Professores e alunos denunciam merendas de baixa qualidade nas escolas municipais de Anápolis: “quase ninguém quer comer mais”

Profissionais relataram ao Portal 6 que precisam realizar vaquinhas, rifas e até tiram do próprio bolso para melhorar a alimentação dos estudantes

Maria Luiza Valeriano Maria Luiza Valeriano -
Professores e alunos denunciam merendas de baixa qualidade nas escolas municipais de Anápolis: “quase ninguém quer comer mais”
Imagem mostra alunos e professores da rede municipal de ensino. (Foto: Divulgação/Prefeitura de Anápolis)

Biscoito e leite de baixa qualidade, de segunda à sexta-feira. Segundo professores e alunos, essa é a merenda que diversas unidades municipais de ensino estão proporcionando, majoritariamente, aos alunos em Anápolis. Em um cenário em que muitos estudantes contam com a escola para se alimentar, a pobreza de nutrientes causa preocupação.

Ao Portal 6, uma professora, que atua há 16 anos na rede, apontou que “lá onde trabalho, é só pão e bolacha no café da manhã. Não tem fruta e nem variedade. No almoço, a carne é misturada ou no feijão ou no arroz, porque não tem o suficiente”. A denúncia diz respeito à Escola Municipal Ayrton Senna, localizada no Conj. Hab. Filostro Machado Carneiro – região Leste da cidade.

Segundo um aluno do 5º ano da Escola Municipal João Luiz de Oliveira, situada na região Central do município, “raramente dão uma melancia ou abacaxi depois do lanche. Ninguém está querendo comer lá mais. Quase nunca tem carne. Teve um dia só, que era carne moída e arroz”.

“As crianças acabam enjoando. Comem porque é o que tem e muitos vão sem tomar café. A realidade da escola pública é essa. Muitos nem jantam na noite anterior. As refeições nas escolas podem ser as únicas”, disse uma professora.

De acordo com a profissional, embora a presença de carne sempre tenha sido escassa, os cafés da manhã eram mais completos antes da pandemia da Covid-19. “Tinha frutas, peta, bolo, pão, bolacha”, destacou, assim como o estudante, que confirmou a mesma situação na própria unidade.

Já um educador, que atua na mesma unidade, denuncia que a situação se agravou ainda mais na partir do primeiro semestre de 2023. “Muitas das escolas estão recebendo apenas bolachas e petas, além de um leite de uma péssima qualidade. Então não é seguido o cardápio de uma forma confiável”.

O homem apontou que falta até o básico. “Quando se tem pão, é repartido. […] Na minha escola, faltou gás recentemente”.

Outra educadora, que atua há quase duas décadas e atualmente trabalha no CMEI Professor Haroldo Antônio de Souza, na Vila São Vicente, relatou os mesmos desafios, principalmente em relação ao café da manhã. “O café da manhã é bem pobre e às vezes passam muitos dias servindo uma peta muito ruim. Como fica muito repetitivo, as crianças, quando veem aquilo até repugnam. O leite que servem também é muito ruim, não dá para tomar”.

Especialista

À reportagem, o nutricionista Wilson Lucas Martins explicou que uma alimentação balanceada, com frutas, carboidrato e proteína é essencial para o desenvolvimento da criança. “Uma alimentação pobre em nutrientes afeta no desenvolvimento, pode afetar na escola, na aprendizagem. Vai ser uma criança com dificuldade de absorver informações na aprendizagem”.

Neste cenário, os educadores afirmam que, diante da inatividade da Secretaria Municipal de Educação (Semed), é necessário realizar vaquinhas, rifas, juntar doações e até tirar dos próprios bolsos. “Fazem o melhor com o que têm”, finalizou uma.

Portal 6 pediu para que a Semed se posicionasse perante as denúncias e confirmasse que o cardápio atual foi aprovado por nutricionistas, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto.

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