge uma preocupação de acontecer alguma coisa por aqui também. Mas, por enquanto, estamos trabalhando normalmente, com a graça de Deus”, expressou outra trabalhadora.
Histórico
Em abril de 2021, uma atuação de fiscalização, mas dessa vez municipal, apreendeu diversos produtos no camelódromo de Anápolis e terminou em confusão, após um estrangeiro que atuava na unidade se enfurecer com um dos fiscais da Postura.
Entre os atuais trabalhadores, o caso ainda é lembrado, e visto como um episódio fatídico. Na época, um senegalês, de 35 anos, ficou muito exaltado ao ter as mercadorias apreendidas.
Investigação
A quadrilha, desarticulada neste quinta-feira (28), possuía divisão de tarefas especializadas entre os membros, contando inclusive com empresas para fazer movimentações financeiras milionárias, por meio de criptomoedas, de forma a realizar a lavagem do dinheiro.
Segundo a Receita Federal, o prejuízo aos cofres públicos causado por essas transferências pode chegar ao valor de R$ 80 milhões por ano em tributos sonegados. Os influenciadores ministravam cursos e ensinavam os usuários a realizar a compra clandestina dos produtos sem recolhimento de impostos. Além disso, também orientavam as pessoas sobre o que fazer para se ocultar das autoridades estatais.
Esses coaches também se aproveitavam das quantias adquiridas de forma ilegal para ostentar uma vida de luxo na internet, com postagens de viagens e de carros importados. Os investigados irão responder pelos crimes de descaminho, organização criminosa, evasão de divisas, incitação ao crime e lavagem de dinheiro.