Por que panificadoras estão fechando em Anápolis?

Diversos fatores podem ser vistos de fora e se tornado consenso entre empresários

Thiago Alonso Thiago Alonso -
Pão francês, em panificadora (Foto: Ilustração/Canva)
Pão francês, em panificadora (Foto: Ilustração/Canva)

Nos últimos dias, moradores de Anápolis foram surpreendidos com o anúncio de fechamento de duas panificadoras tradicionais da cidade: a Panificadora Bom Jesus e a Artesanato do Pão, ambas com décadas de história.

Panificadora Artesanato do Pão anunciou que irá encerras as atividades. (Foto: Davi Galvão)

Panificadora Artesanato do Pão anunciou que irá encerras as atividades. (Foto: Davi Galvão)

Os problemas enfrentados pelos estabelecimentos são praticamente os mesmos, com proprietários se queixando de altos custos de produção, aluguéis e escassez de mão de obra.

Para a economista e professora universitária Eva Cordeiro (@eva.cordeiro_), os fatores são múltiplos e podem ser percebidos até mesmo por quem está de fora do setor.

“Está muito alto manter um negócio. O custo de produção está altíssimo, tem uma grande rotatividade e dificuldade de mão de obra qualificada, e também uma mudança no perfil de clientes”, explicou, em entrevista ao Portal 6.

Economista e professora universitária, Eva Cordeiro. (Foto ReproduçãoRedes Sociais)

Economista e professora universitária, Eva Cordeiro. (Foto Reprodução Redes Sociais)

De acordo com a economista, o padrão de consumo da população mudou desde a pandemia e este comportamento, era esperado somente para aquele período, acabou vindo para ficar.

Dentre as mudanças está a falta de hábito de ir às padarias, que eram comuns em tempos diferentes, quando as pessoas costumavam acordar cedinho para comprar pão.

Segundo Eva, hoje, a maior parte dos supermercados contam com panificadoras internas, levando os clientes a comprarem tudo no mesmo lugar, com uma facilidade que os tradicionais empreendimentos não tinham.

A economista ainda cita outras dificuldades, como a falta de atualização no mercado, onde é preciso ficar atento ao setor do delivery, que tem crescido bastante desde a pandemia — e as panificadoras no geral tem enfrentado resistências à se adaptar.

Ela ainda cita o caso da Mend’s BBQ – Burguer e Steak House, localizado na Avenida Bernardino Silva, que apesar de não ser uma padaria, também fechou as portas.

“O comércio on-line afeta diretamente, principalmente no caso da hamburgueria. Antes, tinha um número de pessoas que saía para comer, mas diminuiu esse padrão com o delivery que surgiu na pandemia. Desde então ele não retrocedeu”, destacou.

Mais custos

Aliado a isso, o alto custo dos fornecedores tem sido outro fator determinante, sendo que a produção saltou para valores alarmantes, fica quase impossível sustentar.

“O custo da matéria-prima subiu muito para as panificadoras com a alta do dólar. Principalmente porque o trigo é cotado em dólar e pelo menos 90% do que é feito em uma padaria vem do trigo”, explicou.

Para conseguir manter a clientela, é preciso que os preços sejam atrativos, mas com custos cada vez mais altos, a margem de lucro fica quase ínfima, sendo que em algum momento ela praticamente desaparece.

Aliado a isso, a economista pontua o valor dos aluguéis como fator determinante, uma vez que, muitas vezes, os comerciantes precisaram tirar uma boa parte do lucro — que já tem diminuído — para bancar estes custos.

O que já é caro por si só, tende a ser ainda mais elevado em bairros bem localizados como o Jundiaí e o Setor Central, onde a demanda é crescente.

“O aluguel tem um impacto muito grande. Para gerar um lucro em um aluguel de R$ 10 mil, é preciso vender muito bem. E para conseguir vender R$ 10 mil em pão não é brincadeira!”, brincou, alertando.

Trabalhador em panificadora. (Foto: Ilustração/Canva)

Trabalhador em panificadora. (Foto: Ilustração/Canva)

Não o bastante, Eva pontua outro fator: a mudança no comportamento dos trabalhadores, que não buscam mais se fixar em empregos como eram há 25 ou 50 anos, como quando estas empresas surgiram.

“Todos os empreendedores têm reclamado de uma dificuldade muito grande de conseguir mão de obra, a rotatividade tá muito. Hoje você não vê mais aquele funcionário antigo, que se aposenta na empresa”, pontuou.

Apesar disso, as poucas panificadoras clássicas que ainda restam em Anápolis, tentam se adaptar e se reinventar. Dois exemplos são as já citadas Artesanato do Pão e Panificadora Bom Jesus – sendo que a primeira aposta no delivery e a segunda em um novo ponto.

Panificadora estava aberta desde 1974. (Foto: Google Street View)

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