Abrigos de animais abandonados relatam descaso e omissão da Prefeitura de Goiânia

Contas no vermelho, superlotação e portas fechadas são a realidade para protetores independentes da capital

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
(Foto: Reprodução/Abrigo dos Animais Refugados)

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que há um cachorro para cada cinco habitantes, sendo que 10% são abandonados. Aplicado à população de Goiânia, seriam 140 mil cães que rondam as ruas enquanto o poder público se ausenta – sem contabilizar os felinos. A conta precisou ser feita com base em estatísticas, já que a Prefeitura de Goiânia não se prontificou a apresentar números dessa situação.

Superlotação e contas em atraso são figuras presentes diariamente nos abrigos da capital, que se queixam da falta de apoio da Prefeitura e chegam a fechar as portas. O Abrigo Lar dos Animais, por exemplo, recebeu ordem de despejo e acionou o Ministério Público de Goiás (MP) para que a prefeitura encontrasse um lar para os mais de 700 animais abandonados.

De acordo com a gerente do Abrigo dos Animais Refugados de Proteção Animal (AADARPA), Angelita Castro, o local, que acolhe em torno de 125 cães e gatos, possui uma despesa mensal de R$ 20 mil.

“O poder público não ajuda com nada. Faz mais é atrapalhar”, disse ao Portal 6. Todo o dinheiro é arrecadado por meio de doações, sendo que as contas não fecham e a gerência se apoia com os próprios recursos. Angelita explicou que, todos os dias, o AADARPA recebe 30 pedidos de ajuda e metade é de pessoas que querem entregar os próprios animais.

A fundadora da Focinho Caridoso, conhecida como Carla da Focinho, organizou a ONG para dar suporte para os abrigos em um cenário de omissão do executivo.

Atualmente, a organização possui aproximadamente 32 protetores independentes cadastrados, que cuidam de mais de 4 mil animais. “Trabalhamos para fazer o controle populacional e também para ensinar a importância da adoção responsável.”

A fundadora estima que Goiânia possui acima de 20 mil animais abandonados, no entanto, a Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) não atendeu a solicitação de um levantamento sobre o assunto.

Com despesas de R$ 12 mil ao mês, sem contar as doações de materiais e trabalho voluntário de 48 pessoas, a Focinho Caridoso conta inteiramente com ajuda do setor privado – e também fecha o mês no vermelho.

“Recebo pedidos de ajuda todos os dias, mas tento ensinar que deixar um animal em um abrigo não basta”.

Ao Portal 6, a presidente da Comissão dos Direitos dos Animais da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Goiás, Pauliane Rodrigues Mascarenhas, apontou que as pessoas possuem uma ilusão em relação aos abrigos, que muitas vezes não oferecem qualidade de vida aos animais. Como solução, há três opções: castração, animal comunitário e registro.

A figura do animal comunitário existe na lei, sendo ele um bicho cuidado por todos, vacinado, castrado, vermifugado e, de preferência, registrado, explica. Com o registro, o tutor que abandonar o pet responderia judicialmente pelo crime. “Tem o que fazer, mas ninguém quer se dispor.”

Aproveitando os holofotes sobre a cadelinha vítima de maus tratos em pet shop da capital, diversos projetos de lei foram encaminhados, cujos focos são fiscalizar o privado, enquanto o público segue à sorte, explica Pauliane. “É importante ter essa preocupação, mas tem que ter a contrapartida do próprio estado dar exemplo, o que não ocorre”.

Apesar a diversidade de passos para amenizar o problema, ele cresce a cada dia, junto com o descaso da Prefeitura – ao ponto do MPGO precisar intervir e exigir o acolhimento dos quase mil animais despejados, cujo prazo de 48h – para apresentar um solução ou recolher os animais – se encerra nesta sexta-feira (30).

Vale destacar que, segundo a advogada, é de responsabilidade da AMMA cuidar dos bichanos. Questionada ainda na última quarta-feira (28) pelo Portal 6 sobre o que a Prefeitura pode fazer para cuidar dos animais de rua, a agência não apresentou respostas.

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