Pacientes com HIV não estão recebendo tratamento completo em Anápolis
Apenas 3 médicos são responsáveis pelo acompanhamento de cerca de 2 mil pacientes, além de novas admissões diariamente
Aproximadamente um quarto dos pacientes HIV positivo que estão ativos no programa DST/AIDS de Anápolis não possuem acesso ao serviço completo ou consultas médicas frequentes devido à falta de profissionais. Ao todo, são cerca de 500 pessoas que não recebem o acompanhamento devido e, neste ritmo, há risco de encerramento total da Unidade de Saúde Ilion Fleury, de acordo com o médico infectologista Marcelo Daher.
O programa atende uma média de 2 mil pessoas soropositivas, sendo que, atualmente, são cerca de 25 gestantes e 09 crianças. Ao Portal 6, o médico explicou que apenas três médicos atente o montante de pacientes.
No caso do atendimento pediátrico e obstétrico, apenas o especialista realiza o acompanhamento. Para além das pessoas que já são cadastradas, ainda há um caso novo por dia, segundo o infectologista.
“Temos pacientes que não conseguem passar por consulta médica, porque o volume é muito grande. Alguns são atendidos por enfermeiras, que libera medicação, mas é uma situação muito ruim”, detalhou. Além daqueles com HIV, a unidade ainda atende cerca de 300 pacientes com Hepatite C e 400 com Hepatite B.
No entanto, a falta de médicos é apenas um dos problemas sofridos na unidade, que deveria operar com uma equipe multidisciplinar composto pelas áreas de psicologia, assistência social, realização de exames e odontologia.
Contando com apenas uma psicóloga e uma assistente social, o centro odontológico se encontra em um estado ainda mais preocupante, incapaz de atender os pacientes por conta da falta de equipamentos e cadeiras estragadas, apontou Marcelo.
O laboratório, com apenas 12 profissionais, não consegue suportar a demanda alta. A própria estrutura física, que já não comporta tantos pacientes, está, literalmente, cheia de falhas. “Está muito ruim. Tem vazamento quando chove, principalmente em um dos consultórios, mas como não temos salas, não temos opção”.
De acordo com o médico, a situação se explica pelo desinteresse de potenciais profissionais, desmotivados pela falta de estrutura, e desinteresse da própria Prefeitura de Anápolis.
A unidade recebe um aporte mensal do Governo Federal de R$ 45 mil. Porém, o valor seria apenas um apoio para as despesas de ações de prevenção, testagem, impressões e compra de materiais como tubos de coleta de sangue, apontou Marcelo.
“Só um médico a mais já ajudaria. Dois seria ideal, poderia satisfazer a demanda. […] Não estamos nem caminhando para um desmanche. Já estamos desmanchados”, disse.
“O que seria necessário para sanar o problema é vontade política. […] Atendo desde 1996, atendia sozinho, e eu nunca achei que o encerramento das atividades pudesse acontecer. Mas, hoje, está mais próximo de acontecer, porque o numero de paciente é muito grande e não vejo perspectiva a curto prazo”, desabafa.
A reportagem buscou um posicionamento da Secretaria Municipal de Saúde de Anápolis (Semusa), mas não obteve resposta até o momento. O espaço segue aberto.