O que torna a Enel Goiás uma das piores concessionárias de energia elétrica do Brasil
Diretor da companhia contesta forma como o cálculo é feito. Especialista da UFG ouvido pelo Portal6 explica a metodologia usada pela Aneel
Pelo segundo ano consecutivo, a Enel Distribuição Goiás foi classificada como uma das piores concessionárias de energia elétrica do Brasil pela Agência Nacional de Energias Elétrica (Aneel).
A empresa deixou cada consumidor goianos quase 20h sem energia durante o ano passado, muito acima da média nacional, que foram 11h, e 6h acima do limite estabelecido pela Aneel.
Se vale um trocadilho, os goianos reclamavam da Companhia Energética de Goiás (Celg) “de barriga cheia”, pois a nova concessionária está na mesma classificação que a antiga empresa.
Critérios
Para entender melhor o ranking do órgão regulamentador, o professor Enes Gonçalves Marra, da Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação da Universidade Federal de Goiás (UFG), explica os critérios avaliados.
O especialista ensina que, para construção do ranking, a Aneel utiliza dois indicadores. “O DEC e o FEC são indicadores coletivos de continuidade, ou seja, são índices de desempenho calculados para um conjunto de consumidores”, afirma.
Segundo ele, o DEC representa a quantidade de horas que cada cliente ficou sem energia elétrica e o FEC é a frequência com que as interrupções aconteceram durante o ano.
“Se o resultado da Enel Goiás foi de 18,75h, significa que, em média, cada consumidor ficou sem fornecimento por 18h45 durante 2021. Mas, são índices médios, o que significa que alguns consumidores experimentam valores acima e outros abaixo”, explica.
Contestação
Apesar de estar mal colocada no ranking, o Diretor de Operação e Manutenção da Enel Distribuição Goiás, Ícaro Barros, contesta a maneira como o cálculo foi feito e afirma ele não reflete na qualidade do fornecimento de energia aos goianos.
“Eles fazem uma comparação entre a meta regulatória da duração e da frequência das interrupções com o resultado alcançado pela distribuidora. Então, se a empresa tem uma meta muito alta, ela vai estar bem colocada mesmo se os clientes ficarem mais tempo sem energia”, afirma.
O representante destaca que a meta da empresa é de 12h e, conforme o Termo Aditivo de Concessão, assinado em 2017, ela deve alcançar esse resultado no ano que vem. “Mas já estamos sendo comparados com o limite regulatório, o que nos deixa mal colocados no ranking”, disse.
Ícaro revela que, por exemplo, os consumidores de Anápolis ficaram cerca de 11h sem energia e os de Goiânia ficaram menos de 8h. “Entretanto, o tempo que os clientes da segunda melhor colocada no ranking foi superior a 15h”, contou.
“A gente não pode usar esse índice como um desempenho olhando para o benefício ao cliente, pois ele se compara com uma meta e com o tempo que o consumidor ficou sem energia de fato”, pondera.
Melhorias
A Enel assumiu a distribuição de energia em Goiás em fevereiro de 2017, após a privatização da Celg. A companhia garante que já investiu mais de R$ 4 bilhões na qualidade do fornecimento no estado.
“Nós temos feito um trabalho que é gradativo para que esse indicar saia das mais de 40h e seja reduzido ao longo dos anos. Nessa trajetória, reduzimos em 57,8% o tempo médio que o goiano ficou sem energia e, a partir de 2023, nós estaremos abaixo do limite regulatório”, afirma.
O professor da UFG argumenta que, para melhorar os indicadores, a concessionária precisar investir na melhoria da sua rede elétrica, ampliando a capacidade de potência das subestações de energia em áreas urbana e rurais.
“É necessário aumentar o número de ramais alimentadores na distribuição, criar alternativas de rotas de distribuição na rede, substituir os cabos nus por isolados, realizar poda de árvores e eliminar defeitos de rede em transformadores, fusíveis, isoladores e conexões”, indica.
Entretanto, o especialista alerta que isso fará com que o valor da tarifa de energia elétrica aumente e os consumidores, que já ficam quase quase 19h no escuro, poderão ficar mais descontentes com a empresa.