Fraude em bolsas de Medicina: em até 30 dias nomes de suspeitos devem ser revelados
Prefeitura de Anápolis acelera investigação após comissão anterior ser revogada por suspeita de afinidade com beneficiários


A Prefeitura de Anápolis deu um passo decisivo para acelerar a investigação sobre fraudes no Programa Graduação, que concede bolsas integrais para universitários de baixa renda, especialmente no curso de Medicina.
Uma nova comissão foi instituída para identificar, em até 30 dias, os nomes dos beneficiários suspeitos de burlar as regras do programa.
O grupo terá poder para recomendar a abertura de sindicâncias ou processos disciplinares após a análise das denúncias recebidas.
A medida foi publicada na edição de segunda-feira (28) do Diário Oficial do Município (DOM) e ocorre após a extinção da comissão anterior, criada pela Controladoria-Geral no início de julho.
Portal 6 apurou que essa primeira equipe foi revogada por ordem direta do prefeito Márcio Corrêa (PL), diante de suspeitas de que alguns de seus membros teriam relação com bolsistas investigados.
A nova comissão será formada por três servidores efetivos: Alaine Alves Valim, Bruno Rios Rolim e Valéria Cristina de Freitas. Eles terão um prazo inicial de 30 dias, prorrogável por igual período, para conduzir a apuração de maneira sigilosa.
A intenção da gestão municipal é esclarecer com rapidez o suposto esquema de manipulação do Cadastro Único (CadÚnico), falsificação de dados de residência e omissão de renda para obter os benefícios.
Entre os casos mais emblemáticos investigados está o da estudante de Medicina Gabriella Andrade Viegas de Arruda, da UniEVANGÉLICA.
Após obter uma decisão liminar para manter sua bolsa, ela teve o benefício suspenso por ordem do juiz Gabriel Lisboa, da Vara da Fazenda Pública Municipal.
O magistrado identificou, por meio de vídeos publicados pela própria aluna no TikTok, indícios de um padrão de vida incompatível com a realidade informada à Prefeitura de Anápolis.
As publicações mostravam viagens internacionais, rotina de treinos em academias caras e um estilo de vida luxuoso — elementos que contradiziam o suposto perfil de vulnerabilidade econômica necessário para receber a bolsa.
O juiz foi além e encaminhou o caso ao Ministério Público de Goiás (MPGO). Um agravante foi a descoberta de que a advogada responsável pela defesa da estudante era a própria mãe dela, Priscilla Silva de Andrade, servidora pública estadual com salário superior a R$ 8.400, o que, por si só, já ultrapassaria o limite permitido de renda familiar.
Além disso, o pai da aluna é empresário e ex-servidor do Instituto de Seguridade dos Servidores Municipais, enquanto o avô é sócio de uma empresa com capital declarado de R$ 100 mil no mesmo endereço da família.
Desde o início de 2025, o Programa Graduação está suspenso por decisão da atual gestão, que denuncia a existência de um rombo entre R$ 7 milhões e R$ 10 milhões deixado pela administração anterior, comandada por Roberto Naves (Republicanos).
O atual prefeito, Márcio Corrêa (PL), já declarou publicamente que pretende encerrar de forma definitiva o programa e que todos os beneficiários envolvidos em fraudes serão judicializados para devolver os valores recebidos indevidamente.
A pressão sobre o caso aumentou após uma série de reportagens do Portal 6 revelar que estudantes de famílias com alto poder aquisitivo — filhos de empresários e fazendeiros — conseguiram acessar as bolsas mesmo sem preencher os requisitos legais.
Alguns chegaram a mudar de endereço para bairros mais simples apenas para atender aos critérios exigidos pelo programa, enquanto mantinham uma vida de luxo exposta nas redes sociais.
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