Afinal, o que faz Goiânia ter a refeição completa mais barata de todo o Brasil?

Capital de Goiás foi eleita a mais em conta do ramo. Portal 6 ouviu especialistas para entender cenário

Thiago Alonso Thiago Alonso -
Pessoa se servindo durante almoço. (Foto: Canva)

Um levantamento realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Benefícios ao Trabalhador (ABBT) apontou que Goiânia é a capital com a refeição mais barata de todo o Brasil.

O custo médio para almoçar na capital de Goiás é, segundo a pesquisa, de R$ 37,18 – valor que vai na contramão da média nacional, cujo valor é de R$ 50.

Apesar de figurar em uma posição requisitada, o preço de um prato completo na “Terra do Pequi” sofreu um aumento de 12% em relação ao mesmo período de 2023.

Para tentar entender melhor as razões que levaram a esse cenário, o Portal 6 conversou com o especialista em economia agrícola, Ricardo Borges R. de Freitas, que explicou os principais motivos pelos quais Goiânia se destaca entre as outras localidades.

Polo agrícola

Segundo o professor universitário, um dos principais diferenciais da capital — e de todo o estado de Goiás — é o grande polo agrícola da região, que impulsiona o setor.

“Muitos dos insumos utilizados para a produção de proteína animal, bem como a produção de hortaliças e frutas, vêm diretamente de propriedades locais, em grande parte da agricultura familiar”, apontou o especialista.

Ricardo destacou que esses ‘facilitadores’, como custos logísticos, de transporte, armazenagem e transformação desses produtos, acabam impactando o valor final dos pratos, uma vez que eles estão próximos à cidade.

Outro ponto enfatizado pelo profissional é a competitividade do mercado de bares e restaurantes de Goiânia, o que ocasiona uma queda de valores para o consumidor final.

“Para atrair mais clientes, os donos costumam oferecer refeições de qualidade a preços bem competitivos, principalmente na alimentação considerada ‘comida caseira’”, disse.

Goiano raiz

Comida caseira esta que, segundo o economista, está enraizada na tradição gastronômica e cultural tanto dos goianienses quanto de Goiás como um todo.

“Goiânia tem uma forte cultura de valorizar a comida caseira e os pratos típicos da região, que são deliciosos e acessíveis, uma vez que muitos são considerados ‘pratos simples’, por não terem muito valor agregado”, relembrou.

“Isso faz com que as refeições sejam saborosas e, ao mesmo tempo, caibam no bolso de grande parte da população, que culturalmente gosta de sair algumas vezes na semana para comer fora”, completou.

O que dizem os restaurantes?

Apesar de concordar em alguns pontos com o economista, o empresário Emerson Tokarski, diretor do Cateretê Restaurante, não vê a região como um favorecedor para as baixas dos produtos.

“Na agricultura, os grãos são produzidos aqui, mas são ensacados e vão para outros estados. A mesma coisa para os frigoríficos, os animais são abatidos, vão para outros locais e voltam para cá, então não acho que tenha uma ligação”, ponderou o goiano, que também é vice-presidente da Abrasel Goiás, em entrevista ao Portal 6.

Contudo, ele ainda valida o fato dos insumos serem, sim, mais baratos no estado, muitas vezes influenciados pela grande concorrência. Concorrência essa que, inclusive, afeta diretamente os tickets médios dos clientes nos restaurantes.

“Nós trabalhamos principalmente com almoço. Temos duas unidades e ao redor do restaurante tem vários concorrentes. Então nossa tendência é segurar mais o preço, não podemos repassar tudo, porque se a gente aumenta de uma vez, acaba elevando muito os preços e a gente perde o consumidor”, destacou.

Concorrência desleal

Não o bastante, o diretor do Cateretê relembrou a informalidade, que é muito presente na capital de Goiás e afeta diretamente no dia a dia, como uma “concorrência desleal”.

“A gente vê muita informalidade também. Pessoas que abrem uma porta de casa, um quintal, não pagam os impostos, não têm uma estrutura que a gente tem, não têm uma cozinha, todo cuidado. Isso em Goiânia é muito forte e infelizmente puxa muito o preço para baixo”, disse.

Emerson sugere que a falta de capacitação e a gestão inadequada dos empresários também podem contribuir para os preços baixos, resultando em dificuldades para cobrir custos nos restaurantes, se não estiverem bem geridos.

“Às vezes, [os restaurantes] podem estar vendendo muito, mas com um preço de venda muito baixo e que nem paga os custos. Por isso a gente vê muitos restaurantes grandes, de nome, fechando as portas do nada”, pontuou.

Preço médio em Goiânia

Quando questionado sobre os preços praticados hoje no próprio restaurante, Emerson se disse ter ficado “surpreso” com a pesquisa divulgada pela ABBT, por se tratarem de preços muito próximos aos movimentos na empresa dele.

“Nós trabalhamos com comida a quilo e também à la carte. Nosso almoço está custando entre R$ 39 e R$ 79,90 o kg, mas às vezes comer um kg pode acabar sendo muito, então fechando a conta, o preço médio por pessoa acaba variando entre R$ 30 e no máximo R$ 40, muito próximo da pesquisa”, concluiu.

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