Pit bull: especialista de Anápolis explica sobre raça e dá dicas de convivência com crianças
Muito por conta do grande porte e da força da mordida, raça angariou má fama ao longo dos anos


Recentemente, casos de ataques envolvendo cachorros da raça pit bull em Goiás ganharam atenção na mídia, como o do bebê de apenas 10 meses que foi morto pelo cão da família em Goiânia, ou o da tutora Stefane Xavier, também atacada e morta pelo próprio pet, no município de Cidade Ocidental.
O que ambos os episódios têm em comum, além da raça do animal, é o fato de que os ataques aconteceram com cachorros domésticos que já tinham prévia convivência com o ambiente familiar.
Com isso, diversos comentários questionaram a segurança em se ter um pit bull ou mesmo se a raça sequer deveria ser legalizada para criação.
Diante desse cenário, o Portal 6 conversou com o adestrador anapolino Jairo Almeida, que há 32 anos atua na área e realizou diversas exposições especificamente voltadas para a criação de pit bulls. Na avaliação do especialista a raça, por si só, não é de natureza agressiva, ao contrário de outros cães.

Jairo Almeida atua como adestrador há 32 anos e possui vasta experiência no trato de Pit Bulls. (Foto: Arquivo Pessoal)
“Para início de conversa, na área de adestração, até de competição, o pit bull não é nem considerado um cão de guarda, mas sim um cão atleta, um cão funcional. Ao contrário de outras raças, por exemplo, que realmente são mais agressivas, como um pinscher ou um fila”, pontuou.
O que acontece, segundo Jairo, é que, embora outras raças sejam naturalmente mais violentas, a estrutura avantajada de um pit bull abre margem para que até os menores incidentes causem sérias lesões.
“Contextualizando, embora a gente veja muitos casos de pinschers violentos e territorialistas, a mordida não tem tanto impacto. Agora, um pit bull, qualquer avanço, qualquer mordida, por menor que seja, tem muito mais capacidade lesiva”, exemplificou.
Esse cenário caminha no mesmo sentido de um estudo realizado pela Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, publicado no Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, que aponta que vira-latas aparecem no topo da lista dos cães que mais provocam acidentes em humanos, representando 48,4% dos casos.
Em seguida, vem o poodle, com 7,4%, e o pit bull apenas em terceiro, com 5,9% dos casos.
Ainda, por se tratar de um cão de porte atlético, ele comentou que vários ataques envolvendo a raça se dão em casos em que os tutores não oferecem um espaço adequado para que o animal possa gastar essa energia de forma saudável.
Sem alternativas e não podendo extravasar essa euforia em atividades funcionais, qualquer cachorro — e não apenas o pit bull — tende a ficar mais agressivo.
E quando o pit bull já é agressivo?
Condicionamento é a palavra-chave. Jairo explicou que, para qualquer cão, é muito importante o animal estar habituado e familiarizado com a rotina do lar.
No caso de cães que já chegam a um centro de adestramento com um comportamento mais agressivo e violento — ainda mais pit bulls, com maior porte físico — é importante socializá-los com outros cachorros, sempre utilizando guia e enforcador.
Por mais que o histórico seja complicado, ele acredita que não existem “casos perdidos”.
“É muito mais fácil um agressivo ficar manso do que um manso ficar agressivo. Mas, para isso, precisa do engajamento do tutor, que ele participe do processo. Não adianta largar o cão no centro de adestramento e achar que vai melhorar. É muito importante fortalecer esse vínculo”, disse.
Pode deixar o cão sozinho ou “tomando conta” de bebês?
Outro ponto levantado pelo adestrador foi o de acidentes fatais envolvendo pit bulls e bebês ou crianças pequenas. Para ele, existem basicamente dois cenários distintos: se o cachorro foi adotado em um lar ainda filhote, ou se o animal já estava na família antes da chegada do bebê.
“Se a pessoa compra o filhote de pit bull e já tem um filho, bebê ou criança pequena, é sempre mais fácil a convivência, mas precisa começar desde cedo: alimentar junto, ver como brincam, sempre atentos”, destacou.
Logicamente, ele pontuou que, em casos de cães que nunca tiveram contato com crianças e, de uma hora para outra, passam a conviver com bebês, por exemplo, não é justo esperar que o animal “magicamente” aprenda como se portar.
Independentemente do cenário, Jairo destacou que é completamente seguro deixar o cão próximo a crianças pequenas, desde que tenham um treinamento adequado. É muito importante não confiar no cão simplesmente por ele “já ser da família”.
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